Por Fernando Brito
Das mensagens obtidas pelo The Intercept e publicadas hoje pela Folha.
“Acho que tem que prender o Leo Pinheiro. Eles falam pouco.”
A frase do procurador da República Januário Paludo, um dos ais
destacados da chamada Força Tarefa da Operação Lava Jato, resume o
espírito que marcou mais de um ano de “negociações” entre a Procuradoria
Geral da República: só haveria benefícios para “o empreiteiro com mais
prova contra si” – José ademário, aliás Leo Pinheiro, da OAS – se este ”
entregasse” o ex-presidente Lula.
Para isso, valia usar a prisão do executivo, até que ele concordasse em fornecer alguma acusação contra o petista:
“Januário Paludo – 12:21:54 – Acho que tem que
prender o Leo Pinheiro. Eles falam pouco. Quer dizer, acho que tem que
deixar o TRF prender.”
Depois de meses, a OAS apresenta – curiosamente,
através da revista Veja – o que está disposta a dizer: que haveria uma
“conta” clandestina em favor de Lula, versão mantida até o final como
justificativa da suposta vinculação do triplex do Guarujá com os
contratos da Petrobras – algo que jamais fora mencionado nas conversas
entre a OAS e os prucuradores :
Anna Carolina (Garcia) – 19:52:11 – Tinha isso de conta clandestina de Lula? 19:52:19- Esses Advs não valem nada
Jerusa(Viecili) – 19:53:02 – Não que eu lembre
Ronaldo ( Queiroz)- 20:45:40 – Também não lembro. Creio que não há.
Sérgio Bruno ( Cabral Fernandes) – 21:01:10 –
Sobre o Lula eles não queriam trazer nem o apt. Guaruja. Diziam q não
tinha crime. Nunca falaram de conta.
A “plantação” de suspeitas através de vazamentos era, para alguns
procuradores, “uma estratégia dos advogados para despertar interesse
pela proposta e torná-la irrecusável para o Ministério Público”. Outra –
que saiu pela culatra – teria sido o pagamento de propina, na forma de
obras de impermeabilização em sua casa, do ministro José Carlos Dias
Toffoli.
E como não havia materialidade alguma no que os advogados de Léo
Pinheiro traziam aos procuradores, durante mais de um ano as conversas
não renderam acordo formal mas, afinal, com a alegação das reformas e de
um suposto pedido de destruição de provas, a promessa de um, assim
mesmo com muita prudência, para não evidenciar a barganha obtida com
ele:
Deltan (Dallagnol)-17:10:32 -Caros, acordo do
OAS, é um ponto pensar no timing do acordo com o Léo Pinheiro. Não pode
parecer um prêmio pela condenação do Lula.
A única “prova” contra Lula, o depoimento do empreiteiro – que agora se vê como foi extraído – desmoronou estrepitosamente.