O deputado cassado
Eduardo Cunha (PMDB) afirmou, na quinta-feira (20), a seus advogados que
está disposto a prestar informações para colaborar com as investigações
da Operação Lava-Jato. "Eu quero falar, eu vou falar", teria afirmado o
ex-presidente da Câmara, de acordo com informações do Valor.
A
reportagem destaca que a intenção inicial de Cunha seria de depor sem
fechar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal
(MPF). Os defensores de Cunha, no entanto, o alertaram para as
implicações decorrentes da confissão fora de uma colaboração.
Processado
por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-deputado está sujeito à uma
sentença que, em tese, pode ultrapassar 20 anos, caso o juiz federal
Sergio Moro opte por condená-lo às penas máximas previstas pelos delitos
a que responde.
Ainda de acordo com o Valor, Cunha já foi
informado por seus advogados de uma exigência da qual o MPF não abre mão
para começar a conversar sobre um eventual acordo, caso haja interesse
por parte dos procuradores: ele terá de concordar com o cumprimento de
um período mínimo de três anos, em regime fechado, se de fato passar à
condição de delator da Lava-Jato - e o acordo for homologado.
A reportagem destaca que desde que foi encarcerado na custódia da Polícia Federal (PF) em Curitiba,
na quarta-feira, Cunha teve conversas longas e tensas com integrantes
de sua equipe de advogados. Em um dos diálogos, um dos defensores deixou
clara a situação do ex-deputado.
"A
questão agora é preservar a sua família, salvar a sua mulher. Por
enquanto, é preciso esquecer a vida pública", disse um deles, segundo o
relato de uma fonte próxima de familiares de Cunha.
O Valor
destaca que desde que foi preso, Cunha teve rompantes de raiva durante
as conversas com os advogados. Ele disse repetidas vezes que quer
entregar o que sabe sobre supostos ilícitos que envolveriam Moreira
Franco, secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos e
figura importante do governo do presidente Michel Temer. Moreira Franco
tem negado qualquer envolvimento em irregularidades.
Ainda segundo a reportagem, em outro momento
de explosão Cunha teria dito aos advogados que dispõe de informações
para "arrebentar" com parte do setor privado, e mencionou a ocorrência
de irregularidades que envolveriam as áreas de telefonia, portos além de
problemas na edição de medidas provisórias - suspeitas de
irregularidades em MPs editadas nos governos Dilma Rousseff e Luiz
Inácio Lula da Silva já são investigadas pela Operação Zelotes e pela
própria Lava-Jato.
Lava Jato: patrimônio de Cunha pode ser 53 vezes maior que o declarado
A
força tarefa da Operação Lava Jato indica que o deputado cassado
Eduardo Cunha (PMDB) pode ter um patrimônio até 53 vezes maior do que o
declarado. Há ainda a suspeita de que Cunha possa ter contas ainda não
identificadas nos Estados Unidos.
As suspeitas dos procuradores da República se baseiam nas informações
obtidas por meio da cooperação internacional com o Ministério Público da
Suíça. Foram identificadas quatro contas, sendo três vinculadas ao
peemedebista e uma a sua mulher Cláudia Cruz, que já renderam denúncias
na Lava Jato.
No documento de abertura de uma destas contas, a Triumph, no Banco Suíço
Julius Baer, em 2007, o peemedebista declarou possuir um patrimônio de
US$ 20 milhões. Naquele mesmo ano, Cunha declarou ao Imposto de Renda
ter um patrimônio de R$ 1,2 milhão.
Em 2008, Cunha abriu outra
conta, a Orion SP, no Banco Merril Lynch na Suíça (atual Julius Baer) e a
própria instituição financeira avaliou seu patrimônio em US$ 16 milhões
"proveniente de investimento no mercado imobiliário e na bolsa de
valores". No mesmo ano, Cunha declarou que o patrimônio seria de US$ 11
milhões.
"Ademais, há informação da gerente da conta de que o
conhece (Eduardo Cunha) há 6 anos, de que é cliente do Merril Lynch por
20 anos, bem como também proprietário das contas Orion, Triunph,
Netherton e Kopek (todas estas já identificadas na Lava Jato)",
assinalam os procuradores da República, que acrescentam:
"As demais
contas suíças foram fechadas pelo ex-deputado federal, sendo que
permanece oculto um patrimônio de aproximadamente USD 13 milhões. Também
não se tem conhecimento da localização das possíveis contas existentes
em nome de Eduardo Cunha nos Estados Unidos, constando dos documentos
suíços que a conta no Merril Lynch em Nova Iorque teria sido fechada no
ano de 2008."