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ESCLARECIMENTO A TODOS OS INTERESSADOS

  • Alguns pontos sobre o custo da vinda do Papa Francisco ao Brasil.

    1 -A vinda do papa é custeada pela inscrição da jornada.

    2 - Segurança é mais que obrigação do governo, afinal 75% jornada são estrangeiros, logo o governo deve garantir a segurança deles.

    3 - TODO PAPA É CHEFE DE ESTADO E DE GOVERNO.
    Portanto é dever civil de todo Estado que acolhe o Papa oferecer-lhe a segurança máxima para sua vida, assim como é mesmo dever oferecer a QUALQUER OUTRO que faça visita oficial ao país.

    4 - Os Ganhos com a vinda do Papa ao País será em torno de mais de R$ 300 milhões.

    5- Não há nenhum investimento do Governo na Jornada. Os Peregrinos que vêm serão acolhidos em Casas de Família, em alguns alojamentos públicos como casas de festa, escolas particulares e escolas estaduais.

    Nessas, toda a responsabilidade será da Paróquia que estiver na sua 'coordenação', não havendo nenhuma participação dos órgãos governamentais em limpeza ou manutenção.

    6 - O Papa ficará hospedado no Sumaré, que é mantido pela Arquidiocese do Rio de Janeiro.

    7 -Todos os gastos da Jornada estão sendo custeados pelo próprio Instituto Jornada Mundial da Juventude, por meio de contribuição dos católicos, voluntários e Peregrinos, que pagaram pela inscrição e ainda contribuíram com um Fundo de Solidariedade, que está destinado a colaborar na construção de toda a Jornada.

    Logo, não há investimento nem do Município, nem do Estado, menos ainda da instância Federal.

    10 - Na verdade, a Jornada está sendo usada como um "evento-teste" para provar que o Rio tem capacidade de receber grandes eventos e grande quantidade de pessoas.

    O dinheiro que será gasto pelos governo Federal, Estadual e Municipal com a vinda do Papa ao Brasil para a JMJ RIO 2013 será investido na melhoria da segurança, transporte e infraestrutura. Ao invés de estarem reclamando eles estão "adorando" pelo fato de que isso irá melhorar o transporte do Rio (que é precário), a segurança (como a instalação de UPP'S nas favelas) e o mais importante (para os governos): IRA AUMENTAR A ECONOMIA E O TURISMO tanto no Estado quanto na cidade do Rio de Janeiro. Quantos jovens (não só) irão querer voltar para o Rio de Janeiro? Quanto os jovens não irão gastar na cidade? Por exemplo, uma pesquisa feita disse que DURANTE A JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE os restaurantes ganham em 5 dias o que eles ganhariam em 5 meses.

    A Igreja irá arcar com suas próprias despesas. Até mesmo, a Aquidiocese do Rio contratou 2 mil seguranças particulares que serão pagos com o DINHEIRO DA IGREJA para a segurança dos peregrinos durante a Vigília e a Missa de Envio no Campus Fidei. Além disso, isso é "pouco" pelo que o governo terá que investir com a Copa do Mundo em 2014 e com as Olimpíadas em 2016.

    A ‪#‎JMJRio2013‬ não trará gastos para o Rio de Janeiro, mas apenas lucros . Olhemos para todo comércio, infra estrutura, hotelaria, restaurantes, lojas...e muito mais, que serão beneficiados. Assim foi em todos os países por onde passou a Jornada.

    ESCLARECENDO EQUÍVOCOS!

    Desde já seja bem vindo Santo Padre Papa Francisco!
    A casa é sua...literalmente...o povo católico deste país lhe espera de braços abertos.

    Compartilhemos a verdade sobre a vinda do Papa, é nossa missão!

Mauro Santayana põe ponto final no assunto papa!

O Papa e os filhos de si mesmos

Mauro Santayana
Qualquer seja a verdade, o papa foi eleito conforme as regras tradicionais, e não há poder na Terra que o destitua. As leis canônicas não prevêem o impeachment do bispo de Roma. Resta esperar que o novo pontífice – título vindo do sincretismo do catolicismo com o paganismo romano – erga realmente uma ponte entre o cristianismo primitivo, que era dos pobres, e o mundo moderno. Se isso ocorrer, os seus pecados, se os houve, esmaecerão, e ele cumprirá o seu dever de católico e de cristão. O perdão, ele só poderá obter de sua própria consciência, onde Deus costuma habitar, se nela houver lugar para essa presença.

O mais importante não é o passado do papa. Depois de Pio XII, Wojtyla e Ratzinger, de nítidos laços com os poderosos deste mundo, o que os verdadeiros cristãos esperam do papa é que ele seja fiel ao Evangelho e conduza a Igreja ao reencontro com o homem de Nazaré que, em sua vida, martírio e morte, encarnou toda a fragilidade da espécie humana. A grande lição de Cristo,  que a Igreja nunca assumiu, é a de que a vida só é alegria e paz na solidariedade para com os nossos semelhantes.
Quando dividimos as dores do sofrimento alheio, as nossas próprias dores se aliviam, e o trânsito por este “vale de lágrimas” se faz mais suportável.  A Igreja se associou aos poderosos de cada tempo e, como lhe era conveniente, manteve instituições de caridade. Como alguns ricos, ela consolou sua consciência com a esmola. Os primeiros a receber o título de santos foram homens poderosos, que compraram a santidade com as sobras de suas riquezas.

Ao escolher o nome de Francisco, e de confirmar que buscava no poverello de Assis a inspiração de seu pontificado, Bergoglio dá um sinal importante de seu propósito, ou de sua astúcia. Não sabemos se, sendo sincero, ele será capaz de escapar ao acosso conservador e oportunista da Cúria Romana. Cabe-lhe, na hipótese da sinceridade - como chefe de uma instituição política - por mais herege pareça o conselho, seguir a orientação de Maquiavel, e agir com maior energia logo no início, a fim de preservar o principado conquistado. Isso significa reformar, de alto abaixo, a administração do Vaticano, com a convocação de prelados do mundo inteiro, de forma a conter o apetite de poder do clero italiano,  identificado com a história peninsular, construída nas conhecidas intrigas políticas europeias.   

Os grandes líderes se legitimam na ação. Forma-se, até mesmo alimentado de esperança, o consenso de que a Igreja terá que demolir seus alicerces milaneses e retornar às catacumbas romanas, para que possa sobreviver. Seus pecados repetidos, da simonia à luxúria,  não a levaram ao Inferno, ainda que muitos de seus dirigentes tenham lá chegado, na visão profética de Dante. É da teologia prática que a contrição absolve os pecadores. Se Francisco conduzi-la ao caminho de Damasco, é possível que, como Paulo, ela se desfaça da cegueira voluntária e atenda ao chamado de Cristo. É possível, mas pouco provável.

Um desafio para o novo papa!

O difícil caminho de Francisco

Após a renúncia inesperada de Bento XVI, que decidiu abdicar do cargo vitalício de papa e se tornar papa emérito, o concílio dos cardeais se reuniu no Vaticano para escolher o novo pontífice, que terá como missão liderar o rebanho de católicos, estimado em 1,2 bilhão de fiéis espalhados por todo o mundo.

Agora, pouco a pouco, vão surgindo informações sobre quem é e o que fez o homem que deve peregrinar pelo mundo pregando fé, caridade e compreensão entre as pessoas num momento em que todos se preocupam mais com acumulação de riquezas do que com a distribuição dos bens.

Pelo menos, esta lição o papa Francisco pretende ensinar aos fiéis. Aliás, o cardeal de formação jesuíta escolheu o nome de Francisco provavelmente em homenagem a São Francisco de Assis, que se notabilizou por ter abdicado de uma vida de riqueza em troca de um voto de pobreza. Igual ao santo que viveu na Itália muito tempo atrás, o novo pontífice segue uma vida sem fausto. Nunca fez questão de morar em dioceses ricamente decoradas nem andar em carros luxuosos. Ele preferiu sempre viver modestamente e se locomover usando o transporte público, mesmo sendo cardeal-arcebispo.

Entronizado no posto mais cobiçado da Igreja Católica, ficará dificil para o pontífice manter a postura de religioso avesso à publicidade e de vida espartana. Afinal, ele comanda um império em termos de bens e patrimônio e precisa juntar à evangelização e à preocupação com as coisas celestiais a figura de um administrador e investidor. Sério dilema para quem se presta mais o aspecto divino do que as coisas materiais.

Apesar de valorizar o trabalho social com os mais pobres, o papa Francisco faz questão de frisar que a Igreja Católica tem de ser fiel a Jesus Cristo. Como ele mesmo disse, “uma igreja sem Cristo é como uma ONG de obras caridosas”. Isto pode ser um novo sopro para os cristãos em geral e particularmente para os católicos que precisam de uma injeçào de ânimo em sua fé, uma vez que o número de fiéis vem encolhendo por causa do crescimento evangélico, sobretudo dos neopentecostais, e de outras seitas e religiões.

Muitos reformistas defendem inclusive um revisionismo na Igreja Católica a fim de modernizá-la e desta forma atrair novos fiéis. Dogmas e rituais, embora guardem o carisma que evoca a Idade Média, nos remetem exatamente para a Idade Média! Ou seja, numa época em que um telefone celular conecta qualquer pessoa com o mundo, aspirar incenso e compenetrar-se com o badalar da sineta do coroinha pode parecer algo de outro planeta. Mas particularmente cumprir estes rituais e as vestes usadas pelos sacerdotes, monsenhores e cardeais denotam o compromisso com as coisas divinas.

O que a Igreja Católica precisa, na verdade, é de um choque de modernismo em suas atitudes. Aos olhos dos leigos, parece inconcebível que padres não possam se casar. Este celibato tem sido o fermento de relações desaprovadas com mulheres e homens e, pior ainda, gerador de vários casos de pedofilia conspurcando a imagem sacrossanta da Igreja.

Ironicamente, o papa Francisco já declarou que a Bíblia desaprova relacionamentos homossexuais contrariando o que muitos padres e bispos fazem às escondidas em sacristias e casas paroquiais. Este problema, aliás, é a principal chaga a ser enfrentada pelo novo pontífice, juntamente com a extrema riqueza acumulada pelo Vaticano.

Dizem as línguas ferinas que o Vaticano proíbe o casamento dos padres porque não quer dividir os bens e o patrimônio com as famílias geradas por eles. Ou seja, a instituição quer manter-se monolítica a ter que compartilhar o que possui. Exatamente o contrário do que pregou Jesus Cristo e muitos outros santos, como o próprio São Francisco.

Outra pedra no sapato que está à espera do papa Francisco é a politicagem que tomou conta dos principais próceres da Igreja Católica, mormente no Vaticano, que se vem caracterizando como um antro de fofocas e negociatas. Recentemente, um mordomo indiscreto lançou um livro contando segredos pouco abonadores sobre o que se passa dentro dos muros do menor país do mundo.

Por fim, o sumo-sacerdote tem de enfrentrar acusações de ter sido conivente com a ditadura instaurada na Argentina na década de 70, uma ditadura cruel e sangrenta que deixou feridas abertas em boa parte do povo argentino. O passado nebuloso do então religioso Jorge Mario Bergoglio deve ser esclarecido rapidamente, sob pena de turvar seu pontificado.  

Aliás, vem sendo negado veementemente pelo Vaticano que, sem dúvida, deve ter pesquisado muito antes de entronizá-lo como papa. Se ele tivesse mesmo participado destes atos abomináveis, por certo, não teria sido ungido papa. O problema é que as pessoas acusam sem necessidade de provar o que falam.

A boa notícia é o fato de o escolhido ter sido um sul-americano, quebrando a tradição de sempre ter um europeu como pastor supremo da Igreja Católica. Mesmo sendo o novo papa descendente de italianos, sua escolha interrompe o eurocentrismo predominante no Vaticano. 

Vale ressaltar o espírito irreverente dos brasileiros após o anúncio da nacionalidade do novo papa. Mensagens bem-humoradas pulularam nas páginas de facebook e do twitter brincando com a antiga rivalidade entre brasileiros e argentinos. Na minha opinião, a melhor foi esta: “O papa demonstrou mesmo ser um argentino humilde. Ele aceitou um cargo abaixo de Deus”. Pano rápido.

Antonio Tozzi - Miami


A luta pela alma da sociedade

 
A atividade política mesmo agindo no imaginário não dá conta de preencher o amplo universo da alma humana.

O aparato da religião ilustra o peso ordenador das demais instancias simbólicas na vida da sociedade.

Disputas de falanges no interior dessas corporações, como as que cercaram a renúncia de Bento XVI, não miram apenas a redivisão interna do poder.

Nem esgotam suas repercussões nos limites formais da fé.

O que se disputa hoje na Santa Sé extrapola os 44 hectares da Cidade do Vaticano.

O canibalismo em torno do 'Banco de Deus' ilumina um dos pontos de intersecção da fronteira divina com o inferno material.

Está longe de ser o único.

Prelazias como a Opus Dei mostram desembaraço em outras sinergias também.

Sua rede de instituições educacionais se especializa na formação de quadros que possam irradiar os interesses gêmeos da fé e do dinheiro na vida mundana.

A formatação de executivos encontra-se entre as prioridades.

Estima-se que 600 colégios e 17 escolas de administração e negócios estão conectados à Opus Dei em todo o mundo.

Bebem sua água benta também a Universidade de Navarra, na Espanha e a Pontificia Universidade della Santa Croce, em Roma.

Ali são formados quadros espirituais da Opus Dei para a tarefa difusora de valores nas áreas da teologia, direito canônico, filosofia, comuniação social e institucional.

As identidades entre a prelazia fundada em 1928 por Josemaría Escrivá (a imagem acima é dele) e o conservadorismo político e empresarial remetem aos laços estreitos do mestre com o franquismo.

Juntos, a cruz e a baioneta esgoelaram a voz e o espírito espanhol por 37 anos.

Mas não só.

Morto em 1975, o ideólogo persistou na faina: foi canonizado em tempo recorde para os padrões católicos.

Em 2002, diante de mais de 80 mil seguidores de todo o mundo, João Paulo II, de quem o Bento XVI foi o braço direito, anunciou a santificação:

"Em honra da muito Santa Trindade, para a exaltação da fé católica e promoção da vida cristã, com a autoridade de nosso senhor Jesus Cristo, dos santos apóstolos Pedro e Paulo e a nossa, depois de ter reflectido longamente, invocado muitas vezes a assistência divina e ter escutado os conselhos de muitos dos nossos irmãos sacerdotes, nós declarams e definimos como santo o bem aventurado Josémaria Escrivá de Balaguer e inscrevemo-lo no álbum dos santos”, informou o Sumo Pontífice.

Não foi um ponto fora da curva destes tempos de fé e costumes estritamente vigiados por Ratzingers e Bergonzines - o bispo do panfleto contra Dilma, em 2010.

Em junho do ano passado, uma estátua em bronze do santo Escrivá foi inaugurada na Catedral da Sé, em São Paulo.

A Catedral metropolitana, cujas escadarias no passado serviram de abrigo a manifestações contra a ditadura e em cujo interior se denunciou o assassinato de Vladimir Herzog, em 1975, agora tem um altar em honra da Opus Dei.

O episódio diz muito sobre o efeito regressivo dos últimos dois papados no universo do catolicismo brasileiro.

Na missa solene, com igreja lotada, em honra a 'São Josemaria Escrivá', foi lida a mensagem elogiosa de D. Odilo Scherer.

O cardeal de São Paulo recordou a passagem de Escrivá pelo país, nos tempos bicudos de 1974. Nenhuma menção aos tempos bicudos.

Coube à maior autoridade da Opus Dei no Brasil, demarcar o significado prático da presença simbólica de 'São Josemaría' na Catedral da Sé:

“É um forte apelo a todos os católicos: a sua mensagem era exatamente a santificação das estruturas civis da sociedade', sentenciou o monsenhor que atende pelo sugestivo nome de Vicente Anaconda.

Na 'santificação' das estruturas civis da sociedade' opera a rede de formação educacional que a extrema direita católica mantém mundo afora.

O Iese Business School, vinculado à Universidade de Navarra e à Opus Dei, faz esse link catequizador com o estratégico mundo empresarial.

É considerado uma das principais escolas de administração e formação e quadros do mundo.

Forma executivos para os negócios. Mas também lideranças associadas aos valores da ' santificação das estruturas civis da sociedade'.

A cepa anticomunista da Opus, sua esférica condenação à liberdade dos costumes, sinaliza o sentido dessa formação complementar.

No Brasil, o Iese atua desde 1996 através da escola de administração ISE, uma parceria desenvolvida com o mesmo "DNA" da matriz espanhola.

Na direção figuram nomes como o do jurista Ives Gandra Martins,reconhecido e assumido por suas ligações com a Opus Dei brasileira.

O responsável pelo curso de Ética da escola, Cesar Furtado de Carvalho Bullara, é mestre e doutor em filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce – a usina de formulação e difusão da Opus Dei.


Vai bem, obrigado o braço brasileiro.

No ano passado, segundo o insuspeito jornal Valor Econômico, São Paulo foi escolhida para ser a primeira cidade fora da Espanha a receber o programa de MBA Executivo do Iese.

Além disso, o Iese quer chegar a 500 alunos em cursos de longa duração no Brasil (hoje são 300) . E aumentar o número de profissionais que recebem aulas "in company" de 600 para mil.

A partir de 2015, o Iese pretende trazer para São Paulo três programas já testados pela Opus Dei em outros países.

Sugestivamente, um deles versará sobre alta gestão para a área de mídia e entretenimento.

Ou seja, formação de quadros para orientar e dirigir o estratégico aparato de comunicação e produção cultural, hoje monopolizado por grupos que lideram a agenda conservadora brasileira.

Os apóstolos de São Escrivá não bricam em serviço.

Diante da exaustão conservadora estampada na desordem neoliberal, intensificam a formação de quadros de qualidade. Para setores estratégicos: a esfera do dinheiro; a difusão das notícias; a cultura e o entretenimento.

Sua estratégia para os dias que rugem é intensificar a receita apregoada por Ratzinger: conquistar poucos e bons; com eles, capturar a alma da sociedade.

Só há um antídoto à ofensiva: ampliar o espaço público da liberdade cultural, da comunicação e da democracia no país.

Isso se faz com políticas de Estado, que assegurem a diversidade indispensável à criatividade do espírito e à livre formação do discernimento social.

Se não contarmos as nossas próprias histórias, quem o fará por nós?

Eles.

Saul Leblon

A história secreta da renúncia de Bento XVI

Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.

 


Paris - Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.

Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.

O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente. Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica.

A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar.

Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.

Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira. O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.

Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.

João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.

Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.

Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa.

Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.


Tradução: Katarina Peixoto