Agência
Efe
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Em evento na Casa Rosada, Cristina Kirchner fez comparações entre a
Argentina e o Brasil
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Após protesto, Cristina Kirchner
reafirma suas políticas e diz que não há alternativa
Em discurso nesta sexta-feira, a presidente
argentina listou as conquistas de seu governo em diversos setores.
Um dia depois do maior panelaço contra o governo
argentino em 2012, que reuniu cerca de um milhão de manifestantes em todo o
país, Cristina Kirchner afirmou, nesta sexta-feira (9/11), que dará
continuidade às atuais políticas econômicas e sociais. Apesar de não mencionar
o protesto da noite anterior, a presidente fez alusão indireta a algumas das
reivindicações e instou a oposição a apresentar um “modelo alternativo” de
gestão.
No discurso,
realizado durante uma reunião com prefeitos na Casa Rosada, a presidente
argentina afirmou que seu governo foi o responsável por promover uma
“verdadeira reforma política” no país com a nova lei eleitoral. Aprovada pelo
Senado argentino em 2009, a legislação determina que os candidatos que
superarem 1,5% dos votos válidos nas eleições Primárias Abertas, Simultâneas e
Obrigatórias (PASO), realizada 90 dias antes do pleito oficial, terão
financiamento equitativo, garantido pelo Estado, para a propaganda eleitoral.
Segundo
Cristina Kirchner, a medida permitiu que “cada cidadão pudesse conhecer as
propostas de seus dirigentes políticos, o que nunca tinha acontecido”.
“Obviamente os meios de comunicação, sobretudo os de maior ingerência, não
gostam disso, mas eu acho muito saudável para a democracia que todos possam dar
a conhecer seu pensamento aos cidadãos. (...) Se você somente pode escutar um
ou dois e não o resto, não está elegendo um ‘catso’”, afirmou.
Em uma
crítica aos que se opõem aos programas sociais de sua administração, mencionou
que “se orgulha de ser parte de um governo que conseguiu reduzir os níveis de
exploração” dos trabalhadores e que sua “política econômica de inclusão
incorpora até mesmo os que se queixam da inclusão dos outros, mas [que] não
[reclamam] da rentabilidade própria que este projeto de inclusão trouxe”.
Segundo ela,
programas como a Asignación Universal por Hijo (AUH), semelhante ao Bolsa
Família brasileiro, incomodam algumas pessoas porque antes “era possível
contratar uma pessoa como empregada, assistente na casa ou trabalhador temporal
por dois ou três trocados, mas quando alguém recebe um subsídio, já tem um piso
do qual partir. Não é que não conseguem gente para trabalhar, não conseguem
gente para explorar”, provocou.
Cristina
Kirchner também aludiu à intensificação do controle à compra de dólares, um dos
motivos que detonaram os primeiros panelaços contra seu governo. Segundo
ela, as medidas tomadas “para evitar esvaziamentos e corridas [bancárias]” e a
administração da flutuação cambiária provocaram descontentamento em alguns
setores devido à “penetração cultural” da moeda norte-americana.
“No Brasil há
seis dólares para cada brasileiro, e é a 5ª maior economia do mundo. O Tesouro
calcula que a Argentina é o segundo país onde há mais dólares, depois dos
Estados Unidos, com dois mil dólares por habitante”, disse.
Segundo ela,
as medidas econômicas de sua gestão permitiram que o Estado quitasse suas
dívidas e que a balança comercial de 2012 fosse superavitária.
“Um
governante tem que articular e pesar os interesses. Claro que aos que só
exportam convêm um dólar muito alto, mas para os que produzem aqui e ainda têm
que importar insumos básicos que não são produzidos no país, não lhes convêm um
dólar muito alto, porque teriam que aumentar os preços e isso impactaria demais
o mercado interno”, pontuou, didática.
No discurso,
Cristina também garantiu que o problema político atual se deve à falta de
lideranças que apresentem modelos alternativos ao seu. “Mas disso não podemos
nos responsabilizar e ninguém nos pode culpar de tomarmos nossas ações”,
queixou-se, antes de instar políticos oposicionistas a assumirem um novo papel:
“Os que não acreditam no que fazemos, que se encarreguem de gerar o que o resto
da sociedade quer com ideias, propostas e projetos”, desafiou.
Antes de
encerrar o discurso televisionado, a presidente fez uma declaração que foi
considerada como uma ironia ao protesto realizado no dia anterior. Ao mencionar
dois eventos relevantes na semana, citou a reeleição de Barack Obama e disse
que "ontem ocorreu algo muito importante: o Congresso do Partido comunista
Chinês".