Fundamental que leiamos esse artigo. Precisamos entender como funciona a direita desse país. Têm opinião formada, escopo e sabem o que querem. Conseguem anular julgamentos e levar a lei para onde lhes interessa. Nesse artigo, o Senador, cassado por corrupção, ataca um "dos seus pares". Nem precisava, pois todos nós sabemos que são: os dois! Mas.....leia e se delicie com, como dia meu pai Nicolau, "o sujo falando do mal lavado"!
Paulo Morani
Fiz uma opção íntima, a partir das turbulências que enfrentei, de
permanecer em silêncio até que a justiça desse o veredito final e me
aclamasse inocente, como de fato sou.
Já obtive duas liminares no STF e
uma no STJ, suspendendo os processos contra mim, porque, na verdade, fui
vítima de um grande complô, que, ao final, será desnudado.
Jamais
desejei vir a público expor meu enredo antes que houvesse uma decisão
definitiva sobre a licitude da prova contra mim forjada e mesmo sobre o
conteúdo desta, ou seja, não me recuso a enfrentar o mérito das escutas,
ainda que elas sejam ilegais.
Sofri toda espécie de acusação, pilhagem intelectual e moral, deserções e contrafações, a tudo resisti porque as esvaziarei.
Mais que as decisões de instâncias superiores, há várias verdades
iniludíveis. Jamais fui acusado de desviar qualquer centavo público:
ninguém diz que roubei valores de estradas, pontes, hospitais, escolas…
Nada.
Uma perícia realizada pelo próprio Ministério Público, e jamais
oficialmente divulgada, assevera que eu poderia ter um patrimônio 11 por
cento maior do que possuo; prova de que não há enriquecimento ilícito,
que o apartamento que financiei junto ao Banco do Brasil teve todas as
parcelas pagas em débito de conta corrente, cujo único abastecimento é o
salário que percebo e com mais 27 anos de prestações restantes.
A
insinuação de que tinha conta corrente no exterior sucumbiu, nada sequer
passou perto de ser comprovado e nas garras da imprensa continuo, vez
por outra, sendo arranhado. Aliás, todos os membros do Ministério
Público que me molestam têm um padrão de vida superior ao meu e muitos
com gostos idênticos. Não os acuso de nada, mas por que então o que eles
possuem é legal e o que eu tenho não?
A acusação que pesava contra mim era ser amigo de Carlos Cachoeira. Era não, sou. Não vivo como Lula e José Dirceu, nem como um monte de hipócritas. Não devo e não temo.
Clamei da tribuna, que me investigassem, que me dessem o direito de
defesa e do contraditório, tudo em vão. Em um processo sumário fui
execrado e humilhado, o que não acontece com os parlamentares envolvidos
na Operação Lava Jato,
que contribuíram para o desvio de bilhões de dólares dos cofres da
Petrobras.
O PT e os governistas me enxovalharam no intuito de melar o
julgamento do mensalão. O PSDB resolveu salvar Marconi Perillo,
que gastou uma fortuna dos cofres públicos para custear sua absolvição.
Os “éticos” do Senado viram uma oportunidade para se livrarem de quem
os retirava do noticiário cotidiano nacional.
O Judas Ronaldo Caiado
reinventou a tese de que não existem traições de pessoas e sim de
princípios e que para isso estava autorizado a qualquer coisa com algum
alcance moral, inclusive trair, à semelhança de Hitler, Mussolini,
Stalin e tantos outros degenerados. Viu aí uma oportunidade para
soerguer-se politicamente. Bastava afundar-me no buraco e,
prazenteiramente, o fez.
Hoje, lamentavelmente, saio do ostracismo a que me tinha recolhido para enfrentar declarações dadas ao “painel” da revista Veja, em que o Senador por Goiás, Ronaldo Caiado, afirma que sou uma grande decepção em sua vida e um traidor.
Confesso que surpreendi-me.
Ronaldo fez uma campanha em que
aproveitou meu número, 251, e o meu slogan “defender Goiás”. Jamais fez
qualquer pronunciamento sobre mim, mesmo na presença de correligionários
seus que às vezes me atacavam entendendo que isso granjearia votos
junto à claque.
Nesse período, mandou vários recados na tentativa de
“tranquilizar-me”, sem obter resposta e num dia, quando não era ainda
candidato, encontrou-me num estabelecimento comercial chamado “Jerivá”,
quando eu saía do banheiro, e tentou conversar comigo, bem risonho, o
que mereceu uma esquiva de minha parte.
Ronaldo é um mitômano e tem um comportamento dúbio, às vezes tíbio,
às vezes dissimulado. Na tribuna oscila.
É sintomático o caso Garotinho.
Ronaldo o acusa de formação de quadrilha, é o que está unicamente nas
redes sociais; Garotinho o acusa de ser traíra por ter me abandonado;
Caiado volta à tribuna e pede arreglo à Garotinho. Os dois últimos
vídeos desapareceram das redes sociais.
Mas, enfim, Caiado se passava como uma espécie de irmão mais velho
pra mim, falava da afinidade de nossas teses, que era um conservador não
beligerante, pra isso não poupando sequer seus antepassados, e que
desejava um futuro liberal para o Brasil.
Ronaldo fazia sim, parte da rede de amigos de Carlos Cachoeira, era,
inclusive, médico de seu filho. Mas não era só de amizade que se nutria
Ronaldo Caiado, peguem as contas de seus gastos gráficos, aéreos e de
pessoal, notadamente nas campanhas de 2002, 2006 e 2010, que
qualquer um verá as impressões digitais do anjo caído. Siga o dinheiro.
Caiado não ousou me defender, me traiu, mas, em relação a Agripino
Maia, figura pouquíssimo republicana, disse que ele merece o benefício
da dúvida. Poucos sabem, mas o político potiguar e seus companheiros de
chapa em 2010 foram beneficiados pelo “esquema goiano”, com
intermediação de Ronaldo Caiado.
Ronaldo Caiado é chefe de um dos mais nocivos vagabundos de Goiás, o
delegado de polícia civil aposentado, Eurípedes Barsanulfo, que era o
melhor amigo de Deuselino Valadares, o delegado de polícia federal que
fez um “relato”, segundo “Carta Capital”, onde me acusava de ser
beneficiário do jogo do bicho.
Esse relato jamais apareceu oficialmente,
mas serviu para que o PSOL dele se utilizasse para representar-me
perante o conselho de ética do Senado. No final do ano passado, o jornal
Diário da Manhã de Goiânia, publicou uma matéria assinada em que acusa o
dito delegado de ter forjado o documento a mando de um seu chefe
político.
Quem era ele? Ronaldo Caiado, todos sabem. Aliás, Eurípedes
Barsanulfo, este sim, era prócer das máquinas caça-níqueis em Goiás.
Ronaldo uma vez, inclusive, me pediu para interferir junto a Carlos
Cachoeira para ampliar a atividade de Eurípedes no jogo ilícito.
Simplesmente, disse a ele, como era verdade, que desconhecia a prática
de ilicitudes por parte de Cachoeira.
Ronaldo Caiado é um oportunista. Muitos que vivem fora de Goiás devem
imaginar que ele é um coerente, uma figura emergida dos anseios das
ruas, um puritano.
Qual o quê! Na atividade política é um profissional
de lupanar. Dois fatos podem elucidar seu caráter de Fouché. No
primeiro, em 2006, Caiado me incentivou a ser candidato a governador.
Quando minha candidatura fez água, ainda em agosto, ele pode ser visto
acompanhando tanto o candidato Maguito, quanto o outro, Alcides.
No pior
declínio moral, chegou a ser filmado no palanque da candidata Vanusa
Valadares, mulher do hoje prefeito Eronildo Valadares em Porangatu.
Portanto, quadrúpede que é, tinha suas patas, simultaneamente, em 3
canoas.
Ano passado sua degradação se expandiu. Ronaldo Caiado, no afã de ser
candidato a Senador ao lado de Marconi Perillo, foi atrás de Aécio Neves
e Agripino Maia (este dependente financeiro de Perillo) para que eles
compusessem a chapa com coerência nacional, apesar de todo histórico de
desavenças com o carcamano.
Um pouco mais vexatório, mandou a própria
esposa num evento na cidade de Americano do Brasil, onde a apedeuta,
além de usar a palavra, pregou o voto em Perillo, alegando que ele era
um grande estadista e que esperava sua reeleição para o bem de Goiás.
Relembre-se: quem teve negócios com Cachoeira foi Perillo, eu não.
Resumo da ópera: o tenor recusou os apelos da mezzosoprano e mandou o barítono procurar rumo. Ronaldo acabou nos braços de Iris Rezende a quem tinha acusado, toda a vida, de ser um corrupto diante do qual os demais se afigurariam “trombadinhas”.
Nessa sua linha vesga de assinalar uma coisa e fazer outra, Ronaldo
Caiado deseja a extinção do DEM a fim de se filiar ao PMDB de Íris
Rezende por um motivo muito simples: ambiciona estar em uma agremiação
que lhe dê estrutura para disputar o governo de Goiás. Na fusão do DEM
com o PTB irá para o PMDB, possibilidade constitucionalmente aceita de
adesão partidária. Irá, oficialmente, se opor.
Parecerá até o fim um
coerente, um habanero puro. Seguirá as ordens de seu chefe político ACM
Neto, que financiou sua última campanha em Goiás e que lhe assegurou,
caso perdesse a eleição, o confortável posto de secretário de saúde em
Salvador, em cuja região Caiado costuma passar suas férias às expensas
da empresa OAS.
Quem pensa que Ronaldo Caiado é espontâneo se engana. Tudo é
meticulosamente calculado. Por que ele não veio para as ruas de Goiânia
na passeata e preferiu São Paulo? Porque em Goiânia seria vaiado. E por
que São Paulo? Porque era mais fácil de mentir.
O desafio a mostrar uma
filmagem dele no meio dos manifestantes na Avenida Paulista em São
Paulo. Só aparecem coisas periféricas. Tirou uma fotografia com uma
camiseta fascista – não porque Lula não mereça vaias, as merece mais que
os demais - e deu motivos para uma gritaria justa em favor de um
injusto. Como é do seu caráter, estava simulando caminhar na passeata.
Nesse aspecto , se assemelha ao Deputado Federal goiano Giuseppe Vecci
que participou da passeata em Goiânia por ser um ilustre desconhecido,
apesar de eleito. Ironia: Vecci desfilou porque é uma nulidade da
sombra, Caiado se absteve por ser uma do sol. Parece que o
tesoureiro-mor, Jaime Rincon, chefe da Agência Goiana de Obras Públicas,
também fez evoluções pela passarela.
Ronaldo Caiado foi um dos relatores da reforma política na Câmara dos
Deputados, sempre alegou que sua motivação era a coerência política,
que a prática demonstrou não ser o seu forte. Ele diz que gostaria de
ter um embate com Lula na eleição pra presidente da república. Eu acho
que seria ótimo, os dois se equivalem moralmente. Um já foi
desmascarado, o outro poderá sê-lo amanhã.
Um dia, no meu escritório político no setor sul, em Goiânia, houve um
telefonema entre Ronaldo Caiado e o hoje conselheiro do Tribunal de
contas dos municípios de Goiás, Tião Caroço.
Este trazia uma notícia que
transtornou o Senador, que disse então aos berros: “avisa ao Marconi
que eu vou resolver com ele da forma que ele quiser, no braço, na faca,
no revólver”. Esse episódio se tornou público e gerou os maiores
desgastes para o fanfarrão, que pra minha surpresa repeliu tudo. Um dia,
me contando a história, negou que havia falado isso, se esquecendo de
que eu era a testemunha ocular.
Pois agora, Ronaldo Caiado, quero ver se você é homem mesmo. Nos
mesmos termos que você mandou oferecer ao frouxo Marconi Perillo, eu me
exponho.
Me lembro da veneração ,que quando criança, meu pai tinha pelo grande
Emival Caiado e pelo seu pai o advogado Edenval Caiado, que se
envergonharia de ver que um filho seu foge à luta.
Você diz em seus discursos que Caiado não rouba, não mente e não trai. Você rouba, mente e trai.
Talvez o meu silêncio tenha sido entendido por você como um sinônimo
de covardia, de pusilanimidade. Essas palavras não existem no meu
dicionário. Não posso dizer que você seja um mau- caráter, pois você
simplesmente não o possui. É, na verdade, um espécie de Zelig
oportunista e bravateiro.
Você deveria ir pra Brasília em seu cavalo branco, estacioná-lo na
chapelaria do Senado e subir à tribuna para fazer o que já faz:
relinchar, relinchar.
Me deixe em paz Senador. Continue despontando para o anonimato. É o
seu destino. Não me move mais interesses políticos.
Considero vermes
iguais a você Marconi Perillo e Íris Rezende. Toque sua vida, se fizer
troça comigo novamente não o pouparei. Continue fingindo que é inocente e
lembre-se que não está na sarjeta porque eu não tenho vocação para
delator. Tome suas medidas prudenciais e faça-se de morto.
Ano passado deu-se o centenário do nascimento de Carlos Lacerda e uma
horda de hipossuficientes passou a rotular a qualquer um de lacerdista,
que para eles é apenas alguém estridente e barulhento. Ronaldo Caiado
diz que se inspira em Lacerda.
Mentira, Lacerda foi tradutor de
Shakespeare, foi o primeiro brasileiro a romancear um quilombola, falava
e escrevia como um clássico. Demoliu presidentes e adversários. Eleito
governador foi sem sombra de dúvidas o melhor gestor da Guanabara.
Ronaldo Caiado jamais conseguiu terminar de ler um livro.
Por sua
formação francesa, o mais perto que chegou do fim foi “O menino do dedo
verde”, mas o achou muito “profundo”. Ronaldo Caiado é só uma voz à
procura de um cérebro.
Artigo publicado dia 31/03/2015 - no Diário da Manhã, de Goiás.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e ex-senador cassado por corrupção.