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Ministério da Saúde usou a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para produzir cloroquina!

 A manchete da Folha denuncia que o Ministério da Saúde usou a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para a produção de 4 milhões de comprimidos de cloroquina, com o emprego de recursos públicos emergenciais voltados a ações contra a Covid-19 e com destinação prevista do medicamento a pacientes com coronavírus. 

 

A manchete do Correio informa que o Planalto caiu na real e vai retomar as medidas que evitaram o pior em 2020, entre elas vai reeditar o auxílio emergencial, antecipar o pagamento do abono do PIS-Pasep e simplificar o acesso ao crédito. Avalia-se, ainda, antecipar o 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS. 

 

As manchetes do Estadão e O Globo tratam da aprovação pela Câmara da autonomia do Banco Central como um aceno à agenda econômica do governo. A manchete do Valor trata do desafio que o BC tem pela frente em função da queda de 6,1% nas vendas do varejo em dezembro. O receio é que o banco tenha que elevar a taxa de juros.  

 

Documentos do Ministério da Saúde obtidos pela Folha, com datas de 29 de junho e 6 de outubro, mostram a produção de cloroquina e também de fosfato de oseltamivir (o Tamiflu) pela Fiocruz, com destinação a pacientes com Covid-19. Os dois medicamentos não têm eficácia contra a Covid-19, segundo estudos. 

 

O dinheiro que financiou a produção partiu da MP (Medida Provisória) nº 940, editada em 2 de abril pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o enfrentamento de emergência do novo coronavírus, como consta nos dois documentos enviados pelo Ministério da Saúde ao MPF (Ministério Público Federal) em Brasília. A MP abriu um crédito extraordinário, em favor do ministério, no valor de R$ 9,44 bilhões. 

 

Para a Fiocruz, que é vinculada à pasta, foram destinados R$ 457,3 milhões para "enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus". Na exposição de motivos sobre a MP, não houve detalhamento de como o dinheiro seria gasto. 

 

O texto da Presidência da República enviado ao Congresso fala em "produção de medicamentos". Os documentos enviados ao MPF apontam gastos de R$ 70,4 milhões, oriundos da MP, com a produção de cloroquina e Tamiflu pela Fiocruz. 

 

Os ofícios associam a produção dos dois medicamentos aos recursos destravados para a pandemia. As drogas se destinam a pacientes com Covid-19, segundo os mesmos ofícios, elaborados por uma coordenação da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde.

Desigualdade econômica: o que é a 'curva do elefante', que ajuda a entender as diferenças entre ricos e pobres no mundo

A 'curva do elefante', que representa a desigualdade no mundo, é um dos gráficos mais influentes dos últimos anos Imagem: BBC

Cecilia Barría - BBC News Mundo

É considerado um dos gráficos mais influentes dos últimos anos.

A "curva do elefante" mostra o quanto o nível de renda nos diferentes grupos sociais do mundo aumentou durante duas décadas, do 1% mais pobre (à esquerda) ao 1% mais rico (à direita).


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Ela apareceu pela primeira vez em dezembro de 2012 no estudo "Desigualdade em números", de autoria de Branko Milanovic, mas costuma ser citada por sua presença, um ano depois, em "Distribuição da renda global: da queda do muro de Berlim à Grande Recessão", trabalho de Milanovic e Christoph Lakner.

Com o formato de um elefante, ela mostra quem foram os ganhadores e perdedores da globalização entre 1988 e 2008.

A maior parte da população mundial viu sua renda crescer. Esse aumento é representado pela parte superior da curva (equivalente às costas e à cabeça do elefante).

Quem são todas essas pessoas? Basicamente, as classes médias de economias emergentes da Ásia, sobretudo em países como China e Índia.

Se dividirmos a população mundial em 100 partes iguais (percentis), como faz o gráfico, veremos que o grande aumento na renda acontece entre o 10º e o 60º percentis, aproximadamente.

E dentro desse grupo, os mais beneficiados são aqueles que se situam em torno da média, com um aumento espetacular de renda entre 70% e 80% (os pontos mais altos da curva).

Nesse pico, há cerca de 200 milhões de cidadãos chineses, 90 milhões de indianos e cerca de 30 milhões de pessoas da Indonésia, Brasil e Egito.
 

 Gráfico mostra a curva do elefante  Imagem: BBC

Os outros grandes ganhadores foram o 1% mais rico do mundo, que ficou muito mais rico nesse período.

Esse seleto clube de milionários poderosos é representado pela tromba empinada do elefante.

O sucesso foi tanto que viram sua renda real crescer mais de 60% durante as duas décadas analisadas.

Agora vamos para o lado dos perdedores. Lá estão — além dos 5% mais pobres da população que não viram nenhuma mudança —, as classes médias dos países desenvolvidos do Ocidente, representadas pela parte baixa da curva.

Essas classes, que em geral apresentaram uma renda estagnada, estão posicionadas entre os percentis 75 e 90 no gráfico.

"A estagnação da renda das classes médias no Ocidente tem sido uma fonte de descontentamento social e de aumento do populismo, algo que pode ser visto em fenômenos como Brexit ou Donald Trump", diz Branko Milanovic em entrevista à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Segundo ele, foi uma "mudança extraordinária" na distribuição de renda.

"Foi provavelmente a reorganização global mais profunda desde a revolução industrial", afirma Milanovic, que é acadêmico da City University de Nova York e pesquisador sênior do Stone Center on Socio-economic Inequality.

O elefante sumiu

Com a chegada da Grande Crise de 2008, começa um novo período na história econômica e um reajuste na distribuição global de renda.

Essa crise, que começou com as chamadas "hipotecas tóxicas" nos Estados Unidos e se espalhou pelo resto do mundo, marcou um antes e depois na distribuição da riqueza.

Isso foi confirmado por Milanovic em um estudo publicado em julho "Depois da crise financeira: a evolução da distribuição de renda global entre 2008 e 2013". (A análise só vai até esse ano porque os dados globais subsequentes ainda não estão disponíveis.)

Nesta nova pesquisa, aconteceu algo surpreendente: o elefante perdeu a tromba.

 

Gráfico sem a curva do elefanteImagem: BBC

Isso significa que o 1% mais rico do mundo não se saiu tão bem quanto antes da Grande Crise. E, em termos gerais, a desigualdade global diminuiu.

O que não mudou substancialmente foi o fato de que mais uma vez a classe média asiática seguiu prosperando, enquanto a classe média ocidental continuou a ficar para trás.

O novo gráfico mostra que grande parte da população asiática avançou do meio da distribuição de renda mundial para os setores mais elevados, ou seja, do centro para a direita.

"Não existe mais elefante, essa forma está desaparecendo", explica Milanovic.

À medida que China e Índia se movem cada vez mais em direção à zona de renda mais alta, a forma do gráfico continua a se transformar.

De acordo com o pesquisador, as projeções indicam que a Ásia deve gradualmente deslocar os europeus e americanos que hoje dominam os 20% mais ricos.

"Essa mudança é algo que não vimos nos últimos 200 anos."

 

 

A incógnita

Embora não esteja claro o que aconteceu depois de 2013 devido à falta de dados, há certos indicadores parciais que podem nos dar alguma luz.

Por exemplo, olhando exclusivamente para a evolução do fenômeno nos EUA — cujos cidadãos representam quase metade do 1% no topo — "não se pode descartar que os mais ricos tiveram uma recuperação em suas receitas entre 2013 e a pandemia", diz Milanovic.

Outros estudos sobre desigualdade, como o "2018 World Inequality Report", dos economistas Facundo Alvaredo, Lucas Chancel, Thomas Piketty, Emmanuel Saez e Gabriel Zucman, estendem suas análises até 2016, embora utilizem outra metodologia.

Uma de suas conclusões é que a tromba se empina muito mais e os ultrarricos aparecem ainda mais beneficiados.

O que muitos estão se perguntando atualmente é como a pandemia de covid-19 e a crise econômica global que o mundo viveu em 2020 estão afetando a desigualdade.

Pouco se sabe sobre seu impacto nas classes médias asiáticas e nos países desenvolvidos. Menos ainda sobre como mudou a situação do 1% mais rico.

Mas o que os economistas estimam é que dentro de cada país, as desigualdades provavelmente aumentaram, considerando o duro golpe que a pandemia desferiu sobre os setores mais pobres.

De uma perspectiva histórica mais ampla, ao analisar a distribuição global da renda nas últimas décadas, ou o que está claro, diz Milanovic, é que a desigualdade tem diminuído no mundo.

Mas então... por que ouvimos constantemente alertas de que a desigualdade está aumentando?

É uma questão de como as coisas são medidas, diz o economista. É verdade que a desigualdade entre ricos e pobres em muitos países aumentou — e é isso que, segundo ele, as pessoas percebem em seu dia a dia.

Também é verdade que ao medir quanto o 1% mais rico concentra em relação à renda total, a situação pode se tornar preocupante.

Mas a análise de Milanovic, usando métodos tradicionais como o Índice de Gini e uma amostra populacional de mais de 130 países, mostra que o mundo é menos desigual, principalmente por causa do peso que a "ascensão da China" tem.

"Se o que vimos nas últimas três décadas continuar, a distância entre o Ocidente e a Ásia continuará a diminuir, mas é muito difícil saber o que acontecerá no futuro", adverte Milanovic.

Não é à toa que se afirmar que este poderia ser o "século asiático", como a contrapartida econômica do que foi a ascensão global das classes médias ocidentais durante o século 20, sob domínio americano.