Originais do Samba
Bidi na Cuica!
Nesse dia nós estávamos num bar em frente, do outro lado do bar do Moita. Era um bar com mesas, servia almoço durante o dia e a noite petiscos e bebibas. Nós éramos menores, portanto era refrigerante e sentar pra bater papo furado. Sentado em uma mesa ao lado, um senhor sozinho olhava pro nosso grupo. Tomava cerveja, mas antes um aperitivo.
Logo se aproximou de nós. Pediu licença perguntando se poderia se sentar. Nos entreolhamos, e ele sem esperar a resposta, sentou junto a nós.
Começou perguntando o nosso nomes. A mim, olhou e me respondeu quando disse meu nome:
- Paulo não. Voce tem cara de Pablo.
Achei estranho, mas a turma riu e eu concordei com a cabeça. Me chamou assim o tempo todo.
Ele era negro, baixinho, e trazia consigo um gravador e uma caixa preta, onde guardava seu instrumento – depois descobrimos que era uma cuíca – já um pouco tomado pelo alcool, mas sem ser chato, pelo contrário, começou a nos contar de onde viera:
- Acabo de sair de uma gravação com meu grupo. Vocês conhecem, Originais do Samba? Ninguém conhecia. Nosso papo de música era a Jovem Guarda e olhe lá.
- Pois é, vocês precisam conhecer.
Disse isso e ligou o gravador. Era a musica Na tonga da Mironga do Cabuletê, gravada junto com Toquinho e Vinicius – sei disso hoje – e um cara que ficava ao fundo gritando:
- Asgriba, asgriba (acho que posso escrever assim como Monsueto (Ele nos falou depois quem era) gritava.
Ficamos ali, ouvindo, e ele falando:
- Moro aqui perto, na rua Itaigara. Sou nascido e criado aqui em Coelho Neto. Na época falou o nome do filho – não me lembro – mas disse que o conhecia pois eu morava bem perto, na Rua 13 (hoje rua Bertichen).
- Legal Pablo. Qualquer dia vou te convidar para ir lá em casa.
Depois de ouvirmos a gravação da Tonga da Mironga do Cabulete, nos mostrou o Vai Ter Bacubufo. Aqui começa a história que quero contar.
Ao mostrar essa musica(letra mais abaixo) nos contou que a censura tinha impedido um estrofe. E cantou pra nós a estrofe:
Bacubufo no caterefofo
Democraticamente
Acontece todo ano
É assassinado um presidente
Uma pastor, um senador,
Num pais americano.
Ficamos com os olhos arregalados. Estávamos em plena ditadura militar e aquela estrofe realmente era assustadora, até pra nós.
Cantou isso batucando na mesa, e nos falando sobre os males da censura. Que aquilo pertencia a musica e que os militares estava estragando uma obra. Mas, nos orientou a tomar cuidados. Era um momento dificil e tal.
Essa é a historia de Bidi (para nós ele disse que preferia Bidí, mas havia se acostumado com o Bidi). Era cuiqueiro dos Originais do Samba.
Passado os anos, e depois de ver na TV o conjunto, fui relembrando aquele dia. Tinhamos ouvido em primeira mão as duas musicas. Aquela parte que foi censurada eu nunca vi eles cantarem em momento algum. A letra era dele e do Velha, como vocês podem ver mais abaixo.
Essa memória de minha adolescência ficou. O Bacubufo no Caterefofo ficou sem a estrofe censurada. Ela, aparentemente, ficou só na minha memória!
Por isso resolvi contá-la.
Paulo Morani
28 de julho de 2022
Vai ter bacubufo
Olha o bacubufo no caterefofo (4x)
Bacubufo
no caterefofo
Muita gente não conhece
É necessário explicar
É um tumulto
Que quem está aqui fora entra
Não agüenta e se arrebenta
Sem ter tempo de brigar
Mas por isso eu falei...
Vai ter
bacubufo
Olha o bacubufo no caterefofo (2x)
Bacubufo
no caterefofo
Na roda do samba outro dia aconteceu
Eu quebrei cara, saí de cara quebrada
Não sei em quem bati, nem conheço quem me bateu
Mas vai ter bacubufo...
Vai ter bacubufo
Olha o bacubufo no caterefofo (2x)
Bacubufo
no caterefofo
Foi o que aconteceu na gafieira certo dia
Eram dez horas quando tudo começava
É ás quatro horas da matina sobrava pancadaria..
E vai ter bacubufo...
Vai ter
bacubufo
Olha o bacubufo no caterefofo (2x)
Bacubufo
no caterefofo
É difícil compreender mas é fácil de explicar
É uma briga que você apanha, bate
E tá na terra do bate, não se cansa de brigar
Mas vai ter bacubufo...
Vai ter
bacubufo
Olha o bacubufo no caterefofo (2x)
Bacubufo
no caterefofo
Aconteceu comigo num pagode que cheguei
Eu namorava uma tal de Segundina
Fui casar com a Setembrina
Então das duas apanhei
Mas vai ter bacubufo...
Vai ter
bacubufo
Olha o bacubufo no caterefofo (2x)
Bacubufo
no caterefofo
Sinto muito minha gente, mas cansei de explicar
Quem aprendeu, ficou por dentro do pagode
Quem não aprendeu, sacode, não pode bacubufar
Mas vai ter bacubufo...
Vai ter bacubufo
Olha o bacubufo no caterefofo (2x)
Composição: Bidi / Velha.