Livro sobre negociatas tucanas esgota no primeiro final de semana


Livro sobre negociatas tucanas esgota no primeiro final de semana
Livro traz documentos que comprovariam envio de dinheiro para paraísos fiscais
O esperado livro "A Privataria Tucana", escrito pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr. e lançado na última semana pela Geração Editorial, desapareceu das livrarias tão rápido quanto chegou. Para evitar possíveis embargos judiciais, a obra - que revela esquemas de lavagem de dinheiro e pagamento de propinas que teriam sido feitos nos anos da privatização comandada pelo governo do PSDB em Brasília - foi lançada sem estardalhaço, mas ainda assim "vendeu como água", como definiu um vendedor de uma rede de livrarias em São Paulo.
Os 15 mil exemplares que a Geração Editorial disponibilizou na sexta-feira (9) já sumiram das prateleiras. A editora disse que já providenciava outra "fornada" para ser entregue nas livrarias ainda nesta segunda-feira. Há também uma versão digital do livro, que está sendo oferecida em sites como a Livraria Saraiva por R$ 24 (a obra impressa tem sido vendida por R$ 27,90 a R$ 35).

O livro de Ribeiro Jr. é resultado de um trabalho investigativo de 12 anos feito pelo premiado jornalista que, durante a campanha eleitoral do ano passado, chegou a ser acusado de participar de um grupo cujo objetivo era quebrar o sigilo fiscal e bancário de políticos tucanos. Por conta de distorções feitas pela mídia, Ribeiro Jr. acabou indiciado pela Polícia Federal e virou personagem da campanha presidencial.

A obra traz documentos inéditos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, todos recolhidos em fontes públicas, entre elas arquivos da CPI do Banestado. Um dos principais personagens do "livro-bomba" que está impactando o ninho tucano é José Serra, candidato derrotado na corrida presidencial de 2010. Segundo a investigação de Ribeiro Jr., parentes e amigos de Serra teriam operado um intrincado esquema financeiro que, durante o processo de privatização levado a cabo pelo governo Fernando Henrique Cardoso, encheu contas bancárias de paraísos fiscais espalhados pelo mundo.

Nas 343 páginas do livro, o leitor fica sabendo, através de documentos levantados por Ribeiro Jr., de esquemas como o da privatização da antiga Telemar. Depósitos de uma empresa de Carlos Jereissati, que arrematou a empresa (hoje transformada em Oi), em uma conta nas Ilhas Virgens Britânicas, em nome de uma empresa de Ricardo Sérgio de Oliveira, seriam um dos elos do esquema que envolveu os principais nomes do tucanato. Ricardo Sérgio foi diretor da área internacional do Banco do Brasil, e tesoureiro tanto de Serra como de FHC.

Quem também aparece no esperado livro é Verônica Serra (filha do ex-governador paulista), que à época formou uma empresa (a Decidir.com) em sociedade com Verônica Dantas (irmã do banqueiro Daniel Dantas, preso duas vezes pela PF e solto nas duas ocasiões pelo então presidente do STF, Gilmar Mendes). Verônica Serra chegou a ser indiciada pela PF por quebra de sigilos bancário e fiscal de pelo menos 60 milhões de cidadãos brasileiros através de uma operação da Decidir.com, segundo aponta o livro.

Gregório Marín Preciado, ex-sócio de Serra e casado com uma prima do ex-governador, também é figura destacada do livro. Um outro documento revela que Preciado movimentou 2,5 bilhões de dólares por meio de outra conta também de Ricardo Sérgio.

Repercussão

Até agora, o ninho tucano tem preferido o silêncio em relação às revelações de Ribeiro Jr. A grande mídia em geral também não tem repercutido o livro - ao contrário do que tem feito a cada nova edição das revistas semanais nas últimas semanas. Por enquanto, o único a deixar escapar um comentário foi o ex-presidente Fernando Henrique. Na sexta-feira, dia do lançamento do livro, FHC disse que não estava "nem sabendo". mais tarde, mudou o tom, desqualificando o jornalista: "O autor desse livro está sendo processado. Está na Polícia Federal. Até lá, quem está sub judice é ele", disse.