Aldyr Blanc |
O GLOBO - 01/01/12
Abro a cortina do passado para melhor encarar 2012. Estou lendo “A privataria tucana”, de Amaury Ribeiro Jr, nos contando sobre o Brasil de FHC I e II, “vendendo tudo”, principalmente o que pertencia a nosotros. Não adianta nhe-nhe-nhem porque o jornalista e escritor tem três prêmios Esso, quatro Vladmir Herzog, e sofreu um sério atentado, investigando assassinatos de menores pelo tráfico no entorno de Brasília. O livro contém lama para mensalão nenhum botar defeito. Só um tira-gosto: o insuspeito Nobel de Economia (2001) J. Stiglitz cunhou o termo “briberzation”, ao invés de privatization. Bribe é coisa roubada, na gíria de ladrões ingleses, desde o século XIV. Infelizmente, não achei, durante a leitura, nada sobre um pretenso compêndio escrito pelo Serra, sob pseudônimo: “O ócio de Aécio no cio”.
Talvez embalada pelo slogan da tucanagem, “vender tudo”, a operadora de telemarketing, amiga de Adriano Ruínas do Imperador, tenha se apresentado — Luzes! Ação! — para depor na delegacia com aquele modelito Das pu Bangu Trois. Gastando um pouquinho meu francês aprendido na Praça Paris foi vraiment une efemèrde. Recomendo a roupinha para o Dia de Reis, mas não me responsabilizo pelo comportamento dos camelos. Dizem que artiodáctilos ruminantes parecem jogadores de futebol: comem qualquer coisa. Os zoólogos asseguram que o estômago deles aguenta chaves de cadeia. A periguete teve sua tarde de fama. Não explodiu como uma supernova, embora estivesse um tanto caída sob o núcleo, mas conseguiu estrelar — uma anã branca, pelo que entendi de minhas leituras cosmológicas. A melhor piada envolvendo a subBBB (quem diria que algumas mulheres chegariam a esse ponto...) foi do amigo Cesar Tartaglia:
— Antes, o Adriano posava de fuzil; agora, está atacando de canhão...
Será esse o Brasil que virou a sexta economia do mundo, ultrapassando a — vrrruuummm! Tã-tã-tã, musiquinha de chegada na Fórmula 1 — Grã-Bretanha? Também. A notícia auspiciosa foi dada na telinha por pessoas que pareciam estar em plena crise de vesícula. Surgiram rapidinho — vrrruuummm, de novo — analistas avisando que o troço não significava lhufas. Ora, o Wall Street também dizia uma coisa e a realidade era outra. O próprio ministro Guido Manteguinha declarou que só daqui a vinte anos a população vai auferir, se viva estiver, as benesses dessa barrichellagem no vácuo. Fica uma pergunta incômoda no ar poluído: quem está botando grana no bolso agora com tal façanha, abrindo champanhe, convidando para festas operadoras de... Xapralá.
Acho legítimo esperar que as cracolândias em todo o país sofram uma retração; que na Praia de Iracema, cartão-postal do Ceará, saindo do brilho em frente aos grandes hotéis, meninas de 14 anos, ou menos, não se prostituam. Não rodam bolsinha porque estão quase todas com as mãos ocupadas, preparando os cachimbinhos. Somos Brics, mas não anseio que nosso povo se perca numa espécie de Índia, na qual os manés chamam as cidades grandes pelos nomes e o resto de A Escuridão. Talvez consigamos, com uma estratégia eficaz, reduzir o aumento de 60% de Aids entre jovens, um problema político, não apenas sexual. Quem sabe nosso Judiciário não legislará tanto em causa própia. Seria demais acalentar o sonho de prisões dos notórios criminosos que mandam naquelas casas de tolerância do Planalto? Sairão do papel, já sépia, a Reforma Agrária, a taxação das grandes riquezas, rá, rá?
Em todo caso, foi legal meter uma bola entre as canetas da pérfida Albion, nós que temos como dirigente máxima não uma rainha, mas uma ex-guerrilheira, com um nome que podemos colocar na paródia de um samba do Zé Kéti, “A Dilma subiu o morro do Pinto pra me faxinar...”, sem medo de choques elétricos nos genitais, aplicados por inúmeros bolsonéscios que escaparam impunes de um crime que não prescreve: tortura.