Que vice é esse?

Qual a função de um vice – seja vice-presidente, vice-governador, vice-prefeito, vice-qualquer coisa? Em primeiro e inquestionável lugar, substituir o titular do cargo no caso de impedimento de qualquer ordem. E substituir, pressupõe-se, com a mesma disposição, o mesmo esmero, o mesmo tipo de desempenho do ocupante efetivo do cargo, de modo a que não haja solução de continuidade no mandato conferido pelo povo – quando se trata, naturalmente, de um cargo político.
Desse modo, é absolutamente surpreendente, coisa de causar perplexidade, a entrevista concedida pelo candidato a vice-prefeito do Rio de Janeiro pelo Psol, o músico Marcelo Yuka, ao jornalista Ítalo Nogueira, da Folha de São Paulo, na qual ele diz rejeitar a carreira política e afirma que, desde que aceitou o convite do candidato Marcelo Freixo, só teve problemas em sua vida pessoal e em suas atividades como artista.
Queixa-se o vice de Freixo de ter perdido contratos de trabalho como músico e de ter tido que vender um sítio para se sustentar durante a disputa eleitoral, cujos prejuízos e esforços dela decorrentes têm consolidado nele a disposição de não seguir a carreira política. Yuka chegou a dizer que tem sacrificado a si e à sua família e que a candidatura é o “mais longe” que ele pode ir.
Pergunta-se: e como ficaria o Rio de Janeiro se Marcelo Freixo viesse a ser eleito?  Embora se trate de hipótese cada vez mais improvável uma vitória do candidato do Psol, não se pode deixar de refletir sobre o tema, pela sua importância. Como um candidato dito sério pode apresentar ao eleitorado um vice que tem rejeição pela carreira política e afirma que participar da chapa é o máximo a que pode chegar?
O vice de Freixo disse mais. Afirmou que tem vergonha de pedir votos e disse, textualmente, o seguinte: “O Freixo é candidato e deputado estadual. Ele tem uma profissão que lhe garante continuar como candidato. Eu não. Quando entro nisso, o mercado se fecha para mim. A maioria dos meus contatos de trabalho falaram: `Depois da eleição a gente conversa’. Mas eu preciso existir durante a campanha.”
Faria bem, talvez, o deputado Marcelo Freixo em liberar o seu xará, amigo e correligionário Marcelo Yuka de tão pesado fardo. E ainda se veria livre de uma acusação que lhe foi feita na época em que indicou o nome do músico: o de ter sido oportunista na escolha, para compor sua chapa com uma figura popular e querida no Rio de Janeiro, como é o caso do Yuka. Ou então explicar que papel caberá ao músico na eventualidade de sua eleição e, mais ainda, no caso de algum fato que o impeça de exercer temporária ou definitivamente o cargo de prefeito.