Ministério Público vai apurar “exportação” de moradores de rua e traficantes para Campinas

Campinas - São Paulo
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instaurou inquérito civil público para investigar a Prefeitura de São Paulo por ter encaminhado moradores de rua e usuários de crack para municípios do Interior. Reportagem publicada no Correio, no mês passado, com depoimento de um traficante e usuário de droga à Polícia Civil de Campinas, após ser preso, gerou a investigação. Ailton Junior Ribeiro dos Santos, de 18 anos, afirmou ter recebido passagem de ônibus de uma funcionária da Secretaria Municipal de Assistência Social da Capital, para optar entre seguir até Campinas ou ir para São José dos Campos, mesmo não tendo nenhum vínculo com esses municípios.
O MP encaminhou ofício no começo do mês pedindo explicações à secretaria pelo suposto desvio de função. De acordo com a portaria do Ministério Público, se comprovado, a secretaria está promovendo uma eliminação da mendicância, ação que indica caráter “higienista” em São Paulo. A Prefeitura tem 60 dias para responder o documento.
A Promotoria também encaminhou um ofício à Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes de Campinas (Dise), que efetuou a prisão, solicitando cópia do registro de ocorrência com o depoimento do autor da denúncia. Ele afirmou que outros 15 colegas de rua receberam passagens da prefeitura da Capital para virem à Campinas, após a força-tarefa entre Polícia Militar (PM) e município, para coibir a Cracolândia na Capital.
Os promotores de Direitos Humanos do órgão também encaminharam um ofício à Prefeitura de Campinas indagando se ela detectou ações do tipo. O mesmo foi feito com o Ministério Público local. O promotor de Direitos Humanos do órgão que trabalha no caso, Alexandre Marcos Pereira, classifica a ação como muito grave e afirmou que se ficar constatado essa estratégia — de retirar os moradores de rua indesejados e mandar para Campinas — ela se caracteriza como um desrespeito tanto a essas pessoas quanto ao Município de Campinas.
“Eles são encaminhados para uma cidade sem nenhum vínculo. Isso dificulta ainda mais sua inserção na sociedade e tira de uma vez as condições de melhorias, além de gerar um ônus social enorme para Campinas”, disse. Caso a ação de “higienização” fique comprovada, o MP pode mover uma ação contra a Prefeitura da Capital e até pedir condenação — multa, penalidade ou até mesmo exoneração de cargos.
O delegado da Dise, Oswaldo Diez Junior, afirmou que já recebeu o ofício do MP e que está preparando os documentos necessários. A Prefeitura de Campinas afirmou que recebeu o ofício e que está fazendo análise e levantamento do fato, para poder responder a solicitação e ajudar o órgão estadual.
Deu no Correio do Povo - Campinas