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Tereza Cruvinel |
A expansão da classe média é a mais concreta tradução das mudanças experimentadas pelo Brasil nos últimos 10 anos, alterando sua face interna e a percepção externa do pais. Com a ascensão de 35 milhões de pessoas, a classe média, que representava apenas 38% da população em 2002, saltou para 53% em 2012, totalizando mais de 100 milhões de pessoas. Conhecer esta nova classe, sua composição, seus desejos, seus projetos, seu pensamento, tornou-se fundamental para o planejamento do país, seja pelo setor privado ou pelo agentes do Estado que formulam e executam políticas públicas. Este é o objetivo do estudo "Vozes da Classe Média", que será lançado hoje pelas três instituições que o capitanearam: Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidencia da República - SAE, Caixa Econômica Federal e PNUD (Programa Nacional das Nações Unidos para o Desenvolvimento). O parceiro do setor privado foi a Confederação Nacional da Indústria – CNI. Outras instituições, como o IPEA e o IBGE, aportaram dados fundamentais para as conclusões do estudo.
- Nos últimos dez anos fomos vitoriosos no esforço de combater a pobreza e a desigualdade. O resultado foi um admirável processo de inclusão dos mais pobres e de expansão da classe média. Agora, precisamos conhecer melhor a nova estratificação social do país, e especialmente esta nova classe, para continuarmos produzindo políticas públicas adequadas, com vistas ao desenvolvimento contínuado e à construção de uma sociedade cada vez mais justa - diz o ministro-chefe da SAE, Moreira Franco.
O alargamento da classe média tem paralelo com a redução pobreza, que foi muito maior, proporcionalmente, nos últimos dez anos. Os dois processos são interligados mas são diferentes, embora complementares. A redução da pobreza foi fortemente alavancada pelos programas sociais do governo passado, (LULA) especialmente os de transferência de renda. Mas, para a expansão da classe média, pesaram especialmente o crescimento da economia, do crédito e do emprego formal no periodo.
O estudo começa tentando responder à pergunta que você, leitor, deve estar se fazendo: afinal, o que é ser de classe média hoje em dia? Segundo os formuladores, devem ser considerados da classes mais baixas (D e E, segundo a metodologia convencional) todos aqueles que têm grandes chances de continuar a ser pobres no futuro, vivendo com renda "per capita", variavel entre R$ 291 e R$ 1.019. Da classe média seriam todos aqueles com renda "per capita" superior a R$ 1019,00 mensais.
A partir desta definição, cruzando dados diversos, especialmente das pesquisas do IPEA e IBGE, foi traçado o retrato mais nítido até agora produzido sobre a nova classe que expressa o novo país que está surgindo.
Foi a classe média que mais se beneficiou do aumento do emprego, por exemplo. Nesta classe, 61% têm emprego formal, contra uma média de 58% no conjunto dos trabalhadores. Enquanto a renda média do conjunto das famílias cresceu 2,4%, na classe média este aumento foi de 3,5%; no consumo, a proporção é a mesma.
Podemos dizer que a nova classe média expressa o ideal da sociedade racialmente democrática que, de fato, só começou a existir agora. Pode-se até dizer que a classe média é morena: 53% são negros e 47% são brancos. Estatiscamente, estes números traduzem equilíbrio. Quanto à escolaridade, 90% têm no máximo o segundo grau mas os jovens sonham com o diploma universitário.
A floresta de números é vasta, densa e relevante para quem precisa compreender o Brasil de hoje. Mas o estudo procura decifrar também aspectos subjetiv os, como a ideologia desta nova classe média, sua cultura de ser, para além de suas inclinações político-ideológico-partidárias. Neste sentido, o PT foi inegavelmente o desaguadouro dos votos das classes que o Governo Lula mais beneficiou, C, D e E. Os mais pobres e a nova classe média ascendente. Mas, segundo os cientistas sociais, na medida em que sujeito ascende na escala social e conjuga mais intensamente os verbos ter e consumir, vai ficando mais conservador. A ser verdade, está criado para o PT da era Dilma o desafio de conservar o apoio e o voto destes segmentos.
Especialmente agora, quando, no julgamento do STF, o ministro Joaquim Barbosa faz picadinho da história do PT e a oposição, também em sentido amplo, mira a desconstrução do legado e da biografia de Lula. Tempos difíceis, e tudo tende a piorar. Mas o país melhorou.
Uma pergunta
Os advogados de defesa gostariam de perguntar ao ministro Joaquim Barbosa por que ele separou os réus petistas que receberam do valerioduto (Paulo Rocha, João Magno e professor Luizinho, afora João Paulo Cunha) dos líderes de outros partidos da base. Se estivessem todos na mesma fatia, seria complicado afirmar que os petistas receberam "vantagens indevidas" para votar a favor do Governo do PT.
Do além, o vice-presidente José Alencar gostaria de informar a Barbosa que o PL era o seu partido, tendo obrigação de votar a favor do Governo. Que, de fato, Waldemar colocou a faca no pescoço do PT, condicionando o ingresso do PL na coligação, sem o quê Alencar não poderia ser vice de Lula, ao financiamento da campanha de seus deputados. Afinal, assim como a verticalização, era proibida a coligação com outros partidos. Os jornais da época publicaram. O PT demorou a pagar, gerando queixas frequentes de Waldemar. O PT ficou devendo até à COTEMINAS, empresa de Alencar, que fabricou as camisetas da campanha.