Zeca Dirceu
Ao longo de todo o julgamento da ação penal 470, conhecida
como "mensalão", o que mais ouço são questionamentos sobre como me
sinto, assistindo à condenação de meu pai.
José Dirceu, uma das figuras públicas mais conhecidas do
país, foi e é um excelente pai. É um ótimo amigo da minha mãe Clara e
sempre foi exemplo para mim.
Nossa relação é de amor, amizade e cumplicidade. Ainda
adolescente, quando tive vontade de trabalhar, ele me incentivou a
vender sorvete e maçã do amor. Depois, tornei-me empresário e pude
contar com ele. Ingressei na política e meu pai esteve ao meu lado. Fui
prefeito de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, por dois mandatos e hoje sou
deputado federal. Recebi apoio, carinho e compreensão dele em tudo o que
me propus a fazer.
Amo muito o meu pai. Tenho orgulho dele. Da coragem na
juventude, saindo aos 16 anos de Passa Quatro, em Minas Gerais, para São
Paulo. Admiro a luta dele e de muitos outros jovens contra a ditadura, o
seu papel na redemocratização do país, o seu engajamento no movimento
Diretas-Já.
Inspira-me seu trabalho de construção, organização e
modernização do Partido dos Trabalhadores, levando Lula e Dilma Rousseff
a três mandatos presidenciais reconhecidos por índices recordes de
aprovação pelos brasileiros.
São governos que transformaram o Brasil, num movimento
inédito de distribuição de renda e inclusão social que melhorou muito a
vida dos que mais precisam da política e do governo.
Obviamente não me sinto bem vendo meu pai condenado. O que
tem me tranquilizado é perceber que a grande maioria do povo brasileiro
sente o que eu sinto: que esse veredito do STF (Supremo Tribunal
Federal) é a maior injustiça já cometida contra um líder político no
Brasil.
Um dos sinais disso é que, apesar de toda a publicidade
negativa produzida pelo julgamento, o PT, mais uma vez, foi o partido
mais votado no primeiro turno das últimas eleições municipais, com 17
milhões de votos.
Tenho recebido mensagens de apoio e solidariedade, vindas
desde o mais simples cidadão, que pude encontrar nas mais de 200 cidades
paranaenses que visitei durante esta campanha eleitoral, até as mais
importantes autoridades, que encontro no dia a dia de Brasília.
A injustiça não é só contra meu pai, é contra a política.
Contra o Brasil, contra o Estado Democrático de Direito. Principalmente
pelos dois pesos e duas medidas que a imprensa e o STF adotam. O
"mensalão" do PSDB é mais antigo, mas não há a mesma pressa nem os
atropelos para o julgamento, como foi feito com a ação 470.
O que eu desejo é que esses erros sejam corrigidos no
futuro. Que cidadãos comuns e políticos não sejam condenados sem provas,
apenas porque "parecem ser culpados", ou porque "não tinham como não
saber do crime".
A certeza que carrego comigo é a mesma que minha família e
minha avó, dona Olga, hoje com 91 anos, tinham na década de 60, quando
meu pai foi preso pela ditadura: será muito difícil.
Muitos não compreenderão isso neste primeiro momento. Mas
os anos vão passar. Deus dará saúde ao meu pai e, mesmo que seja após
muitos anos, como foi na ditadura, ele, o Zé dos petistas, vai dar a
volta por cima.
Sua luta por um Brasil melhor continua, com Lula e com
Dilma, de mãos dadas com a ampla maioria do povo brasileiro -um povo de
bem, que não se deixa enganar nem pela mídia nem pelos equívocos
históricos de um tribunal que julga sob pressão.
Força, pai, para mais uma batalha!