"Um juiz não deve ter medo de nada nem de ninguém" |
Quando
surgiu o golpe, em 1 de abril de 1964, eu tinha 11 anos. Lembro de crianças,
juntas, irmos à beira da Avenida Brasil ver os tanques passarem. Nós fazíamos aquilo
todo 7 de setembro (morava em Coelho Neto, a beira da Avenida). Naqueles dias,
nada sabíamos.
Logo
depois fui para o Ginásio, ali mesmo, no bairro. Escola inaugurada por
Lacerda, Governador do então Estado da Guanabara. Fui a inauguração, cantar os
Hinos do Estado e do Brasil. Fiz concurso de admissão e entrei.
Eu
e alguns amigos tentamos reabrir o grêmio da escola, no que fomos desestimulados pela
diretora Marisa Seroa da Mota, que nos dizia apenas: “Não pode. A escola não
tem condições para isso” nos poupando de saber que vivíamos um estado de excessão. Nós só queriamos espaço para organizar festas, jogos,
nada de politica. Não tinhamos visão.
Comecei
a enxergar alguma coisa, quando aos 17 anos fequentava a igreja Católica da
Pavuna. Ali percebi o que realmente se passava.
Aos
19 entrei na Refinaria de Manguinhos, meu 1º emprego, e lá sim, me dei conta da ditadura. Mas já
estávamos em 1972/73, com Geisel. Dai em diante fui lendo me informando e me
alinhando a esquerda de todo aquele processo.
E, 1977 fui demitido da Refinaria
por incitar uma greve. Fiquei vários anos
sem conseguir emprego, perseguido de leve, monitorado diria eu. Um
ex-dirigente do Sindicato, um pelego
chamado Floris, oriundo da Aeronática como “olheiro” no sindicato, depois de
algumas cervejas, confessou que fora contactado nas férias para vir “urgente ao
Rio, pois agitadores queriam fazer greve no ramo Petróleo”. A mim, meio tosco,
garantiu que iria ter dificuldades de arrumar outro emprego. E tive.
Mas
a vida seguiu seu curso. Retornei a fabrica....mas isso é uma história para
outro dia.
Hoje,
quero mandar um recado ao Sr. Ministro Fux.
Eu tenho medo da ditadura.
Quando
tomei consciência, vi o que tinha acontecido e pude perceber porque, por exemplo,
no meio de uma reunião de grupo de jovens, aparecia “um pai” para acompanhar a
reunião. Como já era mais consciente, eu era um dos que tratava de proteger a
turma e abordávamos temas “religiosos” somente.
Soubemos
de ameças a pessoas amigas, de perseguições, de gente que “morreu” oficialmente,
mesmo estando viva.
Descobri
o que eram garantias constitucionais que não existiam. Pude conviver com
parceiros de fábrica que tinham que esconder suas convicções politcas, para não
serem presos ou torturados.
Vivi
num clima sem liberdade de imprensa e vejo que, hoje, muitos daqueles que
apoiaram a ditadura, o golpe, estão ai a tecer elogios. Seu amigo Ministro Marco
Aurélio chegou a dizer que foi “um mal necessário”. A Folha chama de “ditabranda”.
Pegaram
um país com 15 milhóes de dólares de divida externa e devolveram 21 anos depois,
com 150 milhões de dólares de dívida. Acabaram comn todas a lideranças possíveis que
poderiam mudar esse pais, isso tudo porque viam um fatasma de comunismo, de
ditadura sindicalista, num presidente que só falava aquilo que TODOS
precisavam ouvir.
Levarmos mais de 40 anos para realizar as reformas. Nem
foram todas as que deveriam. Mas LULA e DILMA vem dando continuidade a propostas
de brasileiros que queriam ver o pobre, o negro, os mais abandonados, serem
resgatados em sua cidadania.
Tenho
medo sim, Sr. Fux de que agora, a ditadura seja capitaneada por Vossas excelências,
do judiciário. E é bom lembrar que ainda existe no STF juiz que foi nomeado com resquícios do Regime Miltar.
Tenho
medo. Mas não fugirei a luta. O meu medo não leva a que eu me acovarde, como
parece que alguns do STF resolveram fazer. Se acovardaram diante do 4º poder,
hoje.
A MIDIA.
Tenho
medo sim, e até respeito, por esses que, como Vossa Excelência acham que estão
fazendo um bem a esse pais com as atitudes que vêm tomando nos últimos tempos.
Mas
o medo não me imobiliza, pelo contrário, como peretenço ao reino animal,
atacado, com medo, reajo. Mas minha reação é essa aqui.
No teclado.
Na
blogosfera.
Não
me calarão!
Não
passarão!
Paulo Morani
Rio de Janeiro