Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula |
Lula comentou temas ao lado do líder do SPD, Frank-Walter Steinmeier (à direita)
Lula disse hoje aos líderes do SPD que essa
crença o levou ao Irã, em 2010, para tentar um acordo para o uso
pacífico da energia nuclear
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conversa hoje com
lideranças do SPD, o partido democrata alemão, na Fundação Friedrich
Ebert, defendeu o diálogo como o principal instrumento da política
internacional.
Ao lado do ex-ministro de relações exteriores da Alemanha e líder
da bancada do SPD, Frank-Walter Steinmeier, Lula comentou que a recusa à
inclusão dos países em desenvolvimento no Conselho de Segurança da ONU e
o desprezo ao diálogo são parte da mesma resistência à mudança nas
relações de poder internacionais. “O problema é que quem está lá [no
poder] não quer repartir o poder. É muito cômodo do jeito que está”.
Para ele, a política teria como resolver grandes conflitos mundiais
como, por exemplo, o do Oriente Médio, mas grandes interesses acabam
interferindo também nas decisões dos organismos de governança
mundial: ”Eu acho que tem gente no mundo que não quer paz, quem quer paz
é o povo, mas tem governante que precisa da discórdia para poder ser
importante. Senão, não teria nenhuma explicação a gente não ter paz no
Oriente Médio. A mesma ONU que criou o Estado de Israel, por que que não
cria o Estado palestino?”.
Frank-Walter elogiou as mudanças na política externa do Brasil e
disse que foi testemunha do empenho do brasileiro em botar em prática
sua disposição para o diálogo. “O que o presidente lula nos mostrou na
América do Sul foi que apesar das diferenças de interesse entre os
países, ele sempre optou por falar, mesmo com os parceiros difíceis.
Essa política de inclusão dos parceiros mudou a América do Sul. E acho
que mudou para melhor”, completou.
Foi a crença de que a política deve ser exercida para a promoção da
paz mundial que o levou ao Irã, em 2010, relatou o ex-presidente
brasileiro. “Eu saí do Brasil e fui ao Irã contra a vontade de todo
mundo. Eu estava convencido que era possível convencer o Irã a assinar o
documento que a agência precisava. Eles me diziam assim ‘Lula, você é
ingênuo. Você tá acreditando no Ahmadinejad e ele não fala a verdade’. E
eu falei, eu sou ingênuo, mas eu acredito na política. Por que uma vez
eu perguntei, nessa reunião de Princeton, Obama, você já conversou com
Ahmadinejad? Não. Sarkosy, você já conversou com Ahmadinejad? Não.
Angela Merkel, você já conversou com Ahmadinejad? Não. Berlusconi, você
já conversou com Ahmadinejad? Não. Hora, se ninguém tinha conversado com
o cara, que diabo de política é essa?”.
Ele contou então que ainda assim foi ao Irã e conseguiu que ele
assinasse o documento que a agência precisava, um compromisso de uso
pacífico da energia nuclear. “Quando eu pensei que o Conselho de
Segurança da ONU iria me dar um prêmio de agradecimento porque nós
conseguimos o que eles não conseguiram, eles deram a maior demonstração
de ciúmes do mundo e ainda assim resolveram punir o Irã”, contou ele.
Sistema financeiro
Em outro momento da conversa, o ex-presidente Lula falou sobre o
papel do FMI e a incapacidade dele lidar com a crise nos países ricos e
propôs uma reflexão sobre o papel do sistema financeiro.
“Quando caiu o muro de Berlim, muita gente ficava deprimida. E eu
dizia, graças a Deus o mundo está livre para pensar outra vez. Eu acho
que essa crise não é um chamamento ao desespero, é um chamamento para
que a gente discuta coisas novas, que a gente discuta o papel do sistema
financeiro no mundo. Um banco não pode existir transacionando papéis,
ele tem que financiar o setor produtivo”, defendeu ele.
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