by bloglimpinhoecheiroso
"VENDIDA POR 10 RÉIS DE MEL COADO" |
Sérgio Troncoso, via Blog do Luis Nassif
O
Lucio Flavio Pinto produziu textos, com pouco tempo entre eles,
desnudando alguns pontos sobre a Vale privatizada e se afinal ela
realmente ajuda o País mais do que quando era estatal.
Lúcio Flávio Pinto em 19 de maio de 2012
De
1997, quando a Lei Kandir entrou em vigor, isentando de imposto a
exportação de produtos semi-elaborados (ou não industrializados), até o
ano passado, a antiga Companhia Vale do Rio Doce recolheu pouco mais de
540 milhões de reais em ICMS ao Pará pela venda ao exterior do minério
de ferro de Carajás, o melhor do mundo. O ano recorde de pagamento do
principal imposto estadual pela ex-estatal foi 2009, quando o valor
chegou a R$197 milhões.
Nos
10 anos dos governos tucanos seguidos de Almir Gabriel e Simão Jatene,
de 1997 a 2006, o recolhimento de ICMS somou R$236 milhões. Nos quatro
anos de Ana Júlia Carepa, do PT, a soma foi de R$304 milhões.
Por
incrível que possa parecer, de 1997 a 2001, a Vale contribuiu para o
erário com menos de R$6 milhões em impostos sobre minério de ferro
exportado, o principal item da pauta de exportação do Pará e do Brasil.
Em 1997 a CVRD foi privatizada e, não por mera coincidência, entrou em
vigor a famigerada Lei Kandir, de autoria do ex-ministro de Fernando
Collor de Mello e então deputado federal por São Paulo, Antônio Kandir. O
ICMS pago pela Vale foi então de R$18.828,37. Menos do que pagou ao
tesouro estadual um supermercado da esquina.
O
recolhimento deu um “enorme” salto no ano seguinte: foi para R$173 mil.
Patinou em R$177 mil em 1999. Saltou para R$1,9 milhão em 2000 e foi
multiplicado para R$4,5 milhões em 2001. Ou seja: em seis anos, a média
anual de contribuição tributária da mineradora para o Estado foi de
R$1,2 milhão. Parabéns ao deputado Kandir. E – provavelmente – otras
cositas más para ele.
Aí
a China atacou o mercado internacional com sua fome insaciável de aço. O
ICMS recolhido em 2002 alcançou R$38 milhões. Baixou para R$26 milhões
do ano seguinte, infletiu para R$38 milhões em 2004 e ficou pouco acima
de R$60 milhões em 20005 e 2006.
Neste
caso, sim, por mera circunstância quanto a políticas e realidades
locais, a fatura tributária da Vale despencou para pouco abaixo de R$40
milhões entre 2007 e 2008, já no governo de Ana Júlia. Aparece então o
fenômeno de 2009, dos R$197 milhões. Graças à recuperação da vitalidade
da economia chinesa depois da crise financeira internacional. Mas entre
2010 e 2011 a queda voltou a ser brutal: para R$29 milhões e R$31
milhões nos dois anos, respectivamente. Nos quatro meses deste ano a
conta ainda não chegou a R$12 milhões
O
minério de ferro ainda é o grande negócio da Vale – no mundo, no Brasil
e no Pará. Mas os números mudam com o avanço da mineradora sobre outras
substâncias minerais depositadas no subsolo de Carajás. No mesmo
período a exploração de ferro na nova mina, a de Serra Leste, subiu de
R$6 milhões no acumulado até 2006 para R$299 milhões em 2001, sendo
R$259 milhões só nesse último ano. Nesses 14 anos, a exploração do cobre
da Serra do Sossego rendeu R$218 milhões de ICMS. A iniciante produção
de níquel do Onça Puma e do Vermelho recolheu pouco mais de R$70
milhões.
Todo
o Sistema Norte de mineração da Vale rendeu em 14 anos aproximadamente
R$1,3 bilhão de ICMS ao Pará. A média é de menos de R$100 milhões por
ano. O Pará vai viver disso?
Esta é a conta do povo. Agora, a contabilidade da empresa.
Em
2011, as exportações totais do Pará foram de 18,3 bilhões de dólares
(em torno de R$33 bilhões), sendo quase US$17 bilhões (ou mais de 90% do
total, ou mais de R$30 bilhões) de produtos de origem mineral, em bruto
ou semielaborados – isentos de impostos, portanto.
A
Vale exportou no ano passado 97 milhões de toneladas de minério de
ferro de Carajás, com faturamento de 11,7 bilhões de dólares,
correspondentes a quase 20 bilhões de reais. Pois bem: esses R$20
bilhões renderam R$30 milhões de ICMS. Ou 0,15%. Alíquota de
desmoralizar qualquer erário; de massacrar qualquer povo. E fazer a
festa de outro povo, como o chinês: desses 97 milhões de minério de
ferro extraídos e exportados, 47 milhões (exatamente a metade do total)
foram para a China, que pagou US$5,8 bilhões.
Dá
uns US$120 por tonelada. É muito se comparado com os US$15/25 por
tonelada do início de Carajás, na metade dos anos 1980. Mas quem possui
minério igual? E quando ele acabar, não depois de 400 anos de
exploração, conforme se previa inicialmente, mas em menos de um século,
na escala atual de lavra? A partir de 2015 a produção passará para
inacreditáveis 230 milhões de toneladas anuais?
Talvez
continue a ser maravilhoso para os donos de papéis da Vale com direito a
dividendos prioritários, mas e para o Brasil? E para o Estado do Pará?
Quem garante? Quem sabe das coisas?
Todos deviam saber. Mas raros se interessam. O que é uma pena – e muito cara. Criei um blog (www.valeqvale.wordpress.com)
justamente para conhecermos melhor essa portentosa companhia, esfinge
ou cavalo de Troia Poucos se apresentaram. Agora estou colocando nas
ruas um dossiê especial sobre a Vale (A Vale engorda. O Pará emagrece”, é
o título da publicação, com 44 páginas).
É
tentativa de provocar o debate, despertar o interesse e mobilizar a
vontade dos paraenses. Mais tarde será irremediavelmente tarde. Como já
está sendo. Os paraenses continuam desatentos ao movimento do maior trem
de cargas do mundo, que leva o filé-mignon dos minérios de Carajás para
o exterior, com destino certo: a Ásia. A história do Pará parou, como
manda a dança. O trem, não.
Lúcio Flávio Pinto em 22 de novembro de 2012
Artigo escrito em 2006 possibilita acompanhar o crescimento da Vale até o tamanho de multinacional.
Em
2002, dez cidadãos propuseram, perante a justiça do Rio de Janeiro, uma
ação popular contra a venda da Companhia Vale do Rio Doce, realizada
cinco anos antes, em abril de 1997. Tiveram o cuidado de pedir
celeridade processual porque um dos autores já estava com mais de 65
anos de idade.
Mostraram
também a relevância de uma definição breve em função da natureza do
pedido, que pretendia obrigar a ex-estatal a reparar os danos causados
ao interesse público por sua privatização açodada, pelo seu valor de
venda subestimado e pelo não cumprimento de obrigações que lhe estavam
impostas.
Passados
quatro anos, a ação continua sem qualquer decisão na 12ª vara cível do
Rio. Constataram os autores que os réus adotaram em conjunto uma
estratégia para criar um fato consumado, “tornando ineficazes quaisquer
medidas judiciais”. Para alcançar esse propósito, aproveitavam-se “da
prudência natural dos julgadores, que somente se animam a exercer o
Poder Geral de Cautela quando configuradas situações de risco iminente e
manifesto, mas que às vezes chegam a um ponto sem retorno, levando a
cogitar da paradoxal tese da ‘sanatória de nulidades em homenagem à
boa-fé’”.
Mesmo
assim, decidiram, no dia 30 do mês passado [agosto], acrescentar à ação
inicial um requerimento de protesto, notificação e interpelação para
assegurar que o objetivo da demanda não seja prejudicado ou mesmo
inviabilizado: obrigar a CVRD a recolher ao tesouro nacional
“expressivas parcelas pecuniárias” que teria sonegado, graças a
condições leoninas que a favoreceram na privatização. Esse ressarcimento
terá que ser calculado sobre os enormes lucros líquidos que a empresa
acumulou desde 1997.
O
sinal de alerta soou quando a Vale do Rio Doce anunciou, também em
agosto, que apresentara uma “oferta hostil” para a aquisição de todas as
ações ordinárias (com direito a voto nas decisões da empresa) da Inco
(International Nickel), do Canadá, pelo preço à vista de 86 dólares
canadenses por cada ação ordinária, ou 17,7 bilhões de dólares
americanos no total, correspondentes, numa livre conversão cambial, a
38,4 bilhões de reais.
Esse
valor – lembram os autores populares – equivale a mais de 10 vezes o
preço pago (R$3,38 bilhões) para a proposta vitoriosa de aquisição do
controle acionário da Vale pelo consórcio formado pelo Bradesco, a
Bradespar e a Companhia Siderúrgica Nacional, na véspera do leilão de
privatização.
Na
nota obrigatória de comunicação que enviou à Comissão de Valores
Mobiliários, a Vale informou que quatro bancos europeus – ABN Amro, UBS,
Credit Suisse e Santander – dariam suporte financeiro à operação, e que
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se
colocou à disposição para também apoiar a transação.
O
anúncio sobre a maior oferta de compra de uma empresa já apresentada em
toda a história da América do Sul teve um efeito imediato: duas
agências de classificação de risco, a Moody’s e a Fitch, decidiram
revisar negativamente os ratings da Vale. Isso porque, se a oferta da
ex-estatal for aceita, sua dívida passará de US$5,9 bilhões, em 30 de
junho, para US$25,6 bilhões. Um crescimento de mais de quatro vezes,
capaz de causar preocupações a analistas mais rigorosos.
Os
autores se reportam ainda a um comentário que Miriam Leitão fez em sua
coluna de economia no jornal O Globo. Segundo ela, o Canadá será “o
maior desafio que a Vale tem pela frente. A empresa terá de convencer as
autoridades canadenses de que será um bom negócio para o país. Antes de
tudo, os investidores terão de dizer se querem vender para a Vale.
Mesmo que os investidores prefiram vender para a Vale, as autoridades
canadenses poderão dizer não. Por uma lei chamada Canadian Act, o
governo do país levanta uma série de questões sobre a operação antes de
aprová-la. E promete dizer sim ou não em 45 dias. A Vale terá de provar
que tem boas intenções, que está comprando a empresa para mantê-la
funcionando e investir nela”.
–
Não é exagero prever – observam os autores – que, no caso de resultados
negativos como entrevistos pelos comentaristas especializados, o
controle acionário da CVRD, objeto do multifário contencioso popular,
seja transferido ao consórcio de bancos compromissados para a linha de
financiamento, a menos que o principal agente da política de
investimentos do Governo Federal – a instituição financeira pública
BNDES – conceda o apoio financeiro subsidiário suficiente, negado em
crises econômicas similares recentes (por exemplo, caso Varig), fazendo
real mais uma vez a conhecida fórmula de que, no Brasil, “privatizam-se
os lucros e socializam-se os prejuízos”.
Dizem-se
constrangidos ao constatar, em momentos como esse, “a vocação de terra
espoliada, cornucópia do mundo, como o Brasil, cujas autoridades –
diversamente de outros países, como o Canadá no exemplo da hora – não se
preocupam nem precisam ser convencidas se uma operação do vulto
anunciado ‘será um bom negócio para o país’”.
Mas
enquanto se compromete publicamente a”participar como membro da
comunidade canadense”, a partir da compra da Inco, a segunda maior
produtora de níquel do mundo (e dona das maiores jazidas do minério), a
Vale não demonstra o mesmo cuidado com suas obrigações no país nativo,
“inclusive omitindo mais uma vez em comunicados dessa natureza o fato de
existir um enorme contencioso popular” no Tribunal Regional Federal da
1ª Região, com sede em Belém, questionando a titularidade do controle
societário da empresa. Desse contencioso “pode resultar no decreto
judicial de nulidade da venda”.
Os
autores assinalam “o mesmo comportamento descuidado” perante a justiça
carioca: nenhum dos três personagens acionados (a Vale, a União e o
então presidente Fernando Henrique Cardoso) teve “a preocupação de
informar nos autos a operação financeira de alto risco, que põe em
perigo de dano irreparável os frutos civis (lucros líquidos), que servem
de base ao objeto perseguido na ação popular”.
Entre
os quais está o recolhimento dos valores devidos ao fundo de
melhoramento e desenvolvimento regional a partir dos lucros líquidos da
Vale nos 12 Estados onde a ex-estatal atua. Com o beneplácito e comando
do BNDES, essa obrigação legal foi substituída por uma “doação ridícula
aviltada” de R$86 milhões.
Os
autores alertam ainda que a operação de compra da Inco pela Vale, se
consumada, além de frustrar os efeitos da ação popular e desrespeitar os
direitos dos cidadãos, feridos pela venda da estatal, “representa em si
mesmo um manifesto atentado à dignidade da Justiça Brasileira”.
Mesmo
que não consigam uma decisão judicial antes de formalizada a transação,
anunciam a intenção de propor uma ação de atentado, requerendo a
declaração de nulidade da compra da Inco pela Vale.
De
imediato, pediram a intimação dos responsáveis pelas duas empresas,
para que eles não aleguem no futuro terem agido sem dolo, sabendo que
estão usando “recursos financeiros imprescindíveis para assegurar
provisão para contingências (possíveis perdas com a ação popular em
curso)”.
Também
querem a intimação do BNDES, considerando que seu presidente, Demian
Fiocca, “tornou público o propósito de suprir com refinanciamento os
eventuais danos materiais” decorrentes da aquisição da empresa
canadense, “sendo certo que os recursos a serem utilizados para tanto
ressumam interesse público”. Pedem igualmente a ampla divulgação do
inteiro teor da petição, inclusive no Canadá,
Pode
ser que os autores da ação popular continuem a esbarrar no silêncio
judicial, mas talvez eles consigam tirar a opinião pública do estado
letárgico em que o estrondoso anúncio da aquisição da Inco a tem mantido
desde então, fazendo-a pensar em outras consequências desse ato e não
só na consagração da CVRD como a primeira multinacional brasileira para
valer.
Lúcio Flávio Pinto em 10 de janeiro de 2013
No
dia 20 de dezembro a Vale informou à opinião pública ter concluído a
avaliação anual da mineração de cobre de Onça Puma e dos ativos de
alumínio, ambos no Estado do Pará, “o que implicará no reconhecimento do
impairment antes de impostos de US$4,2 bilhões, o que impactará nosso
resultado contábil no quarto trimestre de 2012”.
A
linguagem codificada de “economês” do comunicado deve ter prejudicado o
entendimento da gravidade da questão, acessível apenas aos iniciados e
aos integrantes do “mercado”.
Em
vez de citar a expressão técnica em língua estrangeira, a mineradora
brasileira podia prestar uma homenagem póstuma a Joelmir Betting. Ele
foi o primeiro jornalista da era atual a se comunicar com seus leitores,
ouvintes e telespectadores em linguagem humana inteligível. Combateu a
irracionalidade da linguagem cifrada, que a Vale voltou a usar na sua
nota oficial no encerramento de 2012. Além de ferir o estilo no léxico
nacional.
A
expressão impairment significa que a empresa perdeu valor em termos
quantitativos, mas também em excelência, poder ou eficiência. O termo
tem origem no latim; em francês se tornou empetrer.
Claro
que o mercado ao qual se destina em primeiro lugar a mensagem da Vale
só usa o inglês e tem autorização legal para fazê-lo. Mas por que deixar
de lado o português, mais próximo do léxico latino? Questão de
esnobismo técnico ou opção consciente pelo recado dirigido só aos
iniciados?
Linguagens
à parte, a Vale reconheceu, afinal: os problemas surgidos com os dois
fornos de Onça Puma determinaram a paralisação total de suas operações
de ferro-níquel desde junho de 2012. Segundo o comunicado, após analisar
o caso, a Vale “decidiu reconstruir um dos fornos, com custo estimado
em US$188 milhões em 2013, e planeja a retomada da operação para o
quarto trimestre de 2013”.
Em
virtude desses problemas “e diante da atual situação de mercado para
ferro-níquel, a valoração de Onça Puma determinou a necessidade de
reconhecimento de impairment antes de impostos de US$2,848 bilhões. O
valor contábil de Onça Puma era de US$3,778 bilhões em 30 de setembro de
2012”.
Prossegue a comunicação oficial da empresa:
“A
volatilidade dos preços do alumínio e as incertezas macroeconômicas
sobre a economia europeia contribuíram para redução do valor de mercado
da nossa participação de 22% na Hydro ASA (Hydro), produtora de alumínio
norueguesa, a um nível inferior ao valor contábil do investimento. Com
base nos preços das ações da Hydro em 30 de setembro de 2012, estamos
reconhecendo impairment antes de impostos de US$1,3 bilhão, o que
afetará nosso lucro no 4T12 [quarto trimestre do ano passado].
Apesar
destes impactos, permanecemos confiantes nos fundamentos de longo prazo
do mercado global de níquel. Ao mesmo tempo, acreditamos no potencial
dos ativos da Hydro para criar valor significativo para o acionista como
resultado de uma combinação única de uma rica dotação de recursos
naturais e de liderança tecnológica em alumínio.
Os
impairments anunciados não terão qualquer efeito no fluxo de caixa da
Vale e serão tratados como itens excepcionais. Nossa revisão anual de
ativos será concluída em conjunto com a divulgação de nossas
demonstrações financeiras de 2012 em 27 de fevereiro de 2013”.
Segui
linearmente o texto divulgado pela Vale para mostrar que se a empresa
praticasse de fato os princípios de transparência que proclama em suas
numerosas peças de publicidade, teria dito logo de início que seu valor
contábil de balanço, a ser divulgado no próximo mês de fevereiro,
sofrerá uma redução de mais de 4,2 bilhões de dólares.
A
causa são os graves problemas operacionais na fábrica de níquel do Onça
Puma, que terá uma redução de valor de mais de US$2,8 bilhões, e da
“volatilidade” do alumínio, cujos preços continuam baixos no mercado
internacional.
Embora
a Vale diga que a correção nos fornos da usina do Onça Puma será
suficiente para que a fábrica volte a funcionar no final deste ano, essa
previsão parece otimista. O projeto já era muito problemático quando
estava sob o controle da empresa canadense Canico.
Sua
aquisição pela Vale parece ter sido um impulso sem maior análise do
então presidente da empresa, Roger Agnelli, que ficou no cargo durante
10 anos, um recorde na história da antiga Companhia Vale do Rio Doce.
Uma explosão ocorreu no primeiro dos fornos em junho.
Quinze
dias depois, outra explosão no segundo forno, que continuou funcionando
como se nada de anormal tivesse acontecido. Parece que assim como a
compra e a implantação seguiram um ritmo acelerado, a operação da usina
manteve essas características.
A
perda de valor também comprova a irreflexão da Vale na transação que
transferiu todo o complexo de alumínio implantado no Pará, compreendendo
desde a mineração de bauxita e produção de alumina pela Alunorte (a
maior fábrica do mundo) até a metalurgia da Albrás, a oitava maior do
mundo, à Norsk Hydro. A multinacional norueguesa conseguiu assim sua
plena verticalização, da mina à indústria de transformação.
Em
troca, a ex-estatal recebeu da multinacional norueguesa 22% de suas
próprias ações. Em fevereiro de 2011, quando a transação se consumou,
essas ações valiam US$3,5 bilhões. Hoje valem US$2,2 bilhões. A Vale
entregou um polo integrado de alumínio em troca de ninharia. Foi um dano
irreparável à soberania do Brasil nesse setor vital da economia.
A
mineradora, que caiu do 2º para o 3º lugar no ranking mundial, o
primeiro abalo depois da era imperial de Roger Agnelli, diz ainda
acreditar no futuro. Só que ele se tornou menos certo do que antes. O
lucro, se houver em 2012, desta vez não terá os valores estratosféricos
do passado, que resultavam em dividendos sem igual para os seus donos e
acionistas. Mas não em ganho consolidado para o país.