Estudo sobre o Prouni em SP mostra que renda cresceu em 73% dos casos
Professora da PUC-SP entrevistou 150 ex-bolsistas do programa do MEC.
Na maioria dos casos, diploma dos
egressos é o primeiro da família.
Fabiana Costa, doutora em educação pela PUC-SP, apresenta sua tese em evento da UNE (Foto: Adolfo Sonteria/Divulgação/UNE) |
Uma pesquisa com ex-bolsistas do Programa Universidade para Todos
(Prouni) em São Paulo mostrou que quase três quartos deles conseguiram
aumentar sua renda após concluir o curso de graduação. De acordo com
Fabiana Costa, doutora em educação pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP), foram entrevistados 150 jovens que se formaram
no ensino superior entre 2010 e 2011, para identificar o impacto que a
bolsa de estudo teve na inserção dos egressos no mercado de trabalho e
na melhoria de sua condição socioeconômica. O Prouni distribui
bolsas de estudos para estudante de baixa renda em faculdades
particulares. O prazo de inscrição foi fechado nesta segunda-feira (21).
A pesquisa foi tema de sua tese de doutorado, defendida em novembro do
ano passado, e apresentada no último fim de semana no 14º Conselho
Nacional de Entidades de Base (Coneb) da União Nacional dos Estudantes
(UNE) em Recife (PE). Na pesquisa, 73,4% afirmaram que, depois de se
formarem, conseguiram aumentar sua renda em relação à época em que
ingressaram no ensino superior. Dentro deste grupo, 10,5% tiveram o
salário incrementado entre 71% e 100%, e 27,9% mais do que dobraram a
renda (em relação ao total de participantes, Fabiana afirmou que 18,6%
aumentou a renda em mais do que 100%).
A pesquisadora explicou ao G1 que o universo da
pesquisa abordou o mercado de trabalho e e a condição sócioeconômica
relativos à cidade de São Paulo. "A realidade foi feita com base na
capital. A pesquisa é feita dentro de um determinado contexto e um
determinado tempo", disse.
PESQUISA SOBRE EGRESSOS DO PROUNI
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Universo: 150 bolsistas do programa que concluíram a graduação entre 2010 e 2011 em São Paulo |
Inserção no mercado de trabalho: 85% deles afirmaram que estão trabalhando; desses, 64% têm carteira assinada e renda de um a cinco salários mínimos |
Nível socioeconômico familiar: 81% das mães e 91% dos pais dos bolsistas entrevistas não têm diploma universitário |
Melhoria da renda: Após conquistar o diploma,
73,4% dos entrevistados conseguiram aumentar sua renda. Dos 150
participantes, 18,6% conseguiu mais que dobrar sua renda |
Fonte: Pesquisa "O Prouni e seus egressos: uma articulação entre educação, trabalho e juventude", de Fabiana Costa, PUC-SP |
Outro número destacado por ela tem a ver com a utilidade do diploma
conquistado por meio das bolsas de estudo integrais ou parciais. De
acordo com a pequisa, 72,6% dos 150 bolsistas entrevistados afirmaram
que, atualmente, estão trabalhando na área em que se formaram no ensino
superior. O número de estudantes no mercado de trabalho antes e depois
de receberem a bolsa se manteve em 85%. Desses, 64% dos egressos tinham
carteira assinada e renda de um a cinco salários mínimos.
O Prouni foi criado pelo Ministério da Educação
em 2004 com o objetivo de oferecer bolsas de estudos integrais ou
parciais em instituições privadas de educação superior a estudantes com
renda de até três salários mínimos.
A seleção é feita exclusivamente pela internet, e as inscrições para o
processo seletivo do primeiro semestre de 2013 foram encerradas na noite
de segunda-feira (21). Nesta edição, são oferecidas 162.329 bolsas
distribuídas em 12.159 cursos de 1.078 instituições.
Primeiro diploma da família
Um dos dados da pesquisa de Fabiana que melhor definem o perfil
socioeconômico dos egressos do Prouni entrevistados é o fato de que o
diploma universitário deles foi o primeiro da família. "Os dados mostram
que 81% das mães e 91% dos pais dos entrevistados só têm o ensino
médio", afirmou Fabiana.
A educação formal dos pais e das mães dos bolsistas é parecida: 39% dos
pais tinha fundamental incompleto, e 23% chegaram a concluir o ensino
médio. No caso das mães, 36,6% delas abandonou a rede de ensino sem
terminar o ensino fundamental, e 21,9% chegaram ao fim do ciclo básico.
Além disso, 6% das mães e 5% dos pais dos estudantes que responderam às perguntas não sabem ler nem escrever.
"Os egressos enxergam o Prouni como porta de entrada e oportunidade de concluir a graduação", disse a pesquisadora.
Falta assistência e sobra burocracia
Fabiana, que há anos se dedica a pesquisar o programa do MEC, e
publicou um livro com sua dissertação de mestrado concluída em 2008, na
qual pesquisou a realidade dos bolsistas durante a graduação, afirmou
que muitos dos ex-bolsistas entrevistados para sua tese de doutorado
apontaram no Prouni os mesmos problemas que ela havia escutado há mais
de cinco anos.
O principal deles é a falta de assistência estudantil aos estudantes, o
que dificulta sua permanência na instituição. "Poderia haver mais
bolsas e auxílio para esses alunos de graduação, por serem de baixa
renda", sugeriu ela.
Além disso, muitos deles afirmaram que as instituições participantes do
Prouni oferecem cursos de baixa qualidade "em termos de conteúdo" e nos
quais, em muitos casos, o bolsista decide se matricular por falta de
opção. "O Prouni tem essa lacuna: O aluno não tem a opção de escolher
muito, vai fazer o curso que conseguiu na segunda ou terceira chamada,
se esforça e se dedica para isso."
O excesso de burocracia é outro fator de reclamação dos estudantes. A
bolsa integral custeia todo o valor da mensalidade e é destinada a
candidatos que tenham renda familiar per capita de até 1,5 salário
mínimo. Já a parcial custeia 50% da mensalidade e é oferecida a quem
possui renda familiar per capita de até três salários mínimos.
Porém, o programa exige a comprovação de renda todos os semestres, não
só no semestre de ingresso do bolsista. Fabiana conta que, quando fazia
seu mestrado, escutou casos de estudantes que perderam a bolsa por causa
de uma melhoria na renda familiar, mas isso faz com que, por exemplo,
muitos bolsistas evitem conseguir um estágio na área em que estudam com
medo de perder a bolsa.
No formulário de entrevistas para o seu doutorado, ela afirmou ter lido
mais depoimentos sobre esse tipo de limitação. "Se o programa é para
ajudar, por que ele vai perder a bolsa?", questiona.