Jango, na companhia de Tancredo, como deve fazer todo Presidente responsável |
Ao ir à Santa Maria (RS), Dilma repetiu Jango no incêndio do Gran Circus
Ao suspender todos
os seus compromissos em Santiago do Chile, aonde estava, para voar
imediatamente para Santa Maria (RS) e se solidarizar com as famílias das
vítimas fatais e visitar os enfermos, a presidente Dilma Rousseff
repetiu o gesto do ex-presidente João Goulart, em dezembro de 1961.
Jango,
maneira como era chamado, acompanhado do então primeiro ministro
Tancredo neves (no pequeno período do parlamentarismo brasileiro) também
visitou as vítimas do incêndio do Gran Circus Norte-Americano, ocorrido
em Niterói, em 17 de dezembro daquele ano, também um domingo. A
diferença é que enquanto Dilma visitou as vitimas no mesmo dia da
tragédia, Jango foi a Niterói no dia seguinte, dia 18.
O
então presidente, na presença ainda do então governador fluminense,
Celso Peçanha, ao percorrer as enfermarias do Hospital Antônio Pedro,
como o Jornal do Brasil noticiou, também chorou, como
ocorreu domingo com Dilma. A reportagem do jornal descreve que "o
presidente parou diante de uma menina de cor, envolta em gaze até o
queixo, e lhe perguntou se tudo corria bem.
A menina sorriu - e o
presidente levou as mãos aos olhos, afastando-se logo. Diante de uma
criança que mal respirava, exclamou, quase num sussurro: ‘Não é
possível, meu Deus’”
A tragédia no Gran Circus provocou um número
maior de vítimas do que o incêndio da boate Kiss, no domingo passado: um
total de 503 pessoas - 317 mortos no dia. Enquanto no domingo a quase
totalidade dos atingidos eram jovens, em 1961 a grande maioria dos que
morreram eram crianças.
Como relembrou o JB, em matéria publicada
em 2011 em alusão aos 50 anos da tragédia de Niterói,
o incêndio começou quando
a trapezista Nena terminava seu salto tríplice. O incêndio foi causado
pela vingança de três funcionários do circo após desentendimento com os
administradores do espetáculo. Na ocasião, o trio ateou fogo na lona de
cobertura e se alastrou facilmente pela lona parafinada que cobria o
picadeiro. Os jornais da época noticiaram o
crime como a “maior tragédia circense da história”.
Na época,
conforme os dados oficiais da polícia, foram responsabilizados pelo
crime Dilson Marcelino Alves, 20 anos, conhecido como
Dequinha, que tinha sido contratado provisoriamente pelo dono do circo,
Danilo Stevanovich, e ajudaria
na montagem do picadeiro. Considerado “preguiçoso”, o jovem foi demitido
três dias antes do evento. Isto o transformou no principal suspeito do
crime, pelo qual confessou a autoria poucos dias depois. Ainda segundo
os dados da polícia, ele contou com a ajuda de dois comparsas, Bigode e
Pardal.
Versão contestada
A versão de que o incêndio
foi criminoso, conforme o relato da polícia, porém, não foi aceita pela
maioria das pessoas, como disse o
jornalista Mauro Ventura – que escreveu o livro O espetáculo mais triste da história com detalhes do episódio – ao JB na reportagem sobre os 50 anos do
incêndio. Ao abordar personagens que vivenciaram o incêndio, o jornalista
afirmou que muitos acreditam que um curto-circuito pôs fim ao espetáculo.
Entre
as inúmeras
pessoas que se comoveram com o incêndio do Gran Circus Norte-Americano,
estava José Datrino, que mais tarde se transformaria no famoso profeta
Gentileza. Então empresário do setor de transportes de
cargas no Rio, Gentiliza interpretou a queima do circo como uma metáfora
do
incêndio no mundo. Sentiu-se chamado a abandonar o mundo material e
decidiu ir
para Niterói. No próprio terreno do incêndio, onde hoje está localizado o
hospital Policlínica Militar de Niterói, Gentileza fez um jardim e
passou a
pregar, ali, a bondade e a paz aos transeuntes.
Anos depois, elefanta virou heroína
A elefante fêmea Semba,
quando estava pronta para entrar ao picadeiro, começou a correr
desesperadamente após um pedaço da lona derretida pelo fogo cair em seu couro. Na
corrida desenfreada, o animal abriu caminho e salvou inúmeras pessoas, mas
também fez vítimas.
“Com a tromba, atirou a
distância dois assistentes, que conseguiram salvar-se. As feras escaparam,
embora nenhuma delas tenha conseguido abandonar as jaulas. Só alguns elefantes
saíram a correr, sendo imediatamente dominados pelos domadores”, escreveu o JB na
época.