Elio Gaspari - Eremildo, O Idiota! |
Secretárias
pressurosas emitiam a convocação em sustenidos de urgência pelos
corredores da revista 'Veja', nos anos 70: 'Eliiooooo, o Heitor!. Era
algo religioso. O telefonema-chave chegava invariavelmente um ou dois
dias antes do fechamento da edição semanal.
'Heitor', mais
especificamente, o coronel Heitor de Aquino Ferreira, acumulava
credenciais do outro lado da linha. Elas justificavam a ansiedade
incontida no trinado das secretárias.
Sua ficha corrida incluía o
engajamento, cadete ainda, na conspiração para derrubar Juscelino, em
1955; a ativa participação golpista para derrubar Jango, em 64; a
prestação de serviços para injetar músculos no SNI; a ação lubrificante à
passagem de Daniel Ludwig, o bilionário do projeto Jari, pelos
corredores do poder militar.
E assim por diante. Um quadro das sombras.
Um farejador dos bons ventos. Na conspiração golpista de 64, o capitão
Ferreira de Aquino preferia usar um codinome pretensioso: 'Conde de
Oeiras'. Nos telefonemas ao jornalista Elio Gaspari , sim, Gaspari era o
destinatário dos pressurosos arrulhos das secretárias de Veja, o já
coronel Heitor considerava desnecessário o anonimato.
Vivia-se um tempo
em que pertencer a certos círculos fazia bem ao currículo e ao ego. Dava
prestígio e holerite. Ademais de alimentar uma sensação de impunidade
quase cínica. Quando seus telefonemas ordenavam a rotina das pautas e
fechamentos de Veja, Heitor servia como homem de confiança, um
guarda-papéis de sigilos (as famosas 25 pastas) e porta-recados do
general Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil do ditador Geisel.
Era essa a carga simbólica que seus chamados propagavam pelos
corredores da Veja, um ou dois dias antes do fechamento. Às vezes no
mesmo dia; não raro mais de uma vez ao dia.
O destinatário Elio Gaspari,
a exemplo de outros protagonistas desse enredo à espera de um filme,
agora oferece lições de ética à democracia brasileira e se avoca o posto
de vigilante da moral e dos bons costumes na política.
Sobre esse mesmo
assunto, leia no Carta Maior o artigo do governador gaúcho, Tarso Genro:
'O alto comissário do Golbery não toma jeito'