Ato incluiu protesto contra governador Sérgio Cabral
Pouco mais de 100
pessoas participaram nesta segunda-feira
(1) de ato contra o golpe militar de 1964, que hoje completa 49 anos. A
manifestação ocorreu na porta do Cinema Odeon, na Cinelândia, em
frente ao Clube Militar, mesmo local onde há exatamente um ano houve
confronto
entre protestantes e militares da reserva, que comemoravam o início do
golpe em
um almoço. Neste ano, porém, o Clube Militar estava com as portas
fechadas e com
um tapume verde de isolamento.
Durante o ato desta segunda (01), banners com imagens de
presos, torturados e mortos da ditadura militar, como Carlos Marighella, Stuart
Angel, Luiz Carlos Prestes, Dinalva Conceição Oliveira, entre outros, foram
expostos.
A jornalista Hilde Angel, irmã de Stuart Angel, esteve
presente na manifestação e destacou que o momento é de construir uma nova
geração de patriotas.
“Agora é um momento onde a verdade começa a ser
lembrada. É hora de lembrar quem nós brasileiros somos, às vésperas dos 50
anos do início da ditadura militar. O comprometimento é com o patriotismo, de
formar uma nova geração de patriotas que lutam pela verdade de seu país. Até
hoje a família Angel não tem o corpo do Stuart para velar, chorar e enterrar. É
por isso que hoje venho de luto, de preto, para fazer desse manifesto um
velório, nesse espaço mais livre e democrático do Brasil, que é a Cinelândia”,
afirmou emocionada Hilde.
O mecânico Djalma Oliveira, irmão de Dinalva Oliveira
Teixeira e cunhado de Antônio Carlos Monteiro Teixeira, integrantes da
Guerrilha do Araguaia, mortos em 1979, seguia a mesma linha de Hilde e disse que a
luta é por um “enterro digno” aos familiares de mortos durante a ditadura.
“Desde 1979 conhecemos os fatos do Araguaia e nós, da
família de Dina (como a irmã era conhecida), em relação à morte, já estamos
conformados. O que não nos conformamos é não termos os corpos para realizar um
enterro digno, nossa luta há mais de 30 anos”, disse Djalma Oliveira,
que ainda afirmou: “a Comissão da Verdade só será plena, com um relatório
justo, se obrigarem os militares a abrirem os arquivos secretos, nos mínimos
detalhes”.
Respondendo processo por constrangimento ilegal, por conta
de uma foto publicada na imprensa em que aparecia cuspindo em um militar durante
o protesto do ano passado, o estudante Felipe Garcês não se intimidou e voltou
ao local nesta segunda. Segundo ele, que está sendo processado junto com o
cineasta Sílvio Tendler, continuar na luta pela abertura dos arquivos é um “dever”.
“Não quero me comparar aos mortos da ditadura militar, mas
depois da veiculação dessa imagem passei a sofrer ameaças por parte de alguns
militares. Fotos da minha filha de três anos, da minha mulher e do meu prédio
foram divulgadas. As ameaças eu entendo como natural da luta e é só metade do
que ocorreu durante a ditadura. Estar aqui presente mais uma vez é o melhor que
posso fazer para que a sociedade entenda o que aconteceu nesse período da
história do Brasil”, afirmou o estudante.
Apoio da sociedade civil
Um dos organizadores do ato contra a ditadura militar,
Theófilo Rodrigues, sinalizou a necessidade de a Comissão da Verdade ganhar mais
apoio da sociedade civil.
“É necessário mais
atividades públicas, nas ruas, que envolvam o sentimento da população em torno
dos resultados dos relatórios. A criação de comissões estaduais é um passo para
isso. Mas acredito que ganhar a sociedade seja o mais necessário no momento,
assim os militares não conseguirão impedir que as verdades venham à tona. Além
disso, temos que lutar para a comissão não ter um prazo para ser encerrada e
pela criação do Museu Memória da Verdade, que seria no antigo prédio Dops”,
afirmou Rodrigues.
Herança
Outro organizador do ato, Maurício Carneiro, o DJ Saddam,
ressaltou a presença de hábitos dos antigos agentes da ditadura militar na atual
polícia militar brasileira.
“Em todo o país a cultura repressora das polícias, de não
conseguir ter capacidade de lidar com manifestações civis, está ainda presente.
Existem torturas até hoje nas delegacias. Existem antigos torturadores da
ditadura que hoje chefiam delegacias de polícia. A Comissão da Verdade precisa
colocar em evidência todos eles e divulgar integralmente seus nomes”, destacou
DJ Saddam.
Fora Marín!
Em determinado momento do ato, manifestantes pediram a
demissão de José Maria Marín, atual presidente da Confederação Brasileira de
Futebol (CBF). De acordo com eles, Marín ajudou os militares na morte do
jornalista Vladimir Herzog.
Aldeia Maracanã
Durante o ato, manifestantes apoiadores da antiga Aldeia
Maracanã também estiveram presentes, protestando contra o que eles chamam de “Ditadura
do (governador Sérgio) Cabral”. Por conta de bandeiras de partidos como PCdoB e
PSTU houve um início de tumulto, mas nada além de discussão verbal.
“Não concordamos com a entrada de partidos políticos em atos
como esse. Eles não levam à causa para as ruas, e sim o partido. A esquerda
atual quer isso: se promover nessas manifestações”, afirmou um dos protestantes
pró-Aldeia Maracanã, Fabrício Silva.
A manifestação foi organizada enquanto o deputado Jair Bolsonaro (PP), distribuiu faixas de apoio à ditadura.