As escolhas de Dilma

As notícias que chegam dos correspondentes de Carta Maior na Europa formam um denso exclamativo de alerta. 

A austeridade estala o relho do desemprego nas costas de quase 27 milhões de pessoas no continente  - mais de 19 milhões só na zona do euro. 

A fome está de volta numa sociedade que imaginava tê-la erradicado com a exuberância da política agrícola  do pós- guerra, associada à rede de proteção do Estado social. 

A regressividade econômica se faz acompanhar da contrarrevolução  sempre que a esquerda troca a resistência pela adesão à lógica cega dos mercados. 

O fundo do poço é o ponto mais perigoso  de uma crise. 

As fragilidades estão no seu nível máximo.  

O próprio FMI alerta: nas condições atuais, cada unidade adicional de austeridade produz duas vezes mais decrescimento, do que no início do ‘ajuste'. 

O Brasil ingressa nesse capítulo do colapso neoliberal equilibrado em trunfos e flancos significativos. 

Se não dilatar o espaço da política na condução da economia, o governo corre o risco de perder o que tinha sem obter o que a ortodoxia lhe promete. 

Acreditar que o monólogo entre o BC e os mercados será capaz de reordenar a macroeconomia é terceirizar o país à lógica conservadora, até agora restrita à exortação midiática. 

Política é economia concentrada. 

O governo Dilma tem escolhas a fazer. 

E legitimidade para exercê-las. 

É a hora.