Como é o Partido do Futuro
"Uma democracia direta instrumentalizada pela Internet”, diz
o sociólogo Manuel Castells, estudioso dos movimentos sociais na Era
Digital.
O Partido X, da Espanha |
Manuel Castells é um sociólogo espanhol que tem se dedicado a estudar
os movimentos sociais na Era Digital. Seu livro mais recente, Redes de Indignação e Esperança,
faz uma investigação sobre as sublevações que ocorreram nos últimos
anos na Espanha (com os “indignados”), na Islândia, nos Estados Unidos e
no Oriente Médio.
Castells tem sido citado quando o assunto são os protestos. Ele acha
que as manifestações são resultado de uma nova forma de participação dos
cidadãos e surgem a partir de uma reação indignada a algo injusto. “O
problema está na política e na incapacidade dos partidos de ser
independentes em relação ao poder econômico”, diz.
Castells é um entusiasta do Partido X, o Partido do Futuro, criado na
Espanha por membros do 15-M (referente ao 15 de maio de 2011, quando 40
pessoas acamparam em Madri e acabaram detonando uma onda de passeatas
em todo o país, cujo intuito principal era promover uma democracia mais
participativa).
O Partido X, escreveu
Castells, é “um método experimental para construir uma democracia sem
intermediários, que substitua as instituições atuais, deslegitimadas na
mente dos cidadãos”. Ele acredita que o projeto “não é o de ser uma
minoria parlamentar, mas mudar a forma de fazer política.
Por meio de
democracia direta, instrumentalizada pela internet: propondo referendos
sobre temas-chave; coelaborando propostas legislativas mediante
consultas e debates no espaço público, urbano e cibernético; com medidas
concretas, a serem debatidas entre a cidadania e servindo de plataforma
para propostas que partam das pessoas”.
“Não existe ‘o movimento’ com estrutura organizativa nem
representantes, mas pessoas em movimento que compartilham de uma
denúncia básica às formas de representação política que desarmam as
pessoas ante os efeitos de uma crise que não causaram, mas que sofrem a
cada dia”.
Mais:
“No fundo, trata-se de pôr em primeiro plano a política das ideias,
com a qual enchem a boca os políticos — enquanto fazem sua carreira
acotovelando-se entre si.
A personalização da política é a maior
cicatriz da liderança ao longo da história, a base da demagogia, da
ditadura do chefe e da política do escândalo, baseada em destruir
pessoas representativas.
O “X” adotado como símbolo pelo partido do
futuro não é para esconder-se, mas para que seu conteúdo seja recheado
pelas pessoas que projetem, nesse experimento, seu sonho pessoal num
sonho coletivo: democracia e ponto.”
Castells foi um dos convidados da série de palestras Fronteiras do Pensamento. O site nenotícias transcreveu sua resposta quando perguntado a respeito dos protestos no Brasil:
“Fundamentalmente, os cidadãos do mundo não se sentem representados
pelas instituições democráticas. Não é a velha história da democracia
real, não. Eles são contra esta precisa prática democrática em que a
classe política se apropria da representação, não presta contas em
nenhum momento e justifica qualquer coisa em função dos interesses que
servem ao Estado e à classe política, ou seja, os interesses econômicos,
tecnológicos e culturais. Eles não respeitam os cidadãos. É esta a
manifestação. É isso que os cidadãos sentem e pensam: que eles não são
respeitados.
Veja que interessante é o caso da Praça Taksim e do Parque Gezi, em
Istambul.
Há meses, eles estão protestando contra a destruição do último
parque no centro histórico da cidade, onde seria construído um shopping
center, um complexo dedicado aos turistas, que nega aos jovens o espaço
que poderiam ter para se relacionar com a natureza, para se reunir,
para existir como cidadãos. Portanto, é a negação do direito básico à
cidade.
O direito, como disse Henri Lefebvre, de se reunir e ocupar um
espaço sem ter que pagar, sem ter que consumir ou pedir permissão a
autoridades.
O que muda atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de
informação, auto-organização e automobilização que não existia.
Antes,
se estavam descontentes, a única coisa que podiam fazer era ir
diretamente para uma manifestação de massa organizada por partidos e
sindicatos, que logo negociavam em nome das pessoas. Mas, agora, a
capacidade de auto-organização é espontânea. Isso é novo e isso são as
redes sociais. E o virtual sempre acaba no espaço público. Essa é a
novidade.”
Os “indignados” na Porta do Sol, em Madri |