Sem apoio do Congresso, Dilma insiste e diz que plebiscito é 'imprescindível'
Proposta de consulta popular é uma das principais bandeiras do governo após os protestos, mas enfrenta resistência entre parlamentares
"Dilma durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social" |
Dida Sampaio/AE
Apesar
de a Câmara já ter barrado a ideia de um plebiscito sobre a reforma
política válida para 2014 e do tema estar longe de um consenso no
Congresso, a presidente Dilma Rousseff insistiu nesta quarta-feira, 17,
que a consulta popular é "imprescindível" e urgente.
A integrantes do
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Dilma afirmou que ouvir a
sociedade é uma "resposta efetiva" às manifestações ocorridas no País.
"Tenho
recebido da sociedade e visto nas pesquisas que essa questão da
consulta popular é imprescindível, como resposta efetiva ao desejo
profundo que emanou das manifestações", disse Dilma.
Um dos
cinco pactos apresentados pela presidente durante a onda de protestos
do último mês, a proposta de fazer mudanças no sistema eleitoral via
plebiscito encontrou resistências entre lideranças da base e da
oposição.
Nessa terça, a Câmara formalizou a criação de um grupo de
trabalho responsável por definir os principais temas da reforma.
Reservadamente, alguns deles demonstram dúvidas quanto à aprovação de
mudanças amplas no sistema eleitoral. PT e PMDB, principal partido da
base, têm se desentendido sobre temas como fim da reeleição e formas de
financiamento de campanha.
Lideranças da oposição chegaram a afirmar que
a proposta de reforma era "manobra" do governo para tirar o foco dos
protestos.
Nesta manhã, a presidente disse que o plebiscito
também fazia parte das reivindicações vindas das ruas, que cobraram
mais valores éticos e maior representatividade.
"A gente viu o que era
cobrado nas ruas, nos cartazes. Não era cobrado diretamente 'faça um
plebiscito', mas um variante disso: mais ética, mais democracia, mais
oportunidade de ser ouvido", afirmou.
Durante seu discurso,
a presidente disse ainda que é era seu "dever" traduzir as demandas das
ruas em "em ações práticas de governo". "Vamos e estamos trabalhando
para implantar os cinco pactos, que são aprimorados e enriquecidos com a
contribuição de todos. Tenho segurança de que são indispensáveis ao
nosso País nesse momento", afirmou.
Em entrevista à rádio
Estadão nesta terça, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), coordenador
do grupo de trabalho da reforma política, afirmou que um portal será
lançado para coletar opinião dos cidadãos sobre quais temas devem ser
contemplados nas mudanças e que caberá ao Congresso viabilizar o
plebiscito.
"Mais direitos". A exemplo do que disse o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em coluna no New York Times,
Dilma afirmou que as manifestações recentes são reflexos das políticas
econômicas e sociais adotadas nos últimos dez anos, tempo em que o PT
está no governo federal.
"Quando criamos grande contingente de cidadãos
com melhores condições de vida, mais consciência de seus direitos, vimos
surgir um cidadão com novas vontades, anseios, desejos, exigências e
demandas", disse.
"Ninguém nesse ultimo mês de várias manifestações
pediu a volta ao passado. Pediram sim o avanço pra um futuro de mais
direitos", afirmou.