MÍDIA: COMO SERVIR A DEUS SEM TRAIR O DIABO?

 
Nunca a sorte política do PSDB - seus caciques e derivados - dependeu tanto da indulgência da mídia conservadora como agora.
 
E nunca, como agora esse centurião de todas as horas esteve tão frágil para ajudá-los. Aliviar ou não para um PSDB mergulhado até o nariz no conluio com oligopólios e corrupção no caso das licitações para compra de vagões do metrô, em São Paulo? 
 
A hesitação no ar é tão densa que dá para cortar com uma faca. Jorros de ambiguidade escorrem dos veículos impressos no café da manhã. Num dia, como na 4ª feira passada, a Folha escondeu o escândalo retirando-o da 1ª página. 
 
Na edição seguinte, porém, o jornal precipitou a publicação de um indício de envolvimento direto de José Serra com o cartel, em 2008. Jogou a informação no papel. Sem investigar a fundo, como deveria, e fez, quando o alvo eram lideranças progressistas. 
 
Não ouviu outros executivos de empresas participantes da mesma licitação, não biografou o braço direito do governador na operação denunciada pela Siemens. Não foi até Amsterdã ouvir testemunhas, refazer os passos de Serra. 
 
A pressa em veicular uma denúncia séria sem investigação anterior  -e tampouco posterior, sintetiza um certo desespero que perpassa todo o dispositivo midiático conservador nesse momento. 
 
A angústia deriva da difícil missão que os acontecimentos impõem ao jornalismo ‘isento' nos dias que correm. Como servir a Deus sem trair o Diabo? Foi o que tentou a Folha nesse caso. 
 
De um lado, mitigar a cumplicidade pública entre ela e Serra; de outro, ao comprometer o tucano, faze-lo de forma tão frívola, que levou o jornal a omitir até mesmo reportagens anteriores de sua própria lavra, que endossariam a denúncia da Siemens. 
 
Em 26 de outubro  de 2010, a  Folha revelou que seis meses antes da licitação dos lotes 3 e 8 da linha 5 (Lilás) do metrô, sua reportagem já tivera acesso aos nomes dos vencedores das obras.
Do Carta Maior