Trabalhadores do Banco Central mostram a verdade!

Delegacia Sindical do Sindsep-DF no Bacen
Texto divulgado a pedido dos servidores filiados e não filiados que o subscrevem
O debate eleitoral e o papel do Banco Central
O controle que um país exerce sobre a moeda, o câmbio, as taxas de juros, o crédito – para ficar só em alguns aspectos da atuação do Banco Central - são elementos determinantes de sua economia.
Longe de serem questões meramente técnicas elas são, do início ao fim, políticas. Cada ponto na taxa de juros, cada pequena alteração no câmbio, cada décimo de inflação, cada expansão ou retração no crédito impactam a vida de milhões de pessoas, para melhor e para pior.
Não é de surpreender, portanto, que essa importância do Banco Central tenha sido colocada em relevo nas condições do duro embate eleitoral do momento, em que se disputam os rumos futuros da economia.
Uma candidatura defende a política de "independência do Banco Central em relação aos políticos". Outra defende a forma atual que é a chamada autonomia operacional.
Para nós, servidores do Banco Central, a emergência pública desse debate é positiva, pois joga luz sobre as funções que desempenhamos como funcionários públicos e nos dá uma oportunidade a mais para defender a valorização de nosso trabalho e de nossos salários.
Parece óbvio mas precisa ser afirmado: em qualquer caso, qualquer que seja a opinião que prevaleça sobre o papel do Bacen, quem determina as suas políticas não são os servidores mas, sim, sua alta administração - ainda que o corpo técnico possa exercer influência, por meio de manifestação qualificada.
Portanto, tanto uma quanto outra opinião sobre o grau de dependência do Banco Central em relação ao mercado financeiro tem a ver com a alta administração do Banco e não com o funcionalismo. (*)
E nem poderia ser de outra forma, afinal, nós somos servidores federais e não governantes ou gestores. O que não quer dizer que não devamos ter opiniões a respeito, individual ou coletivamente.
A primeira delas, que defendemos, é, a proteção ao funcionalismo para que ele possa desempenhar suas atribuições livre de pressões e influências dos atingidos pela ação fiscalizadora. Essa é uma reivindicação de caráter sindical.
Do ponto de vista mais geral, defendemos que o Banco Central deve ter um papel associado à manutenção do crescimento econômico, geração de emprego e redução das desigualdades.
Evidentemente, não é nada simples numa situação em que, no mercado financeiro internacional, o que vigora é a subordinação da política monetária à ditadura das taxas de juros. Expliquemo-nos.
Os resultados mais espetaculares dessa política apareceram na crise generalizada dos países da Europa, cujas economias quebraram em série em nome da salvação do Euro – com um pesado custo social mas com extraordinários lucros aos especuladores.
Ou seja, a tese da "independência do Banco Central em relação aos políticos" significa, sem meias palavras, sua subordinação direta ao mercado financeiro, em nome de um falso tecnicismo que mal esconde os interesses dos grandes grupos financeiros internacionais. O debate técnico não ocorre num vácuo político e não pode se pretender um substituto para a definição de prioridades para a economia.
De fato, historicamente, a função da moeda como equivalente geral guarda uma relação com o grau de produtividade e com a massa de riquezas produzidas na economia. Tal relação foi rompida, em 1971, quando os Estados Unidos decidiram desconectar o valor do dólar do seu equivalente em ouro.
O valor da moeda, que era ancorado – ainda que com distorções – na produção e venda de mercadorias, passou a ser guiado pelas flutuações do mercado financeiro. A moeda se distanciava da economia real e se aproximava dos "humores do mercado", quer dizer, da especulação.
Foi a partir daí, desse novo lugar ocupado pela política monetária, que se iniciou o mantra do "banco central independente" com os diversos países, uns após os outros, alterando a legislação pertinente.
No Brasil, é certo que, desde 1998 e até os dias de hoje, a diretriz principal da economia vem sendo essencialmente moldada pelo acordo assinado com o FMI, na época, e que estabeleceu como eixo a política do superávit fiscal primário – com o impacto que isso significa para a ação do Bacen.
Não por acaso, os defensores da "independência do Banco Central dos políticos" são, regra geral, adeptos intransigentes do superávit fiscal primário, que impõe a retirada de verbas dos serviços públicos para o pagamento da dívida.
Essa política constitui o problema principal a ser enfrentado.
Assinam:
Adaías Muniz
Avani Souza Silva
Cleide Martins Silva
Edison Cardoni
Gilmar Luís Lang
Humberto de Assis Borges
José Lourenço da Silva
José Willekens Brasil
Luiz Ambrosio Machado Marinho
Magali Moscardi
Maurício Arthur Ribeiro de Souza
Odon Jose de Magalhães Barbalho
Virgilio Silva Chevalier


(*) É uma ilusão acreditar que o "banco central independente dos políticos" (e dependente do mercado) traria melhorias salariais para o funcionalismo. Basta estudar a evolução do salario de ingresso da carreira de Especialista do Banco Central. Trata-se de uma conquista da luta do funcionalismo. Observa-se facilmente a diferença entre o período mais recente e aquele em que os defensores daquela tese - sem ter, felizmente, conseguido formalizá-la em lei - eram os responsáveis pela política econômica e pela fixação dos salários dos servidores.