Exclusivo: entrevistamos no Acre o ‘Senhor X’ da reeleição de FHC. Por Joaquim de Carvalho
Postado em 19 jan 2016
Em maio de 1997, a Folha de S. Paulo publicou trechos de
gravações em que dois deputados confessavam ter vendido o voto para
aprovar a emenda à Constituição que permitiu a reeleição do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
A autoria das gravações era atribuída ao Senhor X, e a
identidade dele permaneceu sigilosa até que o jornalista e escritor
Palmério Dória revelou, no livro O Príncipe da Privataria, que se
tratava de Narciso Mendes, empresário e político do Acre.
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Mesmo com essa revelação, Narciso continuou tocando sua vida em Rio
Branco sem ser procurado pela imprensa. É dono do jornal O Rio Branco e
de uma afiliada do SBT, entre outras empresas. “Nunca interessou ao
sistema que eu fosse ouvido.
Nem naquela época, nem agora”, disse o
empresário em uma das duas rodadas de entrevistas que já realizamos para
nossa série sobre a reeleição de FHC, que será financiada por nossos
leitores.
(Aqui, o link para os interessados em contribuir.)
Narciso é um homem magro, que se veste de maneira simples e fuma
escondido da esposa, a ex-deputada federal Célia Mendes, preocupada com o
infarte que ele sofreu no ano passado. Sobre sua mesa, livros que
tratam de política, assunto a que se dedica na teoria, como estudioso da
obra de Maquiavel, e na prática.
Somando seus dois mandados – um deles como Constituinte –, e os dois
de Célia Mendes, passou dezesseis anos no Congresso Nacional. “Aquilo é
um balcão de negócios.
Houve compra de votos naquela época e continua
havendo hoje. Só uma reforma política para valer impediria que isso
ocorresse. Mas ninguém quer reforma política, porque os que estão no
jogo ganham com esse sistema”, afirmou.
O que mudou? “Antes o rei era mais protegido”, afirmou. Não fosse
protegido, diz ele, teria sido chamado para depor em alguma investigação
sobre a compra de votos da reeleição.
Investigação até houve, como a realizada por uma comissão especial da
Câmara, “mas não era para valer”. “Todos sabiam quem estava por trás
Senhor X, aquilo era um segredo de Polichinelo. Eu nunca neguei.
Mas
acho que pensaram: deixa o Narciso para lá, quem sabe não temiam o que
eu pudesse falar: centenas venderam o voto, não foi só o pessoal do
Norte como, preconceituosa e espertamente, o Fernando Henrique Cardoso
disse”.
Durante uma das entrevistas, entrou na sala um jovem senador, Gladson
Cameli, que havia dado entrevista para o SBT. Gladson combinou um café
com Narciso e, depois que ele saiu, Narciso comentou: “O Fernando
Henrique disse que até pode ter havido compra de votos, mas, se isso
ocorreu, é porque a reeleição interessava aos governadores do Norte.
O
tio desse senador era na época o governador do Acre (Orleir Cameli, que
intermediou a compra do voto de deputados do Estado), mas ele não se
candidatou à reeleição. Então, por que fez? Tinha um acordo para
entregar ao Fernando Henrique os votos de que ele precisava”.
(Este é um aperitivo para a série de reportagens de Joaquim sobre a emenda da reeleição de FHC.)(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).