Por Ricardo
Noblat - Atualizado em 17 maio 2020, 09h24 - Publicado em 17 maio 2020,
08h00
Bomba Planalto/Cristiano
Mariz/VEJA
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Quem deu
ordem à Polícia Federal para suspender a operação que em meados de outubro de
2018, entre o primeiro e o segundo turno da eleição, tornaria público o
envolvimento da dupla Flávio Bolsonaro-Fabrício Queiroz no caso da
apropriação criminosa de parte dos salários pagos a funcionários da Assembleia
Legislativa do Rio?
A Polícia
Federal só age a mando da Justiça. É ela que autoriza suas operações a pedido
do Ministério Público.
Justiça e Ministério Público são informados quando a
Polícia Federal, por alguma razão técnica, adia uma operação que tinha data
marcada. Isso torna mais grave o que foi revelado hoje pela Folha de S.
Paulo.
Suplente
do senador Flávio Bolsonaro, o empresário Paulo Marinho contou à colunista
Mônica Bergamo o que diz ter ouvido de Flávio em reunião na sua casa na
quinta-feira dia 13 de dezembro de 2018. Foi na casa de Marinho que o então
candidato a presidente Jair Bolsonaro gravou seus programas de propaganda
eleitoral.
Uma
semana antes do primeiro turno, o ex-coronel Miguel Braga, atual chefe de
gabinete de Flávio no Senado, recebeu um telefonema de um delegado da Polícia
Federal no Rio dizendo que tinha um assunto do interesse do senador eleito e
que por isso queria encontrá-lo. Flávio preferiu mandar Braga ao encontro do
delegado.
Braga
voou para o Rio. Ali, na companhia de um advogado e de Val Meliga, pessoa da
confiança de Flávio e irmã de dois milicianos, rumou para a Praça Mauá onde
funciona a Superintendência da Polícia Federal. Do prédio, saiu o delegado que
Flávio não diz o nome. Ainda na calçada, avisou a Braga mais ou menos assim:
– Vai ser
deflagrada a Operação Furna da Onça, que vai atingir em cheio a Assembleia
Legislativa do Rio. E essa operação vai alcançar algumas pessoas do gabinete do
Flávio. Uma delas é o Queiroz e a outra é a filha do Queiroz, que trabalha no
gabinete do Jair Bolsonaro em Brasília.
Aconselhou
em seguida:
– Eu
sugiro que vocês tomem providências. Eu sou eleitor, adepto, simpatizante da
campanha [de Bolsonaro], e nós vamos segurar essa operação para não detoná-la
agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da
eleição.
O que há
de mais explosivo na entrevista de Marinho à Folha não é o relato da reunião
com Flávio. É a revelação de que o ex-ministro Gustavo Bebbiano, demitido do
governo por Bolsonaro, deixou um celular com mensagens em áudio e vídeo
trocadas por ele com o presidente durante mais de um ano. Está guardado nos
Estados Unidos.
O vídeo
da reunião ministerial de 22 de abril, em que Bolsonaro ameaçou intervir na
Polícia Federal, virou uma bombinha se comparado com o celular de Bebbiano –
esse, nitroglicerina pura.
A história contada por Marinho ajuda a explicar por
que Bolsonaro quer há tanto tempo a Polícia Federal sob seu controle direto.