Jean Paul Prates: foco na transição e no futuro

 

 Em entrevista ao Petróleo Hoje, senador detalhou o trabalho da equipe de transição e falou sobre os rumores que cercam seu nome e as próximas ações

Por Claudia Siqueira     

 Em 28/11/2022

Cotado para assumir a Presidência da Petrobras no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e coordenando o subgrupo de transição de óleo e gás, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) está a todo vapor. Nesta segunda-feira (28), o parlamentar participou da primeira reunião de transição com a Petrobras e já se prepara para fazer uma imersão na companhia, na próxima semana, para coletar dados. Em entrevista concedida no domingo (27), Jean Paul antecipou que intenção da equipe de transição é fazer um espécie de road-show na Petrobras, estendo esse trabalho depois à ANP e a EPE.


Não há como não perguntar: o sr. será presidente da Petrobras?

Estamos esperando as definições do presidente Lula. Isso é uma decisão dele. Estou à disposição do presidente. Se ele quiser, precisar e achar que eu sou o quadro mais indicado para isso, ele irá me puxar. Ele coloca quem quiser. O que sei é que não é uma missão fácil. Quem presidir a Petrobras vai pegar uma empresa que está atuando simplesmente onde ela acha que dá lucro e pegando esse lucro distribuindo para todo mundo, fazendo a festa com dividendos, e você vai ter que chegar lá e dizer vamos voltar ao normal aqui, parar com esse negócio e vamos gradualmente diminuir isso para um nível razoável e, ao mesmo tempo, vamos começar a colocar novos projetos para andar e o capex para rodar em investimentos para garantir o futuro da empresa. É difícil. Não é uma empresa confortável como era em 2009 e 2010, onde já tinha pessoas pensando em projetos em riste e os departamentos animados. Há um desânimo. Vamos precisar dar uma injeção de ânimo no pessoal.

E como se faz isso?

Acho que vai ser preciso recuperar algumas áreas que foram colocadas à venda, como se a Petrobras estivesse saindo das regiões Norte e Nordeste. Acho que vai ter que buscar coisas nessas regiões que tenham a ver com a transição energética. Entrar em áreas que eventualmente o governo, como acionista majoritário, que tem o direito de fazer isso, quiser reconsiderar, como as áreas de fertilizantes. O que vai fazer nas áreas de refino e de distribuição de biocombustíveis. Não é fácil. Prevejo seis meses iniciais de introspecção total, que é se voltar para dentro, pensar nas coisas que vai fazer e não sair fazendo anúncio no primeiro dia. Vai ser preciso entender primeiro. Não se sabe como está a relação do capex com os dividendos, os compromissos assumidos e a própria governança. É saudável sempre ter governança, mas acho que o pessoal está fazendo coisas para evitar que a administração seguinte promova coisas que eles acham que ideologicamente são contra. Isso não é governança, é impedir o novo acionista majoritário de operar. Você discorda  e coloca coisas lá que impedem isso, como fizeram na Eletrobras, com as chamadas poison pill. É que, como sempre para variar, a esquerda é sempre ideológica e a direita nunca é, embora seja muito mais, então é muito fácil de se rotular as coisas e evitar. O que não é ideológico? Não é ideológico dizer que não pode direcionar estratégias? Não é ideológico vender ativos? Isso tudo é bem ideológico porque quando se vai ver cada processo não faz sentido nenhum e aí eles remetem para o Cade. É ideológico mesmo porque eu quero vender e pronto.

Seria interessante voltar a investir no onshore?

Depende, se for uma fronteira interessante e nova. Dizer que a Petrobras nunca mais vai fazer nada em terra é meio radical. Pode aparecer uma situação qualquer nova, um fracking menos  agressivo, alguma coisa que a Shell ou outra petroleira queira fazer com a gente. Aí vão dizer que a Petrobras nunca mais iria entrar em terra. Tem exceções. Acho que não faz muito sentido entrar em terra em projetos convencionais, a não ser que se faça todo um plano de reforço se as empresas independentes ficarem em uma situação mais precária que seja preciso ajudar ou fazer. Mas acho que isso não vai acontecer. Tudo que é inusitado, que é diferente, tanto para a base do tamanho da Petrobras quanto para cima do tamanho da Petrobras tem que ser feito em parceria com quem já está jogando. Se a Petrobras tiver que voltar para o onshore, ela só entrará se for para ajudar esse mercado novo que se construiu a se manter ou a se consolidar por alguma ameaça que ele eventualmente venha a sofrer ou por alguma questão tecnológica nova, um desafio que interesse a ela carregar, como por exemplo na Amazônia fazer algum tipo de operação diferente. Operar na Amazônia é tão complexo quanto operar no offshore. Fora isso, acho que ela vai acompanhar o processo de sucessão natural dos players maiores para os menores e vai investigar oportunidades pontuais, onde, ela for chamada, onde achar que pode contribuir com o processo de revitalização. Nas questões tecnológica e logística, ela pode pontualmente considerar, mas não acho que seja mais um território que ela priorize para voltar. Acho que tem outras áreas para priorizar no E&P.

Que áreas seriam essas?

Margem Equatorial e outras bacias. Mas tudo isso sempre com a noção de que o pré-sal é a prioridade. Uma coisa é dizer que só vai ser a empresa do pré-sal, como está sendo hoje, ou coisa é dizer que vai entrar em outras coisas e não perder de perspectiva o foco no pré-sal. Alguns já interpretaram que o pré-sal vai perder prioridade e não é isso. Absolutamente não, ninguém disse isso. estamos dizendo que vai poder ter espaço para analisar, não para fazer direto, oportunidades em outras fronteiras do setor de petróleo e gás e, principalmente, em novas fronteiras da área de energia porque temos que pensar na Petrobras daqui a 30 ou 50 anos, não só no que ela é hoje. Precisa ter reposição de portfólio, não é nem de reservas. As reservas do pré-sal acabarão em 35, 40 anos. E o que está  se fazendo para substituir o pré-sal? É como se fosse um fade in e fade out. Não se vai deixar de priorizar o que dá lucro top, mas não se pode fazer só isso. O pré-sal é finito. Se a gente fizesse só máquina de fax há 30 anos e não tivesse pensando em transição, estaríamos lascados. É assim que está sendo hoje.

E sobre novos investimentos no refino?

Refino é a mesma coisa. Vamos avaliar com muita parcimônia. Tem um ordem de prioridade e temos quatro fases. Na primeira fase, vai ser direcionada a analisar tudo que se pode fazer com as atuais refinarias, nas instalações que elas têm hoje. São os chamados upgrades, modernizações e reorganizações. Na segunda fase, você pega as instalações que se tem e analisa o que se pode fazer com máquinas novas. É uma expansão dentro de áreas que já são suas. Não precisa terraplanar, alugar nada, pois é dentro das refinarias que já se tem. Na terceira fase, você vai analisar se, com as duas primeiras fases, não se cumpriu o déficit satisfatoriamente que se propõe a cumprir. Aí, se o governo der a instrução, como acionista majoritário e não como interventor, para que seja analisada a melhoria da relação com o déficit de importação de combustíveis, aí sim entraria a análise de uma refinaria nova, de um trend novo ou recuperar o Comperj de uma forma diferente. Mesmo assim, a condição dessa terceira fase é que a refinaria seja uma refinaria do futuro, voltada para ter 50, 100 anos de vida e não mais uma refinaria nova velha, como eram as que estavam sendo pensadas. Vai se pensar em petroquímica do futuro com bioderivados, pensar em hidrogênio. E a segunda condição de um projeto desse, além de ser um projeto apontado para o futuro e não para o passado, tem que ser um projeto em parceria com pelo menos uma ou duas grifes do setor, que estejam fazendo a mesma coisa para que a gente não chegue no acionista sem respaldo e dizer que está delirando, que pensou um negócio que ninguém pensou. Isso numa empresa como a Petrobras não cabe. Tem que pensar em alguma coisa que a Equinor está junto, a BP, a Shell, a Chevron, que alguém está junto com você e aí se divide o risco da credibilidade daquilo por três. Mas isso é uma terceira fase, que se houver, será em parceria com outros players de grande do setor de petróleo ou de energia ou um chinês interessante, alguém do mesmo nível da Petrobras. E se passar por essa terceira fase e mesmo assim ainda subsistir um déficit ou não der certo com os parceiros, você volta para o acionista majoritário mostra que todas as opções viáveis economicamente que fazem sentido dentro da transição energética foram esgotadas e não deu para cumprir o déficit, então vamos conviver com o déficit. Agora, vamos mitigar os riscos e as oscilações desse déficit. Vamos conversar com quem está ocioso, vamos fazer compra em batelada, vamos fazer contratos de longo prazo, ou seja, vamos administrar esse déficit. Qual o problema? Tem que ficar com o refino igualzinho ao consumo? Não necessariamente. Vamos tentar tudo para ser viável e lucrativo. Se o acionista dizer que não está dando e não está passando nos critérios, vamos conviver com o déficit. 

Então, refino e grandes projetos só em parceria? Isso será uma premissa?

Primeiro só com a análise de viabilidade técnica e econômica dentro dos parâmetros de mercado das congêneres. Não gosto de falar do mercado porque não é o analista de trader que vai decidir não. É o critério das grandes empresas que entendem de petróleo, não dos especuladores da bolsa de valores.

Mas a ideia é ter apenas parcerias?

Em princípio, é o que eu desejaria. Não estou falando que isso é uma ordem de ninguém. Eu acho importante ter parcerias com grifes do setor da parte tecnológica, da parte econômica, por que com isso, além de diluir o risco, você traz junto uma decisão estratégica importante. Você decide junto com esses caras. Agora, a escolha desses parceiros estratégicos também tem seus critérios. Em alguns casos pode ser uma empresa com Estado de algum país estrangeiro, que por alguma razão estratégica se tenha uma relação entre os dois estados, como por exemplo a Noruega e a China. Em outros casos pode ser uma questão mais tecnológica, mais de mercado mesmo, e aí se pode partir para um viés mais Chevron, BP, Shell e tal. Lembra do conceito dos blocos vermelhos e azuis? Com todos os defeitos que o processo teve naquela época, a ideia foi boa. A Petrobras disse não estou querendo fazer isso aqui, mas quem trouxer a melhor proposta técnica e quiser fazer comigo, vou fazer um processo de propostas. Aí você convida e vai conversar com as empresas. Isso vale para o Refino, para o hidrogênio, o offshore eólico e alguma coisa no H-Bio, por exemplo. O acionista de um modo geral é muito ressabiado e o nosso é mais ainda, pois tem esse mercado mais juvenil e muito de curto prazo. É um cobrador em potencial, está sempre querendo saber o que o projeto vai dar. Quando se vem com parceiros é bom. Seria um movimento novo começar a juntar com outras estatais que têm ações privadas e com outras empresas que também são cobradas pelos seus acionistas.

Parceria é uma estratégia geral?

Para tudo, exceto para aquilo que a Petrobras já está operando com confiança e faz parceria mais por razões financeiras, como é o caso do pré-sal. Todo território novo, novas fronteiras em todas as áreas, acho que deve ser explorada em conjunto com parceiras congêneres do mesmo nível.

Buscar parceiros no refino não é uma tarefa difícil para a Petrobras?

Não acho fácil, mas acho que é possível. Mas de novo, a razão de existir da nova gestão não será necessariamente só atender ao déficit de refino. Isso é lá pela quinta ou sexta prioridade e mesmo assim dentro de um processo de discussão com o governo, como acionista majoritário, em que se confirme que realmente aquilo é uma prioridade e aí vamos tentar enfrentar esse desafio. Eu diria que o conceito da parceria que estou falando ele é guarda-chuva. Inclui a área de refino, mas é para tudo.

Falando em parceria, durante a campanha foi defendida a volta da internacionalização da Petrobras. Como o sr. seria esse processo?

As parcerias da internacionalização vão funcionar dos dois lados, no Brasil e no mundo. É entrar num clube internacional de grandes empresas integradas de energia. Tem que entrar nesse clube. Na nova gestão, a Petrobras tem que estar inserida nessa espécie de OCDE do petróleo.

A ideia é voltar a investir no exterior?

A ideia é voltar a participar de projetos no exterior que resultem em coisas boas para o Brasil, que se desenvolva tecnologias, É criar oportunidades lá fora também mais que investir. Criar oportunidades lá em troca das que criaremos aqui.

O que seria isso exatamente? O que seria criar oportunidades lá fora?

É se entrar aqui no offshore, numa planta de hidrogênio ou num processo qualquer de refino ou de fertilizantes, ter também a possibilidade de com seu parceiro no Brasil ter a oportunidade, por exemplo, de levar uma empresa fornecedora brasileira para ajudar na planta original dele na Europa, EUA ou Canadá, ou por exemplo, levar técnicos daqui para conversarem e conviver com o seu parceiro, no laboratório dele, no país dele. Mas é junto mesmo. Não é só anfitrião no Brasil, temos que estar também no país dos outros. Não precisa necessariamente estar investindo bilhões em lugares que estão saindo de lá porque não tem mais oportunidade. Então tem que aproveitar oportunidades na área científica, na área tecnológica, na área de desenvolvimento de recursos humanos. Parceria é assim, eu permito que você analise coisas junto comigo em um país que está crescendo e tem oportunidades, mas também queremos ter algo lá de fora para extrair conhecimento legitimamente.

A questão dos preços dos combustíveis será prioridade?

Preço do combustível não é a Petrobras que define e nem será. Quem sentar lá na Presidência da companhia vai ter que dizer o seguinte: governo, estou no aguardo da política de combustíveis. O presidente da Petrobras tem que cumprir o que mandarem. A política de combustíveis quem faz é o governo e não a Petrobras. A Petrobras é uma empresa. Como ela vai fazer política de preço dos combustíveis? Uma coisa é sermos chamados pelo governo para ajudar a compor uma política de preço dos combustíveis, junto com a ANP. Mas não é apenas uma solução, são várias coisas juntas que vão resolver uma política de preço mais amena e que leve em consideração o fato de a gente ser produtor de petróleo e não o PPI misterioso que ninguém sabe. O relatório do Itaú diz o que venho falando desde março, que o PPI não existe e que é um preço regionalizado. Onde sai publicado o PPI do diesel, do QAV? Não existe. Não é um preço, é um metodologia que se usa para compor um preço que já é regionalizado. Se você estiver em Manaus e pedir um carregamento de diesel, vai receber um preço. Se estiver em Natal, vai receber outro. As pessoas falam como se o PPI fosse o preço do brent, só que não é. O que custa a ANP fazer um levantamento e divulgar claramente qual o preço regional para cada uma das áreas de influência de refinaria, ao invés de fazer por estado. Naturalmente, esse preço de referência vai começar a refletir uma componente nacional e uma componente internacional, que é a parte importada. Assim, todo mundo poderia saber qual seria o preço justo. Não é um tabelamento, é apenas uma sinalização para o mercado, que vai começar a convergir para aquele preço. Se alguém fugir um pouco daquilo oportunisticamente, como hoje está acontecendo porque ninguém sabe o preço em qualquer lugar, será inquirido e aí tudo ficará mais razoável.

O sr. defende mudanças nos estoques estratégicos, certo?

A ANP tem o dever de monitorar, alertar, fazer todo um trabalho de evitar que as empresas fiquem estocando na hora da alta. Tem que prever essas coisas, pelo menos os fatores previsíveis, como furacão, inverno e tensões geopolíticas. Hoje ninguém faz nada e isso aí também contribui. E tem a conta de estabilização porque quando tiver grandes crises de abastecimento como vivemos agora ou grandes crises de preço, é possível usar uma parte do windfall profit do governo, tanto de royalties, um bônus excepcional ou o próprio dividendo da Petrobras pago à União, que isso possa ser aportado por essa conta de estabilização e ser colocado como dinheiro do governo na conta para que o consumidor seja aliviado de uma parte desse aumento. Isso é a Petrobras que vai fazer? Prejudica o acionista da Petrobras? Não, absolutamente não. Fica claro que é uma política de governo. Por isso, volto a dizer que a política de preço para o país é uma política de governo. Está fora da Petrobras, agora a companhia vai receber as instruções e como qualquer outra vai cumprir. 

Qual a sua expectativa com a reunião com a Petrobras?

A primeira reunião vai ser tocada com muita tranquilidade e será rápida. Vamos nos apresentar e tratar alguns procedimentos de como será a questão de dados. É diferente do Ministério de Minas e Energia porque não são dados públicos. Vamos de cara oferecer de assinar qualquer tipo de confidencialidade e qualquer tipo de data room que tive que fazer a gente faz, sem problema nenhum. Não estamos querendo fazer auditoria em lugar nenhum. São apenas informações que estamos querendo para organizar mais ou menos o pensamento. Não vamos pedir informações sigilosas ou estratégicas até porque daqui a pouco a gente assume lá também. Queremos tranquilizá-los, principalmente, em relação à expectativa que temos de informações. Se for necessário, a gente faz um data room no Rio de Janeiro, daqueles que você já conhece, com uma sala que você vê os documentos, mas não sai com nada dela. Queremos evitar, tanto quanto eles provavelmente, que vaze informações e seja atribuído isso à equipe de transição. Estamos preocupados só com isso e, no mais, é tratar da situação da empresa e solicitar, mais uma vez, que sejam suspensos ou parados os processos de alienação que estão menos adiantados, que começaram agora. Achamos que não faz sentido nenhuma correria. Não porque a gente seja ideologicamente contra somente – também somos contra a venda – mas porque, em geral, nenhuma empresa faz isso correndo na iminência de trocar de controle. Achamos que isso prejudica quem vai comprar porque traz insegurança. Temos que fazer isso porque se a gente não fizer isso pode parecer que o novo governo está de acordo e, depois lá na frente, pode gerar indenizações e coisas que a gente não tem interesse que prospere, Agora, se a Petrobras vai cumprir ou não é outra coisa, é responsabilidade de quem está lá.

Depois que for definido o nome de quem irá comandar a Petrobras, a intenção é fazer uma transição interna, o futuro gestor dentro da companhia, a exemplo do modelo feito em 2018, na última transição?

Não sei porque depende da situação, das datas de indicação e de saída. Decidimos que isso não vai ser discutido agora, na primeira reunião, porque sabemos que isso é um assunto sensível. Queremos conversar isso pessoalmente com o presidente Caio Paes de Andrade e temos conversar também com o presidente Lula antes também para termos confirmações internas nossas também.

A questão dos dividendos estará na pauta das primeiras reuniões?

É importante esclarecer que na questão dos dividendos eu propus ao grupo de transição que não entrássemos  demais nisso porque ela está sendo vista pela Justiça e o TCU também está sendo informado. Isso está sendo tocado e os conselheiros sabem o que estão fazendo e vão responder pelo o que estão fazendo. Não há o que a transição possa fazer em relação a isso, só vai atrapalhar onde não temos poder para impedir ou não.

Mas qual será a posição da nova gestão?

Os relatórios da semana de bancos como Itaú e outros já fazem essa pesquisa, já falam para os acionistas. Não tem sentido a prática atual. Já estamos trabalhando 60, 50 e depois 40%. Vai voltar para o normal de qualquer empresa de petróleo.

E qual será esse normal?

O normal é um pouco acima da obrigação legal. Vamos decidir isso ainda. Não se pode tirar tudo de uma vez e também não se pode deixar sempre no mínimo. Vai ter que oscilar como sempre foi. Como todas as outras empresas fazem. Empresas de petróleo lucram extraordinariamente quando estão na alta para quando está na baixa queimar essa reserva e fazer investimentos, se não você para. Essa é a história de uma empresa de petróleo, não é uma fábrica de hambúrguer, que toda hora tem o mesmo ritmo e só aumenta ou diminui de acordo com o crescimento da demanda. Nenhuma empresa de petróleo está fazendo isso.

Eólica offshore vai ser uma prioridade dentro do segmento de renováveis?

Isso. Primeiro eólica offshore. Por que eólica offshore? Porque é a coisa mais imediata e mais óbvia. Se a Petrobras é uma offshore company da OTC, premiadíssima, sabe mexer com coisa muito mais complexa, com gente em cima, não vai saber tratar de aerogerador? Tem todos os instrumentais e todo o histórico para poder operar no offshore. Vamos mirar também biocombustíveis e hidrogênio. O offshore eólico tem a sinergia com o upstream da Petrobras, o biocombustível tem sinergias com o downstream da Petrobras e são parcerias    diferentes, mas são áreas de expansão natural da Petrobras. Se ficarmos parados no refino de petróleo, você vai morrer. Tem que ir para a petroquímica, que é onde o petróleo vai ficar depois da eletromobilidade, e tem que ir para o biocombustível, que é transição, e para o gás natural. O hidrogênio é o meio termo por que vai acoplar com o offshore eólico no sentido de buscar energia de grande escala e vai ser acoplado também com a estrutura de midstream da Petrobras de terminais, de GNL e gasodutos porque se iguala a um gás, como um gás líquido.

Essas questões que estamos falando aqui, é uma visão do Jean Paul Prates, do governo, do grupo de transição ou do possível presidente da Petrobras?

Não é uma visão do grupo de transição porque a equipe não vai fazer recomendações de gestão futura. O grupo de transição vai, no máximo, recomendar ou  fazer alertas de curto prazo, do tipo tem isso aqui que vai vencer no dia 10 de janeiro. Não cabe ao grupo de transição dar ordem aos futuros ocupantes do governo, dizer o que cada um terá que fazer. Então, isso não é uma recomendação do grupo de transição. Isso é o contrário. Mas também não é só do Jean Paul. É um pensamento construído ao longo do programa de governo da chapa que venceu. Então, isso é a visão do Jean Paul, carregando a bagagem de toda a discussão exaustiva que tivemos com todos do setor, inclusive do mercado, Nas últimas três semanas antes das eleições acampei em São Paulo e tive sete reuniões com os principais bancos. Cada reunião dessa, tinha, pelo menos, uma média de 25 pessoas, Falamos com JP Morgan, Bradesco, Bank of American, Itaú, XP e mais alguns. Falamos e respondemos detalhadamente perguntas sobre o que poderia acontecer em cada segmento e área da Petrobras, colocando as coisas como uma possibilidade de forma muito filtrada pelo fato de ter que fazer isso de forma vendável para o mercado e o acionista para não afugentar o investidor. Então, isso é uma coisa muito realista, dentro de uma visão, claro como qualquer país da Europa que tem direito a oscilar o pêndulo para a esquerda, mas sem absolutamente fazer maluquice ou devaneio, nada disso.

Após a primeira reunião com a Petrobras, qual será o próximo passo do grupo?

Devo ir para o Rio de Janeiro no dia 5 de dezembro. Vamos dar um tempo para montar esse data room e vou passar três dias dando uma olhada em todas essas informações que não precisam ser transferidas, conversar com as pessoas e receber, eventualmente, apresentações dos departamentos. Enfim, isso vale para a Petrobras, mas vale também para outras áreas do setor petróleo que tenham envolvimento. Vamos agendar reunião com a ANP e a EPE. O relatório final é um relatório de circunstância, de transição. Não é um relatório para mandar em ninguém e nem governar o país.

É um relatório de diagnóstico, certo?

Isso. O objetivo é mostrar como estão as coisas, em cada local. Vamos mostrar como está a Petrobras, quem está ocupando posições, o que estão fazendo. Vamos fazer isso EPE e na ANP. A ideia é entregar o relatório e mostrar o que cada um vai pegar, com os devidos alertas, se houver. É um manual detalhado para o cara assumir o posto. Essa é a nossa visão do grupo de transição. É claro que tem outras áreas da equipe de transição que você vai ver coisas diferentes. Na área de Cultura, o grupo pode estar dizendo quem vai fazer tal programa, mas é que há áreas onde tudo foi morto e precisa ser recuperado. Mas para nós é basicamente um diagnóstico e algumas recomendações de curto prazo. O resto, quem assumir sabe o que tem que fazer e tem que ter liberdade também para depois de assumir poder direcionar mais precisamente o que vai fazer. Se a gente começa logo a querer dar ordem em tudo não tem porque.. Primeiro porque não tem tempo, nem cabe no tempo que tem a transição pensar tudo de novo como se estivesse fazendo um programa de governo, e segundo que não faz sentido tolher a liberdade da pessoa que vai assumir. Ela tem que ter área de manobra para poder colocar sua forma de gerir. Agora vai receber um tremendo diagnóstico para não ficar procurando coisas básicas.

O grupo de transição de Minas e Energia já foi procurado pelas principais entidades e instituições do setor? Há previsão de novas reuniões?

Várias vezes. Eu conversei com todo mundo na fase de programa de governo. Agora, estamos evitando isso. Estamos dizendo para eles que não é mais programa de governo, que já sabemos o que eles pensam. Já incorporamos os comentários. Se ficarmos recebendo sete ou oito entidades todo dia, a gente não faz o nosso trabalho, que é de diagnóstico para dentro e não um diagnóstico para fora. Já falei com o Roberto Ardenghy, do IBP, já falei com a Abeeólica. Tolmasquim [Maurício Tolmasquim, coordenador do grupo de transição de Minas e Energia] também já teve. Só vamos atender novamente as entidades depois do dia 11 de dezembro, depois que os relatórios estiverem prontos. Mas no caso de Minas e Energia, a gente já ouviu todo mundo, já sabemos o que todo mundo pensa, e vai ouvir de novo, cada um, depois que assumir porque esse é o jeito de governar do PT e do pessoal que vai estar junto com o PT. Uma das coisas que não se pode criticar é que não se fez reunião e não se ouve as pessoas. Vai todo mundo ser ouvido de novo. É só ter calma, na hora que for resolver o que vai fazer no transporte do gás ou de outras questões, vamos chamar as pessoas.

Essa postura pró-diálogo vai ser incorporada pela Petrobras em 2023 também?

Acho que é importante intensificar muito a participação da Petrobras nessas associações setoriais, mas não com aquela visão de lá vem a Petrobras, empresa do governo. É importante entrar com um player como é a Shell, a Enel, em cada um dos fóruns de biocombustíveis, IBP, Abeeólica. Acho que deve participar abertamente, colocar gente participando dos grupos de trabalho, se envolvendo mesmo com a indústria e os colegas. Não dá para ficar fechado, encastelado, produzindo pré-sal, distribuindo dividendos e pronto.

O sr. disse que está à disposição para a Petrobras, se for o caso. Se o sr. for oficializado no cargo, qual a primeira coisa que pretende fazer? Serão seis meses de introspecção?

Exatamente. A primeira coisa seria programar uma reflexão interna intensa, mas não é coisa de budista não. É olhar para dentro e ver e entender o que a companhia é capaz de fazer e, ao mesmo tempo, reestruturar o ânimo das pessoas, dos petroleiros. É importante visitar cada uma das unidades da Petrobras e dialogar com cada uma delas para dizer como vamos trabalhar e saber o que eles esperam para cada área. É importante trazer esse pessoal para dentro desses grupos de planejamento e de reflexão para em seis meses no máximo sair com uma nova estruturação de planejamento.

Isso é uma tarefa importante sendo o sr. escolhido para comandar a Petrobras ou outra pessoa?

Acho importante independente de ser eu ou outra pessoa. É importantíssimo. Sabe a piada do tigre e dois caras vão correr dele e um para para amarrar o tênis? Vou amarrar o tênis, mesmo que você “gaste” seis meses olhando para dentro, refletindo e mobilizando as pessoas, isso vai dar um gás e uma possibilidade de ir direto para as metas e acertar as coisas  muito maior do que já chegar que nem jogador reserva que entra em campo e fica dando instrução. Se ele fosse aquilo tudo não estava na reserva. Chegar na empresa já sabendo o que vai fazer, dizendo que sabe tudo, que conhece tudo é temerário.

Na sua avaliação, qual deve ser a missão de quem assumir a Petrobras?

A missão de quem assumir a Petrobras é transformar em uma empresa do futuro e não uma empresa que está só entregando o presente, ordenhando o pré-sal e entregando o resultado ali e agora e sem futuro nenhum. O futuro da Petrobras é opaco. Ela é o reflexo do governo Bolsonaro, é o tiozinho do zap. Ela tem que seguir desse negócio e conversar com a galera que está lá na frente, que está no futuro. Tem que se preparar para o futuro. O que eles estão? Para onde tenho que ir? Sem isso, vai ser o tiozinho do zap que vai morrer daqui a 30 anos e esse acionista que está exigindo dela que distribua todos os dividendos, vai trocar para a Amazon ou qualquer outra empresa. Ele não está nem aí se a Petrobras vai estar aqui, só quer receber o máximo agora. Mas é nosso dever como acionista majoritário do governo e também com petroleiros e pessoas que prezam a Petrobras é de pensar no futuro dela, não só no fato dela hoje entregar o máximo de dividendos possíveis.