Pagot teria informações relevantes sobre uma rede de corrupção na campanha de Serra
A
anunciada decisão de abrir mais um processo contra as várias acusações
de corrupção e enriquecimento ilícito, tráfico de influência e formação
de quadrilha que pesam desde o livro A Privataria Tucana contra
o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, não reduz o
risco dele se explicar junto à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) que investiga a rede criminosa do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o
Carlinhos Cachoeira. Serra, desta vez, promete levar o ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot
às barras dos tribunais, pela denúncia formulada em entrevista sobre a
distribuição de propina para a campanha derrotada do tucano à
Presidência da República, em 2010.
Na sessão da CPMI desta terça-feira, no entanto, segundo levantamento realizado pelo Correio do Brasil, a maioria absoluta dos parlamentares é favorável ao depoimento de Pagot.
É a oportunidade esperada para o executivo complementar as denúncias de
corrupção na campanha tucana, com a participação da empreiteira Delta
Construções S/A e de Paulo Vieira de Sousa, vulgo Paulo Preto,
homem de confiança de Serra na estatal Desenvolvimento Rodoviário S/A
(Dersa), responsável pela construção do Rodoanel. Pagot foi demitido do
cargo há um ano, após matéria publicada na revista semanal de
ultradireita Veja, fornecida por agentes do bicheiro Cachoeira, conforme indícios obtidos pela Polícia Federal em escutas telefônicas legais.
A decisão de adiar o depoimento de Pagot apenas oferece mais tempo
para, nos bastidores, as forças políticas que integram o Congresso
conhecerem melhor o teor dos documentos a que o denunciante teve acesso
para afirmar que a divisão da propina gerada nas obras do Rodoanel era distribuída na proporção de “60% para o Serra, 20% para o Kassab e 20% para o Alckmin”.
O vice-presidente da CPMI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), preferiu
não votar requerimentos nesta semana, enquanto o titular do cargo,
senador Vital do Rego Filho (PMDB-PB), estiver de licença por problemas
cardíacos.
– Não há urgência. Se as pessoas querem falar, elas serão ouvidas,
mas decidir na próxima semana não atrapalha nossos trabalhos – disse o
parlamentar.
Até lá, com tempo suficiente para esmiuçar as
denúncias de Pagot, os integrantes da CPMI avaliarão da necessidade de
convidar o candidato Serra para uma possível acareação com o
denunciante, possivelmente também na presença do ex-presidente da Delta,
Fernando Cavendish.
– Estávamos aqui lidando com tantas pessoas que não querem falar, mas
o Pagot quer colaborar e podemos convocá-lo – ressaltou o senador Pedro
Simon (PMDB-RS).
Presença garantida
Apesar
do adiamento, o senador Pedro Taques (PDT-MT) já garantiu que Pagot
faça as suas denúncias de maneira oficial ao protocolar, na noite
passada, uma representação na qual pede ao Ministério Público Federal
(MPF) que tome o depoimento dele nas próximas horas. Segundo o senador,
Pagot possui “informações relevantes” sobre a organização criminosa de Cachoeira e tem todo o interesse em depor à CPMI e às demais autoridades.
– Não é crível ou razoável que um cidadão há mais de um mês venha
dizer que possui fatos graves a revelar em favor da nação e ninguém
queira ouvir este cidadão. Todos nós estamos desejosos de ouvi-lo –
disse Taques na reunião desta terça-feira.
Em sua representação, Taques acrescenta que as investigações
realizadas pela Polícia Federal e os trabalhos da CPMI no Congresso
revelaram a existência de uma profunda conexão entre as obras tocadas
pelo Dnit, a Construtora Delta e o grupo de Carlinhos Cachoeira. Ele pontua que somente no Dnit foram realizados pagamentos da ordem de R$ 2,75 bilhões à Delta entre 2009 e 2011.
Em outra entrevista, Pagot afirmou que Cachoeira atuava
associado ao Diretor da Delta – Cláudio Abreu – na prospecção de
negócios em todo o território nacional, atuando, inclusive, dentro do
Dnit. Ele afirmou, ainda, que algumas de suas exigências desagradaram à
Delta, motivo que o levou a ser alvo de uma conspiração de Cachoeira para derrubá-lo do cargo. Na representação, Pedro Taques também citou a entrevista concedida à revista semanal de centro Istoé, na qual Luiz Antônio Pagot denuncia a formação de caixa dois em favor do PSDB.
“Diante do exposto, considerando que os fatos acima narrados
caracterizam, em tese, a prática de inúmeros crimes contra o patrimônio
público da União, além de outros delitos, requer-se ao Ministério
Público Federal no Distrito Federal que sejam tomadas todas as
providências cabíveis, de índole investigatória e judicial, no sentido
de que todos os envolvidos sejam punidos, na medida da sua
culpabilidade, começando pela oitiva do Sr. Luiz Antonio Pagot”, conclui
Taques.