Oposição discute estratégia
após denúncia contra Lula
BRASÍLIA, (Reuters) - Os dois principais partidos
de oposição ao governo -PSDB e DEM - ainda discutem que estratégia adotarão em
relação às acusações publicadas pela revista Veja e atribuídas ao empresário
Marcos Valério de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "era o
chefe" do suposto esquema do mensalão.
Por enquanto, os presidentes das duas legendas, o
deputado tucano Sérgio Guerra e o senador do DEM, José Agripino, adotam uma
posição cautelosa e avaliam que as denúncias da revista por si só não sustentam
uma representação ao Ministério Público pedindo uma investigação formal contra
Lula.
"(A denúncia) é séria, mas não traz
declarações (diretas do Marcos Valério). É preciso que as revelações se
confirmem para que o partido possa tomar medidas junto ao Ministério
Público", disse Agripino à Reuters nesta segunda-feira.
Guerra concorda com o colega e diz que "a
matéria por si só não é suficiente" para ingressar com ações formais no
Ministério Público.
A reportagem da Veja é baseada em fontes não
reveladas, identificadas como familiares ou pessoas próximas a Marcos Valério,
que é acusado pelo Ministério Público no processo do mensalão como operador do
esquema que veio à tona em 2005, durante o primeiro mandato de Lula.
"Não podem condenar apenas mequetrefes. Só não
sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio (Soares, à época tesoureiro do PT) e o
Zé (José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil) não falamos", teria dito
Valério, de acordo com a reportagem.
Guerra acredita que é necessário manter o
"assunto vivo" para que surjam novos fatos e revelações. "É cedo
para dizer" que a matéria serve como prova contra o Lula, disse à Reuters.
Agripino disse que o partido "não agirá de
forma irresponsável", apesar de considerar as revelações
"graves".
O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, porém, quer
uma ação imediata dos partidos de oposição junto ao Ministério Público.
"É uma insinuação muito forte do
envolvimento do ex-presidente Lula por ser confirmada pelo agente principal do
esquema (do mensalão). Acho que cabe ao Ministério Público investigar",
disse o senador à Reuters.
Apesar disso, Dias disse que não pretende adotar
uma ação isolada caso os partidos de oposição decidam não ingressar com uma
representação formal para investigar Lula.
As cúpulas do PSDB e do DEM devem se reunir ainda
nesta segunda para fechar uma posição conjunta do que fazer.
A Comissão Executiva do PT também se reuniu nesta
segunda e emitiu uma nota em que não trata da denúncia diretamente. Mas,
segundo o deputado André Vargas (PT-SP), que participou do encontro, a
avaliação da cúpula do partido é que a reportagem da revista "não terá impacto
na disputa municipal".
A nota divulgada pelo PT após a reunião convoca a
militância para "para uma batalha do tamanho do Brasil", em
referência às eleições municipais. E diz que "é a militância consciente
quem desfaz as mentiras".
O presidente da legenda, Rui Falcão, afirmou ao
deixar o encontro que essa não é uma referência à reportagem da revista. Disse,
por meio da assessoria de imprensa, que a nota trata das "mentiras que
costumam ocorrer nas campanhas eleitorais".
VALÉRIO
No sábado, Marcelo Leonardo, advogado de Valério
disse à Reuters que seu cliente não deu entrevista à Veja e negou as
declarações atribuídas a ele.
A assessoria do Instituto Lula disse nesta
segunda que o ex-presidente ainda não definiu se ele irá se manifestar ou não
sobre o conteúdo da reportagem.
Marcos Valério é um dos 37 réus da ação penal do
chamado mensalão, em julgamento há seis semanas no Supremo Tribunal Federal e
sem prazo para conclusão. Já foi condenado pela Corte por lavagem de dinheiro,
peculato e corrupção ativa. Ele ainda será julgado no mesmo processo pelos
crimes de evasão de divisas e formação de quadrilha.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal,
Dirceu era o chefe do suposto esquema. Nesta segundo a suprema corte inicia a
análise do capítulo referente aos políticos que teriam recebido recursos no
mensalão, e é o primeiro ponto que inclui acusações contra Dirceu.
(Reportagem de Jeferson Ribeiro)