O ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva não dirá uma palavra em resposta a supostas declarações do publicitário Marcos Valério, publicadas pela revista Veja, apontando-o como chefe do esquema de repasse de recursos a partidos aliados, conhecido como mensalão. A indignação é grande mas, como em outros momentos parecidos, Lula se manterá trancado em seu silêncio, apoiado pelos mais próximos, buscando a calma para reagir na hora certa, e da maneira mais eficiente.Em 2005, no início do escândalo, ele calou-se nos primeiros dias e veio a público depois, na fala em que assegurou desconhecer o esquema e afirmou que o PT deveria se desculpar. Esperava, com este gesto de humildade, que a luta política arrefecesse. Mas, pelo contrário, ele recrudesceu e a oposição começou a pensar em seu impeachment. Foi quando ele se reuniu com as centrais sindicais e fez o discurso em que avisou: não renunciaria como Jãnio, não se mataria como Getúlio e não aceitar ser deposto, como Jango. Era o sinal de que iria resistir. A oposição desistiu do impeachment e adotou a tática de fazê-lo sangrar até o ano seguinte, tirando-lhe as condições de disputar a reeleição.
A presidente Dilma está preocupada com Lula mas também não pode fazer nada, a não ser guardar silêncio. Quem lavou a alma dos petistas foi o senador Jorge Viana, com o debate travado com o colega tucano Alvaro Dias sobre a origem do mensalão e o discurso na tribuna, em defesa de Lula. Com um amigo, o ex-presidente desabafou ontem, por telefone, dizendo que ninguém jamais provará o que teria dito Valério, com quem nunca se avistou em toda a sua vida. Avaliou que agora a ofensiva dos adversários é para desconstruir o legado de seu Governo e, ao mesmo tempo, atingir eleitoralmente os candidatos do PT.
Mas alguma reação haverá, de Lula e do PT.. Neste momento, não há uma estratégia definida, por conta do dilema que enfrentam. Se Lula partisse agora para a defesa de seu legado e de sua própria biografia, com força e fúria, poderia prejudicar eleitoralmente os candidatos petistas, especialmente Fernando Haddad em São Paulo. Por outro lado, a falta de reação poderia ser lida como fragilidade e uma espécie de "quem cala, consente", da mesma forma eleitoralmente prejudicial. O discurso de Viana foi, por isso, salvador. Quebrou o silêncio e supriu a falta de reação.
Faltam três semanas para a eleição e talvez duas para o final do julgamento no STF. O mais provável é que a reação virá depois de fechadas as urnas, tenha o julgamento acabado ou não.
Tereza Cruvinel