Ex-cortador de cana é o 1º prefeito do PSOL

No interior do Rio, ex-cortador de cana é o 1º prefeito do PSOL

ITALO NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A ITAOCARA (RJ)

Ex-cortador de cana Glesimar Gonzaga, com a mãe, Maria da Penha, em Itaocara (RJ)
Daniel Marenco/Folhapress
Na sala, foto de Che Guevara e bandeiras de Cuba e Venezuela. O discurso sobre socialismo embalou a campanha em Itaocara, interior fluminense, que elegeu o primeiro prefeito pelo PSOL no país, para surpresa da direção nacional do partido.
O ex-cortador de cana Gelsimar Gonzaga, 48, ganhou a disputa no município de 22 mil habitantes, de economia basicamente rural. Usou um Fusca 1973 como carro de som e repetiu a mesma gravação de dois minutos e dez segundos nos 45 dias de campanha de rádio. Venceu com 45% dos votos válidos.
Gonzaga começou a trabalhar aos sete anos como cortador de cana. Ajudava os pais e os sete irmãos a sustentar a casa.
O prefeito eleito saiu da cidade aos 18 para servir ao Exército na capital. No Rio, trabalhou como bancário e integrou o sindicato da categoria. Filiou-se ao PT, do qual saiu em 2004, em razão da reforma da Previdência proposta pelo então presidente Lula. Antes ídolo, o petista hoje é alvo de críticas.
Mas Gonzaga reconhece que "a vitória do Lula ajudou muito, porque contribuiu para quebrar muitos preconceitos contra a classe pobre, quem não tem nível superior", disse ele.


Ex-cortador de cana Glesimar Gonzaga, com a mãe, Maria da Penha, em Itaocara (RJ)
Gonzaga diz que sua vitória se deve ao desemprego e às falhas no sistema de saúde e educação. Para o socialista, a vitória do PSOL em Itaocara "pode ser exemplo para as capitais".
Presidente do sindicato dos servidores municipais de Itaocara, para onde voltou em 1993, Gonzaga não limita sua atuação à cidade. Participou de ocupações do MST em Campos, no norte fluminense, e foi ao Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), participar de movimentos sociais contrários à retirada dos moradores do local.
O socialista quer formar conselhos populares para cada bairro definir suas prioridades. Planeja audiência com a presidente Dilma (PT) e o governador Sérgio Cabral (PMDB) pela construção de um hospital na cidade.
"Espero que o Edmilson [Rodrigues] vença em Belém para eu não ser vidraça sozinho. Vai ser um bom laboratório para o PSOL administrar uma capital e uma cidade do interior", disse, referindo-se ao integrante do partido que disputa o segundo turno na capital paraense com Zenaldo Coutinho (PSDB).
Para ele, o PSOL no poder corre o risco de se "desvirtuar". Na análise do prefeito eleito, as alianças são as responsáveis pelas mudanças.
Apesar disso, diz que tentará compor maioria na Câmara. O PSOL elegeu só um representante ao Legislativo, que tem 11 cadeiras.
"Sou realista. Não sou intransigente. Converso com todo mundo independentemente da filiação partidária. Quem é socialista não pode discriminar ninguém. Não sou sectário", afirma.