O sábio e a multidão segundo Epiteto

Paulo Nogueira
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Epiteto, nascido na Grécia por volta de 50 DC, passou boa parte da vida como escravo, em Roma. Foi alforriado por seu dono, Epafrodito, um dos favoritos de Nero. Fascinado pelas idéias de Rufo, um pensador estóico, Epiteto acabou, ele próprio, se transformando num filósofo cuja sabedoria ultrapassaria a barreira do tempo. Como Sócrates, jamais escreveu um livro. Um discípulo, Arriano, compilou suas idéias num livro. As frases abaixo, que fazem parte da nossa série “Conversas com Escritores Mortos”,  foram tiradas de um capítulo chamado “O Filósofo e a Multidão”.
Epiteto
Senhor Epiteto: como o senhor distingue o sábio do homem da multidão?
Epiteto: A primeira diferença é a seguinte. Um diz: “Estou com problemas por causa de meu filho, de meu irmão, de meu pai”. Mas o outro, se alguma vez disser que está com problemas, vai refletir e afirmar: “Por causa de mim mesmo”.
De onde vem nosso costume de atribuir aos outros a responsabilidade pelos nossos problemas?
Desde cedo somos acostumados a isso. Na infância, por exemplo, se acontece que tropeçamos, nossa babá não nos adverte para prestarmos atenção, mas bate na pedra. Que mal fez a pedra? Ela deveria sair do lugar para que uma criança distraída não tropeçasse?
O senhor poderia elaborar isso um pouco mais?
Se a criança não encontra nada para comer ao sair do banho, a babá não vai moderar seu apetite, mas sim advertir o cozinheiro. Por que encrencar com o cozinheiro, amigo? É a criança que deve ser aperfeiçoada.
Senhor Epiteto: quais as consequências disso, em sua opinião?
Com esse tipo de coisa, jamais crescemos. Mesmo quando somos adultos, parecemos crianças. Pois uma pessoa sem musicalidade, é uma criança em música. Uma pessoa iliterata, uma criança em letras. E alguém que não recebe a educação devida, é uma criança na vida.