"Por que o bloguista inexplicavelmente não conta nada sobre Rosemary e
o possível envolvimento do ex-presidente Lula em algumas operações
ilícitas? Aonde está a sua imparcialidade de jornalista?", pergunta o
leitor Fernando Aleador, em comentário enviado às 04h57 desta
sexta-feira.
Tem toda razão o leitor.
Demorei para escrever e dar esta resposta porque, para mim, estes
últimos foram os dias mais difíceis da minha já longa carreira, posto
que os fatos envolvem não só velhos amigos meus, como é do conhecimento
público, mas um projeto político ao qual dediquei boa parte da minha
vida.
Simplesmente, não sabia mais o que dizer. Ao mesmo tempo, não podia
brigar com os fatos nem aderir à guerra de extermínio de reputações e de
desmonte da imagem do ex-presidente Lula e do PT que está em curso nos
últimos meses.
A propósito, escrevi no começo de novembro um texto que se mostrou
premonitório sob o título "O alvo agora é Lula na guerra sem fim",
quando o STF consumou a condenação dos ex-dirigentes do PT José Dirceu,
José Genoíno e Delúbio Soares.
De uma hora para outra, a começar pelo julgamento do mensalão, até
chegar às revelações da Operação Porto Seguro, o que era um projeto
vitorioso de resgate da cidadania reconhecido em todo o mundo levou um
tiro na testa e foi jogado na sarjeta das iniquidades.
"O que me intriga é saber por que agora, por que assim e por que
tamanha insistência. É claro que o esforço para acabar com a corrupção é
legítimo e louvável, mas não terminaram recentemente de sangrar o PT
até a entrada do necrotério? Quem estaria sedento por mais?",
pergunta-se a colunista Barbara Gancia, na edição de hoje da Folha, e
são exatamente estas as respostas que venho procurando para entender o
que está acontecendo.
Talvez elas estejam na página A13 do mesmo jornal, em que se lê: "FHC
acusa Lula de confundir interesses públicos e privados". Em discurso
num evento promovido pelo PSDB no Jóquei Clube de São Paulo, na
quinta-feira, o ex-presidente pontificou, mesmo correndo o risco de
falar de corda em casa de enforcado:
"Uma coisa é o governo, a coisa pública, outra coisa é a família. A
confusão entre seu interesse de família ou seu interesse pessoal com o
interesse público leva à corrupção e é o cupim da democracia".
Sem ter o que propor ao eleitorado, após sofrer três derrotas
consecutivas nas eleições presidenciais, e perder até mesmo em São Paulo
na última disputa municipal, o PSDB e seus alíados na mídia e em outras
instituições nacionais agora partem para o vale-tudo na tentativa
desesperada de eliminar por outros meios o adversário que não conseguem
vencer nas urnas.
Nada disso, porém, exime o ex-presidente Lula e o PT de virem a
público para dar explicações à sociedade porque não dá mais para fazer
de conta que nada está acontecendo e tudo se resume a uma luta política,
que é só dar tempo ao tempo.
A bonita história do partido, que foi fundamental na redemocratização
do país, e a dos milhões de militantes que ajudaram a levar o PT ao
poder merecem que seus líderes venham a público, não só para responder a
FHC e às denúncias sobre a Operação Porto Seguro publicadas diariamente
na imprensa, mas para reconhecer os erros cometidos e devolver a
esperança a quem acreditou em seu projeto político original, baseado na
ética e na igualdade de oportunidades para todos.
Chegou a hora da verdade para Lula e o PT.
É preciso ter a grandeza de vir a público para tratar francamente
tanto do caso do mensalão como do esquema de corrupção denunciado pela
Operação Porto Seguro, a partir do escritório da Presidência da
República em São Paulo, pois não podemos eternamente apenas culpar os
adversários pelos males que nos afligem. Isso não resolve.
Mais do que tudo, é urgente apontar novos caminhos para o futuro,
algo que a oposição não consegue, até porque não há alternativas ao PT
no horizonte partidário, para uma juventude que começa a desacreditar da
política e precisa de referências, como eu e minha geração tivemos, na
época da luta contra a ditadura.
Conquistamos a democracia e agora precisamos todos zelar por ela.