Após sofrer três derrotas para o PT em eleições presidenciais e perder
sua influência na Prefeitura de São Paulo, o PSDB paulista quer levar a
sigla para o divã.
Dois documentos assinados por políticos de gerações distintas do partido
e enviados à cúpula tucana nos últimos dez dias pregam uma revisão
profunda dos programas da legenda e suas estratégias eleitorais.
Os textos dizem ainda que o PSDB deve refazer conexões com sua
militância promovendo uma ampla consulta às bases para trilhar o caminho
da "renovação".
Um documento foi elaborado por José Henrique Reis Lobo, ex-presidente da
sigla, aliado de José Serra e confidente do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso. O outro pela Juventude do PSDB de São Paulo.
Redigidos separadamente e por grupos que não se comunicam dentro da
sigla, ambos introduzem seus pedidos com um convite à reflexão sobre as
derrotas eleitorais sofridas nas eleições nacionais de 2010 e nas
municipais de 2012. Nos dois casos, Serra era o candidato.
Reis Lobo, no documento enviado à direção nacional, é direto. Pede a
organização de um congresso nacional do partido, precedido por debates
municipais e estaduais para "promover uma ampla reflexão sobre o
resultado das últimas eleições, tanto as de 2012 quanto as 2010, para
melhor entender os resultados adversos".
O texto assinado por ele foi discutido com FHC, com o senador Aloysio
Nunes Ferreira e Alberto Goldman, entre outros líderes do partido. Já o
da Juventude nasceu de uma reunião de 150 "jovens tucano" sábado
passado.
"É preciso promover discussões sobre as questões do PSDB. Essas coisas
passam, talvez, por uma autocrítica", afirma Lobo. "E não adianta querer
promover isso debatendo apenas em um circulo restrito de líderes do
partido. Tem que ouvir todo mundo que vive o PSDB ou tem uma ligação
ideológica ou emocional com ele", concluiu.
Já o texto da Juventude dá a entender que o PSDB se desviou de seus
propósitos iniciais. "O PSDB nasceu contestando uma velha prática:
disputa de poder pelo poder, plano de governo tirado da cartola,
pragmatismo, campanhas eleitorais frágeis e vazias. 24 anos depois, cabe
a reflexão: estamos fazendo o que condenávamos?".
A carta dos jovens prega ainda a consolidação de prévias para definir os
nomes de candidatos do partido. "Precisamos de modelos que permitam a
prevalência da democracia interna. Uma estrutura arcaica dá margem a
atitudes autoritárias", diz.
"Falar de renovação não é dizer que devemos jogar o Serra, o Alckmin e o
FHC fora. Ao contrário. Eles devem conduzir esse processo. "Renovação
não é de idade, mas de ideias", avalia Paulo Mathias, presidente da
Juventude tucana. (DANIELA LIMA)