Não sou um maníaco da televisão. Ela entrou na minha vida aos 34
anos, no meu exílio em Paris, quando eu e minha companheira compramos um
pequeno televisor, o tamanho menor e em preto-e-branco, para ver filmes
nos canais estatais franceses. Havia três canais, e nenhum era privado.
Ainda hoje, na Suíça, me instalo diante do ecrã, colorido, grande,
apenas para ver os telejornais francês e suíço. É raro optar por um
filme, mais raro ainda um DVD. Se há visita, o aparelho permanece
desligado.
A oferta atual de programas excede nossa capacidade visual e de tempo
- são uns 150 canais, alguns pagos como os brasileiros Globo e Record,
dos quais não sou assinante. Não me fazem falta.
Me surpreendo ao ver que aqui no Brasil a televisão tem lugar de
honra nos lares e geralmente permanece ligada, mesmo quando há visitas.
Os atores são ídolos e as telenovelas podem monopolizar a atenção das
pessoas, embora eu tenha constatado um crescente desinteresse dos jovens
pela televisão, atraídos pelas novas opções tecnológicas.
Aqui no interior paulista, sem estar monitorado para ver os canais
que a maioria vê, descobri uma maneira inteligente de se ver televisão,
dentro da minha habitual moderação.
Trata-se do canal público TVBrasil que ainda não pode ser visto na
Europa, mas quando for, será gratuito para quem tiver antena parabólica.
A TVBrasil destoa no panorama televisivo brasileiro que, na busca de
audiência, em vez de oferecer programas de bom nível decidiram se
nivelar por baixo, impedindo ao telespectador nacional o acesso à
cultura. No festival de programas de baixaria e telejornais
tendenciosos, a TVBrasil é exceção.
É evidente que ela se integra num projeto cultural vasto para os
brasileiros, oferecendo arte, bons filmes e não os enlatados americanos,
já monopolizadores do mercado de distribuição nos cinemas. O
telespectador aprende com os debates, as entrevistas e até mesmo uma
telenovela trata da época da escravidão, vista de um ponto de vista
político e social.
Para sintetizar minha impressão, depois de alguns programas vistos na
TVBrasil, eu diria que ela busca ser autêntica e fiel à nossa cultura,
ao nosso ideário brasileiro, à nossa criatividade latinoamericana e à
nossa etnia tropical. Há muita brasilidade nos anúncios e nas chamadas,
enfim alguma coisa nova e substancial na televisão brasileira.
Me tornei um assíduo telespectador do telejornal, Reporter Brasil, às
21h00. Para o público infantil me parece haver uma oferta de programas
longe dos habituais desenhos animados de violência e dos lamentáveis
programas infantis existentes nos outros canais.