JESSÉ, OU MELHOR, ZECA PAGODINHO FOI FUNCIONÁRIO DO SERPRO
Carlos Henrique Ferreira, vinculado à 6ª RF (Belo Horizonte),
atualmente prestando serviço de suporte de rede em Montes Claros (MG),
trabalhava como contínuo no 8º andar do prédio da Burroughs, onde
funcionava o Serpro, no Rio de Janeiro, por volta de 1981. Era conhecido
como Shaolin e se lembra bem de um novo profissional que entrou para a
copa, em substituição a um colega que mudara de função.
“Ele era bem franzino, mas rápido e safo, e resolvia qualquer
problema”, lembra Ferreira. A copa do 8º atendia a quatro andares, fora a
diretoria. “Quando havia reunião, o bicho pegava. Imagine o peso da
bandeja que tínhamos que carregar: 20 cafés e 20 águas, além das
xícaras, bules e açucareiros”, diz Shaolin, acrescentando que outro
garçom dava apoio, levando só água, em copos duplos de cristal.
O nome do novato, que logo se tornou amigo, era Jessé Gomes da Silva
Filho. Tinha na época 22 anos e morava no subúrbio carioca de Del
Castilho. Nascido em Irajá, Jessé freqüentava rodas de samba de fundo de
quintal. “Às vezes pegávamos o busão juntos, pois eu morava bem depois
de sua casa, e queimava um bocado de chão para chegar em Inhaúma. Uma
tarde, conversando, me disse que tinha visto um cara tocar cavaquinho e
se amarrou no tal instrumento. Ele já tocava violão e ficou entusiasmado
para aprender”, conta Ferreira.
O trabalho dos funcionários da copa ainda implicava fazer serviços de
rua: desmarcando, cancelando e remarcando vôos aqui e ali, percorriam
os escritórios das companhias aéreas, quando a internet ainda estava
longe, para conseguir lugar aos executivos do Serpro, em suas viagens
pelo país. Para Waldemiro Schneider, que também conviveu com Jessé, ele
era o encarregado de fazer a fezinha do pessoal, no jogo do bicho, um
velho hábito carioca que existe até hoje. (Ver Box)
Um dia, outro contínuo, o Sinivaldo, de Niterói, resolveu trazer o
cavaquinho para o Serpro. A turma da copa combinou então esperar a parte
da tarde, quando tudo ficava mais tranqüilo. “Na estreita copa, o
pagode teve início com a seguinte formação: Jessé no cavaco; eu,
Shaolin, de marcação na geladeira; Carlos Alberto com dois copos de água
de plástico e uma caneta fazendo o tamborim; Sinivaldo, com um pandeiro
– na verdade, um pano esticado sobre o porta-xícaras da máquina de
café; a copeira, com um rodo e pano de chão, era nossa porta-bandeira; e
o mestre-sala, se não me engano, era o Luiz, o Charuto”.
Jessé dera ao amigo Shaolin outro apelido, chamava-o de “Gordo
Karatê”. Concentrada, a banda se esqueceu de que o andar era todo em
divisórias. Foram surpreendidos pelo chefe, “com seu tradicional bordão”
e dirigindo-se a Jessé: - Pô, mermão, você vacilou! Ninguém foi
despedido por isso, mas todos levaram um tremendo sermão. O tempo passou
e Shaolin – que toca tantã – voltou a encontrar o colega “nos pagodes
da vida”.
Ele já estava se tornando conhecido. Nas rodas de samba que
freqüentavam, costumava pedir: “Posso levar um pagodinho?” Jessé adotou o
nome Zeca Pagodinho nesse mesmo ano de 1981, quando foi descoberto pela
cantora Beth Carvalho. Beth ficou impressionada com seu talento e o
convidou a gravar com ela o samba “Camarão que dorme a onda leva”, dele e
de Arlindo Cruz. Com 23 anos, Zeca foi convidado a participar do disco
“Raça Brasileira”, que reunia outros quatro novos nomes do samba:
Jovelina Pérola Negra, Pedrinho da Flor, Eliane Machado e Mauro Diniz.
O disco foi um grande sucesso de vendas, abrindo caminho para a
carreira do artista, que em novembro desse ano entrava em estúdio para
gravar um CD. Já são 15 discos e um DVD, sempre no topo das paradas com
suas músicas alegres, maliciosas, de duplo sentido, cantadas com a graça
e o sotaque de um carioca do samba. No centro da polêmica envolvendo
duas marcas de cerveja, Zeca Pagodinho compareceu ao programa do
Faustão, na TV Globo. O apresentador lhe perguntou se alguma vez ele
havia trabalhado na vida. Zeca, ou melhor Jessé, não mentiu. Confessou
que foi funcionário do Serpro.
Tuitado por Stanley Burburinho (quem será ele?)
Do Portal do SERPRO
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