O documentário “1964 - Um Golpe contra o Brasil”, realizado pelo
Núcleo de Preservação da Memória Política e dirigido por Alipio Freire,
estreou no Memorial da Resistência, museu que ocupa o antigo prédio do
Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), próximo à
Estação da Luz, no centro de São Paulo. Com linguagem didática, a obra
esclarece pontos que, na opinião do diretor, vêm sendo deixados de lado
nos estudos sobre o regime militar.
“Nos preocupa muito que as pessoas sejam extremamente solidárias
com os resistentes, em termos do fato de terem sido presos e torturados,
mas que não saibam exatamente contra o que eles resistiam. Porque a
história oficial é um terror”, destacou Alipio Freire em entrevista a Agência Brasil.
Uma das ideias que o filme tenta desconstruir é a de que a ditadura foi uma iniciativa apenas dos militares. “Acabar
com essa lenda de que o golpe foi militar. Não foi de uma corporação,
foi de uma classe: do grande capital internacional e de seus associados
dentro do Brasil contra um projeto nacional desenvolvimentista”, assinala Freire.
O filme é uma narrativa dos fatos que levaram ao golpe e à ditadura
que assolou o país de 1964 a 1985. O período escolhido pelo diretor
começa com a nomeação de Jânio Quadros e vai até a eleição do marechal
Castello Branco, em abril de 1964. Segundo Freire, o objetivo é “mostrar
quem deu o golpe, porque deu o golpe, a serviço de quem estavam. O
papel dos Estados Unidos dentro disso tudo. O mundo polarizado da Guerra
Fria como pano de fundo”.
Para contar a história foram feitas mais de 20 entrevistas com
pessoas que atuavam politicamente naquele tempo e que resistiram ao
golpe, como a jornalista Rose Nogueira, o líder sindical Derly José de
Carvalho e o ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Aldo
Arantes. Os depoimentos pessoais servem, de acordo com o diretor, para
estruturar uma narrativa sobre os fatos retratatos. “Não há memória individual. Ninguém é o centro do vídeo. O centro do vídeo é a história do Brasil naquele momento”, enfatiza o diretor.
Também foram consultadas mais de uma dezena de fontes para reunir as
imagens que compõem o filme. São usadas fotos e vídeos do Arquivo
Público de São Paulo, do Insituto João Goulart, do Arquivo Nacional, dos
arquivos na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade
Estadual de Campinas, entre outros.