De olho em 2014, PSDB faz seminário para "salvar" Petrobras
BRASÍLIA, (Reuters) - O PSDB deu início a um ciclo de
seminários em que pretende apresentar nos próximos meses suas propostas
para voltar ao poder em 2014, e o alvo das críticas tucanas nesta
terça-feira foi a Petrobras, que na avaliação do partido é vítima da
gestão política do governo e precisa ser "salva" do PT. A estatal emitiu
nota para rebater as críticas.
Esse é mais um dos movimentos do PSDB em resposta à movimentação
da presidente Dilma Rousseff, que desde o começo do ano tem costurado
politicamente seu projeto de reeleição.
O seminário apontou falhas na gestão da estatal, questionou o
regime de partilha para exploração de óleo da camada pré-sal e a
política de conteúdo nacional orientada pelo governo.
Segundo o PSDB, a Petrobras perdeu em dois anos 47,7 por cento do
seu valor de mercado, e está sendo vista com desconfiança pelo mercado.
A estatal reconheceu a perda de valor de mercado nesse período, mas questionou o valor apresentado pelos tucanos.
"(Em) 2011, o valor de mercado da Petrobras era de 398 bilhões de
reais e hoje 234 bilhões de reais, tendo uma perda de 164 bilhões de
reais, perdendo 41,2 por cento do seu valor de mercado", disse a empresa
em nota.
Os tucanos também criticaram a queda na produção de petróleo da
empresa numa comparação entre a gestão do PSDB no governo federal, entre
1995 e 2002, e a gestão petista desde 2003.
"Após registrar aumentos médios de 10 por cento na produção de
petróleo entre 1995 e 2002, a Petrobras viu esse índice despencar para
2,4 por cento ao ano, desde que o PT chegou ao poder. Já a dívida
líquida da empresa saltou de 26 bilhões de reais para mais de 130
bilhões entre 2007 e 2012", diz um trecho do folheto entregue pelos
tucanos no Congresso.
A petroleira, porém, contestou esse cálculo da queda na produção destacada pelo PSDB.
"A produção de petróleo da Petrobras foi de 700 mil barris por
dia em 1995 e chegou a 1,5 milhão de barris por dia em 2003. De 2003 a
2012, o patamar de produção de óleo da Petrobras elevou-se de 1,5 milhão
de barris por dia para 2,0 milhões de barris por dia, e chegará a 2,5
milhões de barris por dia em 2016 e 4,2 milhões de barris por dia em
2020", segundo a nota da estatal.
Sobre o aumento da dívida, a Petrobras argumentou que o mercado
não considera essa questão um problema, tanto que a estatal não tem
sofrido dificuldades para captar financiamentos.
"A dívida líquida da Petrobras ficou em 148 bilhões de reais no
final de 2012. Porém, isso não é visto como negativo pelo mercado. Pelo
contrário, ao longo dos últimos anos, o aumento do endividamento veio
acompanhado da redução do custo de captação da companhia e da melhora da
avaliação de risco por parte das agências de rating", disse em
comunicado.
EM CAMPANHA
"Cabe a nós da oposição com a responsabilidade que temos para com
o Brasil... estar atentos vigilantes, denunciando, condenando e
cobrando os abusos, mas principalmente apresentando propostas e
alternativas a isso que está aí", disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG),
que deve ser o candidato do partido à Presidência em 2014.
Segundo ele, é preciso rever o modelo de partilha adotado pelo
governo para a exploração da camada pré-sal, retirando a obrigatoriedade
para que a Petrobras seja operadora única dos campos a serem licitados
por esse modelo.
"Hoje é irreal e contraproducente manter a obrigatoriedade de 30
por cento da Petrobras em cada um dos campos", criticou Aécio. O tucano
disse ainda que é favorável à regra de conteúdo nacional para as compras
da estatal, mas que ela deveria ser flexibilizada porque tem metas
muito elevadas.
Já a Petrobras considera essa política um sucesso e disse que não sente dificuldades em ser atendida pelo mercado doméstico.
"A indústria nacional de bens e serviços tem respondido à altura
das demandas da Petrobras, com conteúdo nacional que por vezes supera o
índice de 85 por cento que é o caso dos projetos do refino", argumentou a
estatal.
Outro ponto da atual gestão da Petrobras criticado no seminário
tucano foi a não equiparação dos preços da gasolina nas refinarias aos
patamares praticados pelo mercado internacional. Segundo o engenheiro
Wagner Freire, ex-diretor da estatal que foi convidado para o evento do
PSDB, a Petrobras continuará amargando prejuízos sem a equiparação.
A Petrobras vende atualmente derivados do petróleo no mercado
interno a preços inferiores aos praticados no mercado internacional, por
não ter repassado recentemente a totalidade dos maiores custos com
petróleo. Com isso, o governo federal, controlador da companhia, evita
maiores altas na inflação.
Neste ano, a Petrobras já anunciou duas altas nos preços do
diesel e uma para a gasolina, após outros reajustes em 2012, num
movimento que busca alinhamento dos valores com a cotação internacional
em uma perspectiva de médio e longo prazos.
Segundo Aécio, os próximos seminários dos tucanos vão discutir as
concessões anunciadas pelo governo recentemente na área de logística,
os problemas de competitividade da economia e as questões federativas.
(Reportagem de Jeferson Ribeiro)