A sociedade tem que saber o suficiente sobre a chamada Bonificação por Volume — uma arma criada por Roberto Marinho para concentrar na Globo a publicidade brasileira.
E o BV vai entrando espetacularmente nos debates em torno do Mensalão.
Barbosa e João Roberto Marinho num prêmio do Globo: parte da fortuna dele vem do BV |
Num artigo nesta semana, o colunista Janio de Freitas, da Folha, escreveu sobre isso.
(…) perícia de especialistas do Banco do Brasil concluiu pela
existência das comprovações necessárias de que os serviços foram
prestados pela DNA. E de que foi adequado o pagamento dos R$ 73,850
milhões, feito com recursos da sociedade Visanet e não do BB, como
constou. Perícia e documentos que os ministros vão encontrar em breve.
Duas coisas emergem disso tudo.
Primeiro, que é vital dar mais prazo de defesa para os réus para que
os dados novos possam ser debatidos de uma maneira civilizada.
Joaquim Barbosa deve isso – o prazo – não aos réus, mas à justiça e à sociedade.
Segundo, os brasileiros devem ser inteirados do que é BV, e isso já deveria ter acontecido faz muito tempo. (Aqui, você pode encontrar informações boas e imparciais sobre o BV.)
Como escreveu Janio de Freitas, os juízes talvez ignorem o que é BV, mas os donos das empresas de mídia não.
Boa parte da fortuna pessoal deles foi erguida em cima do BV.
BV são as iniciais de Bonificação por Volume. Essencialmente, quanto
mais uma agência de publicidade anuncia num veículo, mais ela recebe
como bônus.
Foi, como se poderia imaginar, uma invenção da Globo – mais uma, entre tantas contribuições nocivas à sociedade.
Roberto Marinho – que como mostram os documentos pessoais de Geisel
no revelador livro Dossiê Geisel cobrava ‘favores especiais’ da ditadura
em troca do apoio editorial que garantia na Globo – trouxe o BV, e logo
foi seguido pela Abril e pelo mercado.
A sociedade não sabe, porque a mídia jamais publicou nada sobre isso,
mas o Tribunal de Contas da União (TCU) questiona o BV nos contratos
públicos. Os técnicos do TCU entendem que o BV “tem o potencial de
afetar a escolha das agências, consistindo em mecanismo que as estimula a
concentrarem a publicidade em menor número de veículos”.
A invenção esperta, amoral e abjeta da Globo na década de 1960 levou
exatamente a isso: uma brutal concentração de publicidade nela própria.
A Globo – e não está longe o dia em que este absurdo se colocará à
sociedade com a devida clareza – tem 60% da receita publicitária do
Brasil.
Isso conduziu, como se vê hoje, não apenas à riqueza desmesurada da família Marinho — mas a um monopólio de opinião que só foi rompido com a internet.
Os brasileiros sofreram, ao longo dos anos, uma brutal intoxicação
das opiniões de Roberto Marinho, disfarçadas em intervenções pelo
interesse público.
Graças ao BV, a receita publicitária da Globo em 2012 bateu um recorde positivo em todos os tempos ao mesmo tempo em que a audiência batia um recorde negativo.
Este contraste conta tudo.
Como em tantas coisas no Brasil, o BV floresceu na completa falta de
transparência que a mídia ajudou a criar em assuntos de seu exclusivo
interesse.
Não é apenas o BV. O dia em que forem devidamente publicadas as
mamatas das empresas de jornalismo — o papel imune e, em pleno 2013, a
reserva de mercado que coíbe a concorrência estrangeira – a sociedade
vai entender por que as famílias da mídia acumularam tanto dinheiro e
tanto poder.
É bem possível, como sugere Janio de Freitas, que diante de tão pouca
informação sobre o BV, também os juízes do STF – incluído Joaquim
Barbosa — não o conhecessem ao julgar o mensalão.
Por tudo isso é imperioso que, primeiro, seja dado o devido prazo para os recursos.
Depois, que se traga transparência a uma invenção de Roberto Marinho – o BV — que, lamentavelmente, sobreviveu a ele