Elio
Gáspari, Eugenio Bucci e Merval Pereira manifestaram-se
recentemente contrários à proposta de plebiscito formulada pelo governo
Dilma.
Para eles, a iniciativa de reformar a estrutura política do
país não guarda qualquer aderência com as inquietações recentes
expressas nas ruas. Alckmin, Aécio, Ronaldo Caiado, Serra e Gilmar
Mendes, entre outros, pensam assim também.
A palavra plebiscito costuma
provocar urticária na sensível epiderme conservadora por conta do
recorte político claramente embutido em sua etimologia.
A história da
palavra marca o encontro de dois termos latinos (plebs e scitum) que
podem ser traduzidos como o ‘decreto da plebe', a ordenação social
definida por ela, digamos assim.
Outro entendimento deriva da junção do
latim, plebs scit .
E, neste caso, a colisão com a visão histórica do
patriciado de todas as épocas é ainda mais inflamável: ‘a plebe sabe',
dardeja a etimologia.
Os centuriões da ordem, de todas as ordens, se
arrepiam: se a plebe, o estamento intermediário na Roma antiga, sabe, em
breve os escravos evocarão também esse direito.
A questão crucial em
todas as travessias de ciclo histórico é a reforma do poder: 'quem
sabe' definir melhor o passo seguinte da sociedade.
Elio Gáspari, nos
anos 80, acreditava que quem sabia era o coronel Heitor Ferreira de
Aquino.
O porta-recados da ditadura, e secretário do general Golbery
(segundo na hierarquia da ditadura Geisel), despachava regularmente com o
então diretor-adjunto da revista 'Veja'.
Não raro, na véspera do
fechamento, a voz da secretária ecoava pressurosa pelos corredores da
semanal dos Civitas: ‘Eeeliiiooo, o Heitor, o Heitor!
E lá ia o atual
crítico do plebiscito beber direto na fonte de quem sabia, na sua
concepção de sabedoria.
Heitor, uma espécie de faz-tudo de Golbery, de
fato sabia.
Muito.
Um lado da história.
Mas não toda ela.
Sobretudo,
não sabia o lado da rua.
O da plebe que a seus olhos, a exemplo do
patriciado atual, estava alheia às questões do poder e da estrutura
política.
Até que em 1983 surgiu o ‘Diretas Já!' e , em 1988, uma
Constituinte esticou o perímetro da cidadania a limites até hoje não
digeridos pelo patriciado que, pelo visto, rechaça viver a experiência
novamente.
Do Carta Maior