A revelação da farsa do “seminário” de Gilmar mostra que sua fama cruzou o Atlântico.
Por Kiko Nogueira do DCM
Gilmar Mendes está tendo dificuldade para explicar o que deveria ser simples de descrever se simples fosse.
O seminário em Lisboa organizado por seu IDP, Instituto Brasiliense
de Direito Público — onde trabalha a advogada que apresentou liminar
contra a posse de Lula, acatada por GM —, transformou-se num mico
internacional.
Entres os palestrantes, estão os velhos amigos Aécio Neves e José
Serra, além do ministro do STF Dias Toffoli . Michel Temer declinou para
conspirar por aqui mesmo. Dois inocentes úteis, Jorge Viana, senador
pelo PT do Acre, e Luís Inácio Adams, da AGU, estão no pacote.
O evento foi definido como “governo brasileiro no exílio”. Gilmar tem
rebatido dizendo, cinicamente, que a crise “favorece o aparecimento de
toda sorte de teoria conspiratória”.
O trem da alegria de GM é explícito no timing e no tema:
“Constituição e Crise — A Constituição no contexto das crises política e
econômica”. A ideia, afirma o articulador, é discutir
“semi presidencialismo”.
“Não é reunião de partido, é uma reunião acadêmica que foi programada
há muito tempo, com convites preparados há mais de dez meses. A OAB e a
FGV apoiam, por exemplo”, falou, como se isso fosse argumento.
Portugal não embarcou. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa avisou
que será difícil comparecer, embora conste desde o começo como estando
confirmado.
Acusações de leniência e cumplicidade estão sendo dirigidas à
Universidade de Lisboa, que sedia o fórum. Jaime Gama, ministro de
Negócios Estrangeiros, também pulou fora, bem como Pedro Passos Coelho,
ex-primeiro ministro.
De acordo com o Globo, que ouviu políticos portugueses, há uma
consternação com o “tom conspiratório”. “Me parece um seminário muito
enviesado”, disse o historiador e ex-deputado do Parlamento Europeu Rui
Tavares. “As mesas de debate quase têm como preocupação procurar uma
justificativa teórica ou acadêmica para o impeachment”.
O escritor português Francisco Loução, economista e ex-deputado,
traduziu as intenções de Gilmar. “Só haveria uma razão, procurarem um
endosso internacional para as suas diligências, fazerem-se fotografar ao
lado das autoridades de Portugal. Se era esse o objetivo, fracassou”,
escreveu no jornal Público.
“O seminário era de tão alta qualidade que os organizadores se
esqueceram de consultar a ‘pertinência acadêmica’ do ‘contributo’ dos
oradores que convidaram.
Ficando deserto de autoridades, o seminário
limitar-se-á então, se ainda se vier a manter com tantos abandonos, a uma conversa entre juristas e políticos brasileiros sobre a graça do golpe que está a decorrer. Suponho que só a TAP agradecerá a cortesia”.
O mistério que fica é relativo à presença de Viana e Adams. A certeza
é em relação ao caráter e às intenções de Gilmar Mendes e apaniguados,
que tentaram arrastar os portugueses para sua farsa achando que estavam
em seu quintal, o Brasil.