Pequenas coisas podem significar muito. Me chamou a atenção,
algum tempo atrás, uma declaração de Lula numa entrevista sobre o
depoimento coercitivo de que foi vítima.
“Levaram até o celular da Marisa, que ela usa pra fazer
zapzap com as amigas”, disse Lula, rindo. (Foi antes do AVC que a
mataria.)
Pensei na hora: “Putz, os caras da Lava Jato não devolvem o que tomaram depois de examinar?”
Passadas semanas, leio numa nota dos advogados de Lula que o
celular de Marisa ainda não foi devolvido.
E não só ele: a defesa de
Lula pediu na nota a devolução dos pertences de Marisa. No plural.
Parece coisa à toa, mas não é. Mostra o desrespeito com que Lula e família são tratados pela Lava Jato.
Que valor não têm agora para os que a amavam, por exemplo, as fotos tiradas por Marisa e guardadas no aparelho?
Num recente depoimento da Lava Jato em que os advogados de
Lula estavam presentes, Moro queixou-se de não estar sendo respeitado.
“Respeite o juiz”, disse ele quando a defesa de Lula o comparou a um
inquisidor.
Mas um momento. Cabe a Moro dar o exemplo de respeito antes
de cobrá-lo.
Uma única vez, ao colher um depoimento, ele foi
genuinamente respeitoso.
Foi quando — não por acaso — o ouvido era FHC.
Moro deveria também dar-se ao respeito. Ao cochichar com
Aécio numa festa, para ficar num caso entre muitos, ele estava
desrespeitando a si próprio como juiz.
Não basta a um juiz ser
imparcial. Ele tem que parecer imparcial.
Mas comecemos pelo mais simples: mande devolver as coisas de
Marisa, Moro. De preferência, com um pedido de desculpa, ainda que
insincero.