Publicado no Tijolaço.
POR FERNANDO BRITO
POR FERNANDO BRITO
A escalada de insanidade que o Brasil está vivendo tem seus remédios em duas coisas que a direita não quer aceitar.
A primeira é que se não havia antes condições políticas e
legitimidade para aprovar as reformas trabalhista e previdenciária,
agora isso é impossível e fazê-las adotar á força nos levará a
confrontos de dimensões incalculáveis.
Nem se discute se são necessárias, nesta ou naquela direção
ou neste ou naquele grau. Mas está evidente que não se pode fazê-las em
um clima de ditadura, congressual que seja.
A segunda é que não parece um nome de consenso – que todos
concordam ser a única saída imediata para o afastamento de Michel Temer –
porque não há homem neste país que seja capaz de unir o Brasil.
Mas há uma ideia, sim, que só não é unânime porque os grupos
conservadores e o “mercado” ainda se aferram à ideia exposta cruamente
por Henrique Meirelles: “com Michel ou sem Michel, as reformas têm de
sair”.
Tão grave quando o “fundamentalismo de mercado” é o
“fundamentalismo judicial”. A finalidade da lei e da Justiça é a de
preservar direitos e solucionar conflitos.
Se, numa casa conflagrada,
no mesmo momento, quisermos examinar e julgar cada ato, pequeno ou
grande, de cada um dos moradores, nada sobrará de pé.
Nada, até que surja um tirano que, à força, restabeleça a
ordem, mas sem justiça alguma, porque só a sua vontade prevalecerá sobre
as ruínas.
Se Michel Temer quer deixar o Planalto com um mínimo de dignidade e não ser chutado de lá, só tem um caminho.
Que não é chamar o Exército, mas chamar eleições, retirando
as reformas que propôs ao Congresso, deixando ao novo governo, eleito, a
decisão de levá-las em frente ou não, e de que forma.
Infelizmente, parece ser um gesto grande demais para um
homúnculo como ele, que vive num mundo de dissimulação e golpes de
esperteza e vaidade mediocre.
Dificilmente terá esta compreensão, embora seja a única
coisa, a esta altura, que tornaria sua morte política digna e
preservaria seu cadáver do vilipêndio inevitável que virá de sua
derrubada.