Saturação e projeto

A rapidez e a abrangência dos acontecimentos em marcha turvam  a compreensão mais geral do que se passa no país. 

O que se viu nas últimas horas espraiou estupefação e perplexidade nas diferentes dimensões da vida política e partidária. Em 11 capitais, dezenas de milhares aderiram aos protestos. 

Os 20 centavos que motivaram a mobilização inicial em São Paulo, no dia 6 de junho, tornaram-se ainda mais irrisórios diante da abrangência e da intensidade do que se vê 12 dias depois. 

O que está em jogo é muito mais do que caraminguás. As ruas requisitam uma nova agenda política para o Brasil. 

Não significa desqualificar conquistas e avanços preciosos dos últimos anos. 

Mas a história apertou o passo. 

Talvez até porque a musculatura do percurso agora o permite. 

As instituições e canais de escuta não souberam  interpretar o vapor acumulado nessa marcha batida. 

Um viés economicista pretendeu resolver na base da macroeconomia  -à frio--  aquilo que pertence ao apanágio da democracia: as escolhas do futuro e o sacrifício do presente. 

 A liderança do processo brasileiro está em aberto. Hoje, ninguém é de ninguém. 
 Leia aqui o que eu, Paulo Morani, escrevi a dois dias

A ausência de uma plataforma capaz de dar unidade e coerência a aspirações fragmentadas e avulsas pode asfixiar o que as ruas tentam dizer. 

Na Espanha, a vitória eleitoral do ultra-conservadorismo, em 2011, só foi possível porque a abstenção, sobretudo jovem,  atingiu proporções epidêmicas no berço mundial dos indignados. 

A exemplo do que ocorreu na Espanha, nos EUA e, mais recentemente, na Itália , em algum momento os indignados brasileiros serão chamados a refletir - talvez precocemente - sobre as escolhas do poder. 

O poder de Estado. 

Os compromissos que a luta pelo poder impõe. 

A impossibilidade de ignorá-la; e, sobretudo, a escolha da melhor estratégia para pautar o seu exercício,  a cada movimento da história.
Do Carta Maior