Crise da água em São Paulo

'É erro' não reiterar à população apelo por economia, diz Dilma Pena

Em gravação, diretor da Sabesp afirma não saber o que fazer se estiagem prolongada se repetir:
'Saio de São Paulo porque aqui não vai ter água pra tomar banho', disse ele reproduzindo uma 'brincadeira séria' 
BRUNO BOGHOSSIAN PAULO GAMA DO PAINEL
Em reunião com diretores da Sabesp no dia 27 de julho, a presidente da estatal, Dilma Pena, afirmou que uma "orientação superior" impediu que dirigentes da empresa alertassem reiteradamente a população de São Paulo sobre a necessidade de economizar água. 

"Cidadão, economize água'. Isso tinha de estar reiteradamente na mídia, mas nós temos de seguir orientação, nós temos superiores, e a orientação não tem sido essa. Mas é um erro", afirmou

O encontro foi gravado por um dos participantes e o áudio, obtido pela Folha

Em nota, o governo paulista diz que "nunca vetou qualquer alerta sobre a crise hídrica". 

Nesta sexta (24), a Sabesp passou a contabilizar na capacidade útil do sistema Cantareira a segunda cota do volume morto --reserva técnica abaixo do nível de captação. Com isso, o nível de água nos reservatórios foi a 13,6%. 

No dia anterior, sem contar essa reserva, o Cantareira operava com 3% da capacidade. Só na Grande São Paulo, o sistema, que vive a pior crise de sua história, abastece 8 milhões de pessoas. 

A crise foi o principal mote das campanhas dos adversários do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que foi reeleito neste mês. 

Na disputa, o tucano foi acusado de não abordar a questão de maneira transparente por motivos eleitorais. No dia da reunião em que Dilma se queixou, a campanha já estava em curso. 

À ocasião, o Cantareira operava com 15,9% de sua capacidade e já usava a primeira parte do volume morto. 

O governo também já havia adotado medidas como a concessão de bônus nas contas para clientes que economizassem água e havia passado a abastecer consumidores do Cantareira com outros sistemas, como o Alto Tietê.
Ainda assim, na reunião, Dilma diz que a comunicação da Sabesp deveria ser mais incisiva. "Nós tínhamos de estar mais na mídia, os superintendentes locais, nas rádios comunitárias", diz. "E falo para as pessoas com quem eu converso, mesmo com meus superiores."
Na gravação, Dilma não deixa claro a quem se refere como "superior". Em nota, a estatal diz que sua comunicação é "autônoma" e que, na reunião, "a diretoria da Sabesp discutia com o conselho de administração da companhia (órgão superior) a estratégia de comunicação".
Em outro momento da reunião, o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, diz que a situação é uma "agonia" e que "não sabe o que fazer" se os volumes das chuvas neste ano repetirem o cenário de 2013. "Se repetir em 2014, confesso que eu não sei o que fazer. É uma agonia, uma preocupação."
Depois, ele relata uma "brincadeira" que um colega fez, mas ressalta que é uma "brincadeira séria": "Ele falou: Saio de São Paulo porque aqui não tem água, não vai ter água pra tomar banho, limpeza da casa'."
"Quem puder compra garrafa de água mineral, quem não puder vai tomar banho na casa da mãe, em Santos, Ubatuba, Águas de São Pedro. Aqui não vai ter."
Ele não se pronunciou.