Ministro concedeu entrevista à Rádio Gaúcha nesta quarta-feira!
Em entrevista ao programa Timeline Gaúcha nesta quarta-feira (7), o ministro do Supremo Gilmar Mendes criticou os procuradores da força-tarefa da Lava-jato, citados em vazamento de mensagens
publicadas inicialmente pelo site The Intercept Brasil a partir do dia 9
de junho. Segundo o ministro, os procuradores "se constituíram numa
verdadeira organização criminosa".
—
É linguagem de criminoso. É uma organização para combater o crime, mas é
uma linguagem de criminoso, eles podem integrar qualquer organização
criminosa. "Estamos fazendo algo ilegal, mas ninguém vai saber". Leia os
textos para seus ouvintes e perguntem: isso é linguagem de magistrado? —
indagou o ministro
A afirmação de Gilmar ocorre após o site El País Brasil divulgar, na terça-feira (6), supostos diálogos entre os procuradores da Lava-Jato nos quais teriam afirmado que estavam investigando Gilmar no âmbito da operação envolvendo Paulo Preto. Liderados por Deltan Dallagnol, planejaram coletar dados e informações sobre o ministrocom o objetivo de pedirem sua suspeição ou até seu impeachment.
—
Eu não me surpreenderia se amanhã eles inventarem uma conta minha no
Exterior (...) Eu não vou fulanizar, mas quem é capaz de fazer o que
eles estavam fazendo naquele diálogo é capaz de falsear uma conta minha,
um cartão de crédito — afirmou o ministro.
Nesta quarta-feira, Gilmar novamente foi personagem de reportagem com base nos vazamentos, desta vez do portal Uol. A publicação aponta que Dallagnolteria
usado a Rede Sustentabilidade para driblar as limitações da
força-tarefa e mover uma Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) no Supremo — atribuição que não compete à Lava-Jato. A
articulação teria envolvido o senador Randolfe Rodrigues(Rede-AP) e tinha o objetivo de impedir que Gilmar soltasse presos em processos que ele não fosse o juiz da causa.
— A corregedoria do CNJ e do MP deve atuar, porque de fato se deixou um grupo de irresponsáveis à solta cometendo crimes.
Procuradores
discutiram usar caso de Paulo Preto, operador do PSDB, para reunir
munição contra ministro, mostram mensagens enviadas ao 'The Intercept'.
Diálogos no Telegram apontam o empenho da força-tarefa pelo impeachment
do magistrado
Procuradores da Operação Lava Jato em Curitiba fizeram um esforço de coleta de dados e informações sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes,
com o objetivo de pedir sua suspeição e até seu impeachment. Liderados
por Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, procuradores e
assistentes se mobilizaram para apurar decisões e acórdãos do magistrado
para embasar sua ofensiva, mas foram ainda além.
Planejaram acionar
investigadores na Suíça para tentar reunir munição contra o ministro,
ainda que buscar apurar fatos ligados a um integrante da Corte superior
extrapolasse suas competências constitucionais, de acordo com
especialistas ouvidos pela reportagem. A estratégia contra Gilmar Mendes
foi discutida ao longo de meses em conversas de membros da força-tarefa
pelo aplicativo Telegram enviadas ao The Intercept por uma fonte anônima e analisadas em conjunto com o EL PAÍS.
Na
guerra contra o ministro do Supremo, os procuradores se mostraram
particularmente animados em 19 de fevereiro deste ano. "Gente essa
história do Gilmar hoje!! (...) "Justo hoje!!! (...) "Que Paulo Preto
foi preso", começa Dallagnol no chat grupo Filhos do Januário 4, que
reúne procuradores da força-tarefa.
A conversa se desenrola e se revela a
ideia de rastrear um possível elo entre o magistrado e Paulo Vieira de
Souza, o Paulo Preto, preso em Curitiba num desdobramento da Lava Jato e
apontado como operador financeiro do PSDB. Uma aposta era que Gilmar Mendes, que já havia concedido dois habeas corpus
em favor de Preto, aparecesse como beneficiário de contas e cartões que
o operador mantinha na Suíça, um material que já estava sob escrutínio
dos investigadores do país europeu.
“Vai
que tem um para o Gilmar…hehehe”, diz o procurador Roberson Pozzobon no
grupo, em referência aos cartões do investigado ligado aos tucanos. A
possibilidade de apurar dados a respeito de um ministro do Supremo sem querer
é tratada com ironia. “vc estara investigando ministro do supremo,
robinho.. nao pode”, responde o procurador Athayde Ribeiro da Costa.
“Ahhhaha”, escreve Pozzobon. “Não que estejamos procurando”, ironiza
ele. “Mas vaaaai que”.
Dallagnol então reforça, na sequência, que o
pedido à Suíça deveria ter um enfoque mais específico: “hummm acho que
vale falar com os suíços sobre estratégia e eventualmente aditar pra
pedir esse cartão em específico e outros vinculados à mesma conta”,
escreve. “Talvez vejam lá como algo separado da conta e por isso não
veio" (...) "Afinal diz respeito a OUTRA pessoa”. A força-tarefa de
Curitiba tem dito que não reconhece as mensagens que têm sido atribuídas
a seus integrantes e repetiu à reportagem que o "material é oriundo de
crime cibernético e tem sido usado editado ou fora de contexto, para
embasar acusações e distorções que não correspondem à realidade".
Nas
mensagens, que o EL PAÍS optou por deixar com a grafia original, tudo
começa porque Dallagnol comenta saber de "um boato" vindo da
força-tarefa de São Paulo (FT-SP) de que parte do dinheiro mantido por
Paulo Preto em contas no exterior pertenceria a Mendes. "Mas esse boato
existe mesmo?", pergunta o procurador Costa. "Pessoal da FT-SP disse que
essa info chegou a eles", responde Julio Noronha, em referência aos
colegas paulistas.
Procurada, a assessoria de imprensa do FT-SP afirmou
que “jamais recebeu qualquer informação sobre suposto envolvimento de
Gilmar Mendes com as contas no exterior de Paulo Vieira de Souza”. E
também que “se recebesse uma informação a respeito de ministro do STF,
essa informação seria encaminhada à PGR [Procuradoria Geral da
República]". E que “jamais passaria pela primeira instância para depois
ir para a PGR”.
O artigo 102 da Constituição
determina que os ministros do Supremo só podem ser investigados com
autorização de seus pares, a não ser que apareçam em uma investigação já
em curso, a chamada investigação cruzada. Caso seja este o caso, a
competência é necessariamente da PGR.
Para o procurador da República Celso Três, que atuou no início do caso
Banestado, um marco contra a lavagem de dinheiro, e trabalhou
diretamente com o ex-juiz Sergio Moro, os procuradores não cogitam nos
diálogos apenas um atalho para chegar a Mendes.
"É uma violação grave do
devido processo legal", afirma em entrevista ao EL PAÍS. Ele avalia
que, nas conversas, os procuradores de Curitiba demonstraram intenção de
desviar a finalidade da investigação, porque tinham autoridade para
escrutinar o operador do PSDB, mas planejaram aprofundar essa
colaboração com o intuito de atingir o ministro do Supremo. “Não estou
defendendo Gilmar, mas está muito claro que estavam em seu encalço”.
A
reportagem questionou à força-tarefa de Curitiba se os procuradores
pediram informações aos investigadores na Suíça sobre possíveis ligações
de Mendes e Paulo Preto. E, caso tenham encontrado elementos, se foram
enviados à PGR.
Por meio da assessoria de imprensa, os procuradores
afirmaram que "não surgiu nas investigações nenhum indício de que
cartões da conta de Paulo Vieira de Souza tenham sido emitidos em favor
de qualquer autoridade sujeita a foro por prerrogativa de função".
"Qualquer ilação nesse sentido, por parte de quem for, seria mera
especulação", ressaltou a nota.
"Em todos os casos em que há a
identificação de pagamentos de vantagens indevidas e lavagem de ativos
no exterior, o Ministério Público busca fazer o rastreamento do destino
de todos os ativos ilícitos, para identificar os destinatários
desconhecidos", ressalta. Eles insistem que sempre que surgem indícios
do envolvimento em crimes de pessoas com foro privilegiado, a
força-tarefa encaminha as informações à Procuradoria-Geral da República e
ao Supremo Tribunal Federal.
"Cuidado porque o STF é corporativista"
Celso
Três diz que os procuradores poderiam até enviar à PGR material contra
Gilmar, desde que estas provas tenham sido encontradas acidentalmente em
alguma investigação. "Isso pressupõe fundamentalmente que a prova caia
no teu colo", afirmou. "Não existe encontro fortuito de prova quando
você busca alguma coisa", acrescentou.
Outro especialista, que concordou
em analisar as mensagens sob anonimato, acrescenta que, no caso de
toparem com alguma prova relacionada com detentores de foro
privilegiado, como Mendes, a investigação é suspensa e precisa ser
remetida para a PGR. “Isso é bem comum em casos de políticos que foram
encontrados em investigações da Lava Jato”, explica o jurista, que frisa
não conhecer casos de ministros do Supremo que tenham sido denunciados a
partir de investigações cruzadas.
Ciente do terreno
minado que a força-tarefa entra ao mirar Mendes, Dallagnol tenta se
precaver: “E nós não podemos dar a entender que investigamos GM”, diz em
certo momento, em referência a Gilmar Mendes. Mas, na sequência,
afirma: “Caso se confirme essa unha e carne, será um escândalo”, diz
sobre a relação próxima entre o ministro e o operador.
E sugere: “Vale
ver ligações de PP pra telefones do STF”, ressalta, referindo-se a Paulo
Preto. Mais uma vez, Dallagnol recebe um alerta de um colega. “Mas
cuidado pq o stf é corporativista, se transparecer que vcs estão indo
atrás eles se fecham p se proteger”, diz Paulo Galvão. Dias depois, a
força-tarefa descobriria que o ex-senador tucano Aloysio Nunes ligou
para o gabinete de Mendes no dia da prisão de Paulo Preto.
A
tese levantada nas conversas por alguns procuradores para ligar Mendes a
Paulo Preto, especialmente por Dallagnol, passa justamente pelo tucano
Aloysio. Nas conversas, os procuradores lembram que Paulo Preto era
subordinado do tucano durante o Governo FHC, quando o ex-senador foi
ministro-chefe da Secretaria-geral da Presidência, entre 1999 e 2001.
E
que Gilmar Mendes trabalhava “do ladinho” —segundo as palavras de
Roberson Pozzobon— de ambos. A triangulação se fecharia porque, naquele
período, Mendes foi subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil
(entre 1996 a 2000) e advogado-geral da União (de 2000 a 2002). Em 21 de
fevereiro deste ano, no mesmo chat, Pozzobon diz: “Acho que tem uma
chance grande de ALOYSIO ter colocado GILMAR no STF”.
O procurador Paulo
Roberto Galvão pondera. “Mas calma que isso não quer dizer muita coisa
rs”. Dallagnol, então, discute uma estratégia para direcionar a pauta e
fazer a história aparecer na imprensa. "Tem q botar no papel. Mostrar
suspeição. Pegar quem trabalhava nessa época no mesmo local. Imprensa é o
ideal", ressalta ele.
Mais uma vez, o procurador Paulo
Galvão tenta puxar o freio de mão do entusiasmo do coordenador da
força-tarefa. “Mas não é novidade que Gilmar veio do psdb e de dentro do
governo fhc!!! Cuidado com isso”. Mas Dallagnol insiste: “agora é
diferente" (...) "Não é uma crença ou partido em comum" (...) "É
trabalhar lado a lado, unha e carme”. Pozzobon também pondera e
diz que é preciso ter informações mais fundamentadas antes de passá-las
para a imprensa. “Mas acho que temos que confirmar minimamente isso
antes de passar pra alguém investigar mais a fundo, Delta”.
Na semana passada, a Folha de S. Paulo e o Intercept revelaram que Dallagnol também tentou buscar informações a respeito de Antonio Dias Toffoli.
Nas mensagens, aparece o interesse do procurador no eventual
envolvimento de Toffoli, Gilmar Mendes e suas respectivas mulheres com
empresas envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras. Os ministros
do Supremo prontamente reagiram à notícia. Gilmar Mendes afirmou que a
Lava Jato é uma “organização criminosa para investigar pessoas”. Outro
ministro do STF, Marco Aurélio, disse ser “inconcebível que um
procurador da República de primeira instância busque investigar
atividade desenvolvida por um ministro do Supremo”.
"Sonho que Toffoli e GM acabem fora do STF"
Apesar
da animosidade da força-tarefa contra Gilmar Mendes, nem sempre o
magistrado, um dos mais criticados da Corte, esteve contra a Lava Jato,
segundo pensavam os procuradores. Em março de 2016, por exemplo, Gilmar
se mostrou um aliado tático da operação, quando suspendeu a nomeação de
Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil, deixando assim o
ex-presidente sem foro privilegiado. Pelo menos desde 2017, no entanto,
Dallagnol aparece nas mensagens atribuindo ao magistrado o objetivo de
“desmontar as investigações de corrupção”, por estar, segundo o
procurador, ligado a parte delas.
As mensagens analisadas pelo EL PAÍS e o The Intercept, parte do pacote de arquivos que o site começou a revelar em 9 de junho,
apontam para uma busca sistemática de Dallagnol por maneiras de afastar
o ministro do Supremo das ações da Lava Jato, mas não apenas ele. "Sonho que Toffoli e GM acabem fora do STF rsrsrs",
comenta.
O procurador chega a mobilizar assistentes para produzir um
documento com "o propósito de mostrar eventuais incongruências [de
Mendes] com os casos da Lava Jato". E, ao longo de anos, insiste nas
possibilidades de pedir a suspeição do ministro e encampar um processo
de impeachment.
Os colegas, entretanto, ponderam sobre a ideia de partir
para a via do impedimento político e a iniciativa acaba não saindo do
papel.
Em 5 de maio de 2017, por exemplo, o
coordenador da força-tarefa falou aos pares de pleitear o impedimento de
Gilmar Mendes caso o ministro concedesse habeas corpus a
Antonio Palocci, condenado na Lava Jato. "Caros estive pensando e se
perdermos o HC do Palocci creio que temos que representar/pedir o
impeachment do GM".
O habeas corpus (HC), ele sustentava, seria
a gota d’água que faltava para pedir o afastamento do ministro. Para
embasar o pedido, elencou declarações públicas do ministro contra a
força-tarefa, “incoerência de votos”, “favorecimentos”, e até seus
antigos confrontos com o ex-ministro da Corte Joaquim Barbosa — "só para
dar força moral”.
“Calma, Deltan”, diz a procuradora
Laura Tessler. Ela afirma, então, que soube que o jurista Modesto
Carvalhosa entraria com um pedido de impeachment contra o ministro. “Eu
não acho que nós devemos fazer pedido de impeachment. outros fazerem é
bom”, completou o procurador Paulo Roberto Galvão. Carvalhosa
protocolaria o pedido de impedimento neste ano de 2019, o terceiro
contra o ministro, que se soma a ao menos a outros nove pedidos de
impedimento de membros da corte que esperam encaminhamento do presidente
do Senado, o único capaz de iniciar os processos.
Na
lista de Dallagnol também entrou o caso envolvendo os empresários do
setor de transportes Lélis Teixeira e Jacob Barata Filho, acusados de
pagar propina a políticos. Conhecido como o Rei do Ônibus,
Barata Filho é pai da afilhada de casamento de Gilmar e sua mulher,
Guiomar Mendes. O caso também envolve um advogado de Gilmar que faz a
defesa também de Barata Filho. Gilmar Mendes mandou soltar os
empresários por três vezes seguidas ao longo de 2017.
Naquele
ano, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chegou a
pleitear a suspeição do ministro no caso, mas o pedido foi arquivado
pela presidenta do Supremo, ministra Cármen Lúcia, em setembro de 2018.
Na época, Cármen Lúcia afirmou ter consultado Raquel Dodge, atual
procuradora-geral da República, antes de tomar a decisão.
No xadrez da
Lava Jato, Dodge é a rainha do outro lado do tabuleiro dos procuradores.
Nas conversas, eles afirmam que ela é muito próxima de Gilmar e que só
não o confronta porque “sonha” com uma cadeira no Supremo assim que seu
mandato na PGR terminar, em cerca de um mês, afirma Dallagnol em
mensagem em junho de 2018.
Em março de 2019,
a força-tarefa insistiria de novo em mais um pedido de suspeição de
Gilmar Mendes, desta vez no caso Paulo Preto, alegando relações do
magistrado com Aloysio Nunes. Dallagnol
articularia com as forças-tarefas da Lava Jato de Curitiba, do Rio de
Janeiro e de São Paulo para dar força ao pedido, que seria arquivado novamente.
Ainda
por meio de nota enviada à reportagem, os procuradores afirmaram que
"dentre os deveres do membro do Ministério Público, está o de 'adotar as
providências cabíveis em face de irregularidades de que tiver
conhecimento, em especial quando relacionadas a casos em que atuam". "A
eventual pesquisa das decisões de um julgador para analisar qual a
eventual medida a adotar seria perfeitamente regular", ressaltaram.
"Dentre as medidas que podem ser analisadas e estudadas pelo Ministério
Público em face de decisões que cogite inadequadas de um julgador está a
análise de jurisprudência para apresentar recursos, a representação à
respectiva corregedoria ou ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) ou
ainda a representação pela suspeição ou pela apuração de infração
político-administrativa (seguindo o rito de impeachment). Nesse
contexto, contudo, como é público, os procuradores jamais realizaram
representação pelo impeachment do ministro Gilmar Mendes, embora tenham
apresentado pedido de reconhecimento de suspeição", destacou a nota.
Noves
fora as iniciativas consideradas fora da alçada de Curitiba na
avaliação de especialistas, Dallagnol não está só em sua frustração
contra algumas decisões do Supremo, e de Gilmar Mendes em particular.
Grupo de estudiosos da corte tem apontado a proliferação de medidas
individuais dos magistrados e a falta de coerência na jurisprudência do
STF com um fator instabilidade política. Um
dos problemas é que, excetuada a saída via do impeachment, "no sistema
judicial, o Supremo é o ponto cego", pondera o jurista que analisou as
mensagens dos procuradores sob anonimato. "Um ministro do Supremo não
está sujeito ao Conselho Nacional de Justiça, não tem corregedoria e um
ministro, inclusive, não pode corrigir o outro”, explica.
Para Gilmar Mendes, no entanto, o problema da falta de correição e do
corporativismo estão do outro lado. “O próprio CNMP [Conselho Nacional
do Ministério Público] funciona muito mal. A corregedoria do Ministério
Público praticamente não funciona. Estamos a falar de uma questão que,
em termos republicanos, é muito séria.
Quem vigia o guarda neste caso?
Os malfeitos cometidos por procuradores são investigados por quem? Essa é
uma questão que precisa ser respondida”, disse o ministro nesta
segunda-feira, no registro do site especializado Jota.
O CNMP tem ao menos um procedimento aberto contra Dallagnol, o que
apura se ele e um colega cometeram falha disciplinar ao serem flagrados,
em mensagens reveladas pelo The Intercept e pela Folha,
planejando obter lucro ou benesses com a realização de palestras pagas
por empresas e entidades interessadas em se associar à imagem da Lava
Jato.
A busca do motivo desse ódio tem me levado a pesquisas sem fim.
Confesso que não tem sido fácil encontrar a motivação para esse sentimento.
Entendo, inclusive que esse sentimento se voltou contra os trabalhadores e
contra, principalmente, os mais pobres.
Nessa procura me deparo com um livro que entendi que podia me
ajudar. O principio de Noé, é o nome do livro de Michel Lacroix, 1997. Nele descubro uma palavra que é o ponto de
partida para essa análise, que estou fazendo agora, que me parece é um caminho
para essa compreensão.
Vamos lá.
Promovido pelos governos de LULA e DILMA e por vários governos
estaduais de esquerda, as pessoas de classe mais pobre e classe média baixa,
obtiveram acesso a bens e serviços que antes eram acessados, apenas, pelos mais
abastados. Passagens aérea, alguns acepipes, acesso a escolarização, indo de
alfabetização até ao acesso à universidade.
No quesito moradia, então, foi mais contundente. Ao promover
minha casa minha vida (essa expressão era brilho nos olhos das pessoas) fez com
que essas classes menos abastadas conseguissem que o sonho da casa própria
deixasse de ser um sonho. Além de tudo isso os vários projetos permitiam as
pessoas alcançar acesso a coisas que antes eram impensáveis.
Empréstimo consignado, a juros baixos, poder de compra
aumentado a ponto de comprar carro, acesso a luz elétrica em rincões onde antes
nada chegava, o projeto das cisternas para o nordeste mais sofrido, culminando
com a Transposição do Rio São Francisco, obra desejada a séculos e finalmente
realizada. Não pretendo citar aqui todos os benefícios, pois são conhecidos,
principalmente pelos opositores que odiaram tudo isso. E aí passo aqui a
relatar o porquê desse ódio.
Tudo isso provocou a “ISOTIMIA”. A isotimia na morte é
completa, ninguém pode se sentir superior ao outro. (do dicionário). Ou
seja, promoveu uma sensação de igualdade que somente era encontrada pelos mais
pobres, na morte. Ah, na morte todos somos iguais dizemos todos, o tempo todo.
Não, isso passou a ser sentido na vida, no dia-a-dia dos brasileiros. Todos se
lembram da expressão de uma pessoa: “aeroporto virou rodoviária”. A Danuza Leão
foi clara quanto a isso; “não tem mais graça ir a Paris, chego lá e encontro a
empregada”.
Isso despertou nas
classes mais altas o ódio enrustido, e numa classe média raivosa, que não
consegue mais se identificar com a classes menores, e sonha ser da elite. A
empregada usa, hoje ainda, o mesmo perfume de sua patroa.
Esse ódio tem
nome. MEGALOTIMIA. Vejamos o que dizem os dicionários: As pessoas têm mania
de grandeza e isso as leva a todos tipos de comportamento exagerado. Elas se
sentem superiores aos outros, mentem sobre sua própria realidade
e manipulam aqueles que se encontram ao seu redor. Este tipo de comportamento é
um transtorno de personalidade conhecido como megalomania. O termo
vem do grego, mais particularmente do prefixo mega, que significa grande; e de
mania que equivale à loucura. Em resumo, a megalomania é uma condição
psicopatológica caracterizada por fantasias delirantes e autoestima
desproporcional.
Foi isso que o
PT e os governos de esquerda despertaram nas elites e naqueles que se achavam
da elite. Esse ódio é patológico. Imaginem esse “pobres” serem iguais a nós. O
pior disso tudo é que, grande parte de classes inferiores, também foram
atingidas por essa “doença”. Grande parte por não conseguiram alcançar todas as
benesses. Eles também se sentiram “inferiorizados”, ou na verdade, IGUALADOS. Daí
muitas categorias de trabalhadores ao perceberem os IGUAIS a eles não suportaram.
Seria o “ponha-se no seu lugar” que tantos conhecemos.
Essa sensação de
igualdade total, alcançada pelo menos abastados, fez com que aflorasse todos os
ódios enrustidos durante todos esses anos. Ao invés de celebrarmos que “somos
todos iguais e todos podemos ter acesso a tudo”, entramos no processo da
MEGALOTIMIA, que é patológico. Pode parecer simplório, mas essa explicação me
contempla para entender tudo o que está acontecendo.
A alegria de
pessoas ao constatar a perda de direitos. A votação expressiva de pessoas que
faziam apologia a essa “diferença” (pobre é pobre, rico é rico – não podem ser
iguais nunca). Estamos vendo a destruição de tudo o que foi construído. Uma
pessoa que obteve da maioria de quem votou nele, o respaldo para destruir mesmo
todas essas IGUALDADES. Ou seja, ressaltar a MEGALOTIMIA, a cada dia, é o
objetivo.
Com a estratégia
de dizer que tudo foi feito, roubando, hoje eles destroem tudo o que se
conquistou, roubando e corrompendo de forma até mais agressiva. Mas como é
patológico, as pessoas ainda não se deram conta, pois elas estão atingidas por
esse ódio que foi desenvolvido anos e anos, por quem nunca aceitou essa igualdade.
A classe dominante
reagiu a essa igualdade, batendo forte e usando de todas as estratégias para
convencer que essa igualdade era irreal. Que essas pessoas mais pobres deviam
se contentar em ser o que são. Que ascensão social era balela. Filho da
empregada não pode estudar na mesma universidade de filho do patrão. E, pior,
filho de empregada não pode tirar a vaga do filho do patrão.
Esse ódio de
classes foi canalizado e usado para conquistar a população de mais baixa renda,
que no fundo, não se sentia tão igual assim. Enfim, todo esse ódio foi
canalizado por uma classe política, que também não aceitava essa igualdade.
Estão promovendo a destruição de tudo o que foi feito de bom. Apenas no Nordeste
ainda se cultiva a ISOTIMIA, mas mesmo lá, ainda a uma forte manifestação da
patologia MEGALOTIMIA.
Precisamos
encarar essa situação como uma doença, e que tem como representante no poder,
um ser totalmente despreparado e DOENTE. Um MAGALOTIMIO declarado. Portanto
olhar essa patologia seriamente e começar a tratá-la assim nos levará a conversar
com as pessoas de um modo diferente. É claro que precisamos difundir isso para
que se tome consciência que é uma patologia.
O mais perigoso
disso tudo é que essa patologia é uma ameaça, concreta, a DEMOCRACIA. Vejam com
age o mandatário eleito. O tempo todo agredindo as pessoas e agredindo a democracia.
A democracia nasce, exatamente a partir da ISOTIMIA, onde todos são iguais
perante a TUDO. A destruição disso, é o que vem sendo construído já a algum tempo,
sem que pudéssemos perceber. Então o que
vemos hoje é a volta do “ponha-no seu lugar”.