O Objetivo dessa PEC do Orçamento de Guerra” é legalizar a
indecente remuneração da sobra de caixa dos bancos que desviou, de forma
ilegal, cerca de R$ 1 trilhão de recursos públicos em 10 anos (2009 a
2018), segundo dados do balanço do próprio Banco Central, além de jogar
os gastos com a calamidade do coronavírus nas contas das áreas sociais!
Maria Lucia Fattorelli
Considerando a existência do saldo de R$ 1,439 TRILHÃO no caixa da Conta Única do Tesouro Nacional em dezembro/2019 (Confira )
Considerando que o pagamento do vale de R$ 600,00 aos mais pobres (já
aprovado pelo Congresso Nacional desde 30/03/2020) pretende alcançar
mais de 38 milhões de pessoas e tem custo estimado de até R$ 45 bilhões
segundo o próprio Ministro Paulo Guedes;
Considerando que o Ministro da Economia Paulo Guedes, tem dito
reiteradamente, a diversos veículos de imprensa, que não teria como
pagar o vale de R$ 600,00 aos mais pobres, condicionando esse pagamento à
aprovação de modificações na Constituição, pois afirma que somente
quando o Congresso aprovar a “PEC do Orçamento de Guerra”, ele pagará o
voucher aos pobres (https://bit.ly/3dM3QYQ );
Considerando notícia veiculada pela GloboNews, de que técnicos do
próprio governo contradizem Guedes e afirmam que existe dinheiro em
caixa para efetuar o pagamento dos R$600,00 aos mais de 38 milhões de
pobres já identificados,
a Auditoria Cidadã da Dívida buscou investigar o texto da referida
“PEC do Orçamento de Guerra”, assinada nesta data por Rodrigo Maia,
presidente da Câmara dos Deputados, a fim de verificar a razão pela
qual, apesar da existência de recursos mais que suficientes em caixa,
Guedes estaria criando esse condicionante ao pagamento do vale e
pressionando o Congresso pela aprovação da “PEC do Orçamento de Guerra”
ainda nesta semana.
A análise dos dispositivos da referida PEC desmascarou o seu
principal objetivo: diversos dispositivos, como se menciona a seguir,
visam favorecer ainda mais o setor financeiro, que já está sendo
beneficiado com a crise provocada pelo coronavírus de várias formas:
recebeu ajuda (sem qualquer restrição!) de R$1,2 trilhão, como anunciado
pelo presidente do Banco Central dia 23/03/2020 (assista ), e ainda quer mais isenções, imunidade e liberdade (MP 930/2020).
A PEC do “Orçamento de Guerra” joga na conta das próprias áreas sociais o custo das medidas de combate à crise do coronavírus,
na medida em que autoriza retirar os recursos de áreas sociais para
atender a calamidade, porém, deixa INTOCADA a montanha de dinheiro
reservada para o pagamento da dívida:
De acordo com o Art. 115 § 6º (ADCT), incluído pela PEC do “Orçamento
de Guerra, poderão ser usados recursos da conta única do Tesouro
Nacional, referentes a receitas vinculadas às áreas sociais para atender
a calamidade.
Ao mesmo tempo, a referida PEC não permite o acesso a
centenas de bilhões que só podem ser destinados para o pagamento da
dívida, tais como:
• R$ 162 bilhões – lucros do Banco Central
• R$ 81 bilhões – recebimentos de juros e amortizações de estados, municípios, BNDES
• R$ 13 bilhões – Lucros das estatais
• R$ 505 bilhões – recursos obtidos por meio da emissão excessiva de títulos da dívida no passado.
• R$ 81 bilhões – recebimentos de juros e amortizações de estados, municípios, BNDES
• R$ 13 bilhões – Lucros das estatais
• R$ 505 bilhões – recursos obtidos por meio da emissão excessiva de títulos da dívida no passado.
Tal dispositivo da PEC do “Orçamento de Guerra” significa, na
prática, um sacrifício para as próprias áreas sociais, que irão pagar a
conta da crise social, enquanto os rentistas continuarão com a sua
montanha de dinheiro garantida e preservada.
A PEC do “Orçamento de Guerra” (Art. 115 § 7º – ADCT) visa
“legalizar” a emissão de títulos da dívida pública para pagar as
despesas correntes com juros dessa dívida, o que burla o art. 167, III,
da própria Constituição. Essa prática ilegal que privilegia os
beneficiários dos juros da dívida vem sendo denunciada há vários anos
pela Auditoria Cidadã da Dívida (leia).
Tal dispositivo da PEC do “Orçamento de Guerra” não guarda qualquer
relação com o pagamento do vale de R$600,00 aos mais pobres e visa, na
prática, “legalizar” mecanismo fraudulento que tem aumento ilegalmente o
estoque da dívida, usando recursos de capital para pagar as
privilegiadas despesas correntes com juros.
Em vez de realizar a auditoria da dívida pública e interromper esse
mecanismo inconstitucional de emissão de títulos da dívida para pagar
despesas correntes com juros, essa PEC do “Orçamento de Guerra” visa
legalizá-lo, o que é inaceitável!
A PEC do “Orçamento de Guerra”, no art 115 § 10 (ADCT), promove
salvamento de empresas e bancos, transferindo para os cofres públicos o
ônus de papéis podres em poder do mercado, (tal como ocorreu nos EUA e
Europa na crise de 2008, afetando gravemente os cofres públicos), com
aporte de 25% do Tesouro Nacional, sem exigir contrapartida alguma das
empresas e bancos beneficiados.
A PEC do “Orçamento de Guerra” inclui o Art. 164-A ao texto
Constitucional e cria a figura do Depósito Voluntário dos bancos junto
ao Banco Central. Tal medida visa “legalizar” a remuneração escandalosa
da sobra de caixa dos bancos, que já vem acontecendo de forma ilegal,
mediante o abuso das operações compromissadas realizadas pelo Banco
Central.
Tal operação ilegal custou cerca de R$ 1 trilhão aos cofres públicos
em 10 anos (2009 a 2018), segundo dados dos balanços do próprio Banco
Central.
O BC vinha alegando que tal operação seria necessária para enxugar o
excesso de liquidez e combater a inflação, porém, em 2017 o IGP foi
negativo e, em vez de reduzirem o volume de tais operações, o que se
verificou na prática foi o seu crescimento ao valor recorde de R$1,287
trilhão.
O Banco Central perdeu o seu argumento e a ilegalidade ficou flagrante!
Naquela circunstância, o BC apresentou ao Congresso o PL 9.248/2017,
mediante o qual criava a figura do Depósito Voluntário remunerado pelo
Banco Central que foi refutado até por Nota da Confederação Nacional das
Indústrias (CNI), pois o depósito voluntário de mais de R$1,2 trilhão
no BC gera escassez brutal de moeda no mercado financeiro e provoca
elevação das taxas de juros de mercado aos patamares indecentes
praticados no Brasil.
Todos os setores econômicos sofrem com as elevadas taxas de juros de
mercado, em especial as indústrias, que não têm como operar sem créditos
financeiros.
Pois bem, o referido PL 9.248/2017 não andou.
Em seguida, no projeto de independência do BC (PLP 112/2019), houve
nova tentativa de “legalizar” essa remuneração imoral e parasita aos
bancos, pois o valor que depositam voluntariamente no BC é dinheiro de
seus depositantes e aplicadores, ou seja, ganham às custas dos outros e
ainda provocam dano à economia!
É infame que no momento de crise de pandemia de coronavírus o
ministro Guedes e o deputado Rodrigo Maia queiram empurrar goela abaixo
do Congresso esse mecanismo indecente que, ao mesmo tempo provoca rombo
às custas públicas para remunerar bancos e provoca dano à economia ao
gerar escassez de moeda e provocar aumento dos juros.
Tal medida é contrária ao propósito declarado dessa PEC do “Orçamento
de Guerra” pois retira dinheiro de circulação da economia, causando
mais dificuldade de crédito, além do ônus de sua remuneração aos bancos!
Não há como justificar esse Art. 164-A, a não ser que se assuma de vez
que o orçamento público será mais ainda sacrificado para garantir a
remuneração diária da sobra de caixa dos bancos às custas da pobreza e
miséria que aumentam de forma galopante no Brasil!
Em vez de realizar a auditoria da dívida pública e interromper esse
mecanismo inconstitucional de remuneração da sobra de caixa dos bancos,
essa PEC do “Orçamento de Guerra” visa legalizá-lo com esse Art. 164-A, o
que é inaceitável!
Diante desses argumentos, a Coordenação Nacional da Auditoria Cidadã da Dívida:
a) repudia principalmente os incisos 6º, 7º e 10 do art 115 (ADCT)
que a PEC do “Orçamento de Guerra” pretende criar e recomenda aos
parlamentares a rejeição dos referidos incisos, que na prática
aprofundam os abusivos privilégios ao setor financeiro;
b) denuncia que a PEC do “Orçamento de Guerra” não é necessária para
garantir o pagamento do vale de R$ 600,00 aos mais pobres (já aprovado
pelo Congresso Nacional desde 30/03/2020), que irá alcançar mais de 38
milhões de pessoas e tem custo estimado de até R$ 45 bilhões segundo o
próprio Ministro Paulo Guedes, tendo em vista a existência de mais de R$
1,4 trilhão no Caixa do Tesouro Nacional, conforme dados oficiais já
citados na presente Nota;
c) exige a imediata suspensão do pagamento dos juros e encargos da
dívida pública para que os recursos se destinem a garantir a vida das
pessoas nesse momento de pandemia, conforme Petição Pública que já conta com milhares de assinaturas.
Brasília, 01 de abril de 2020
Coordenação Nacional da Auditoria Cidadã da Dívida