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O mundo previsto pela CIA


Algumas previsões para os próximos anos contidas num documento sigiloso da CIA entregue ao presidente Barack Obama, no início do segundo mandato:  


1) ainda que os EUA continuem a ser uma das principais potências planetárias, perderão a sua hegemonia econômica para a China. Simultaneamente tornar-se-á impossível exercer sua 'hegemonia militar de forma unilateral como ocorreu desde o fim da Guerra Fria; 

2)caminha-se para um mundo multipolar no qual novos atores, como os Brics,  tendem a constituir sólidos polos continentais; 

3) a parte dos países ocidentais na economia mundial vai passar dos atuais 56%, para cerca de 25% em 2030; 

4) crise na Europa durará pelo menos um decênio, isto é até 2023; não é seguro que a União Europeia consiga manter a sua coesão; 

5) algumas das maiores coletividades do mundo já não serão países, mas comunidades congregadas e vinculadas entre si pela Internet e pelas redes sociais. Por exemplo, a ‘Facebooklândia', terá mais de um bilhão de usuários;  na ‘Twitterlândia', mais de 800 milhões; 

6)  o controle de toda essa massa de dados por um restrito grupo de empresas privadas poderia condicionar o comportamento em grande escala da população mundial e inclusive de entidades governamentais
Do Carta Maior

Mais Padre Beto, menos Padre Marcelo Rossi

O melhor teste para descobrir se uma sociedade é justa

O filósofo americano John Rawls investigou a justiça social. E criou uma teoria simplesmente brilhante

Copenhague: a sociedade escandinava é mais igualitária e mais feliz que a americana
Copenhague: a sociedade escandinava é mais igualitária e mais feliz que a americana

O que é uma sociedade justa?

O filósofo americano John Rawls (1921-2002) se debruçou sobre esta pergunta. Em 1971, Rawls publicou um livro aclamado: “A Teoria da Justiça”.

A idéia central de Rawls era a seguinte: uma sociedade justa é aquela na qual, por conhecê-la e confiar nela, você aceitaria ser colocado de maneira randômica, aleatória. Você estaria coberto pelo que Rawls chamou de “véu de ignorância” em relação à posição que lhe dariam, mas isso não seria um problema, uma vez que a sociedade é justa.

Mais de quarenta anos depois do lançamento da obra-prima de Rawls, dois acadêmicos americanos usaram sua fórmula para fazer um estudo. Um deles é Dan Ariely, da Universidade Duke, especializado em comportamento econômico. O outro é Mike Norton, professor da Harvard Business School.
Eles ouviram pessoas de diferentes classes sociais. Pediram a elas que imaginassem uma sociedade dividida em cinco fatias de 20%. E perguntaram qual a fatia de riqueza que elas supunham que estava concentrada em cada pedaço.

“As pessoas erraram completamente”, escreveu num artigo Ariely. “A realidade é que os 40% de baixo têm 0,3% da riqueza. Quase nada. Os 20% de cima têm 84%.”

Em seguida, eles aplicaram o “véu de ignorância de Rawls”. Como deveria ser a divisão da riqueza para que eles se sentissem seguros caso fossem colocados ao acaso na sociedade?

Veio então a maior surpresa dos dois acadêmicos: 94% dos entrevistados descreveram uma divisão que corresponde à escandinava, tão criticada pelos conservadores dos Estados Unidos por seu elevado nível de bem-estar social, e não à americana. Na Escandinávia, os 20% de cima têm 32% da riqueza.

(Disse algumas vezes já e vou repetir: o modelo escandinavo é o mais interessante que existe no mundo, um tipo de capitalismo extremamente avançado do ponto de vista social.)

Cena comum nos Estados Unidos de hoje: “tent cities”, concentração em barracas de gente que perdeu a casa

“Isso me levou a pensar”, escreveu Ariely. “O que fazer quando num estudo você descobre que as pessoas querem um determinado tipo de sociedade, mas ao olhar para a classe política parece que ninguém quer isso?”

Bem, uma das respostas à questão está na eclosão de protestos nos Estados Unidos. Os “99%” do movimento Ocupe Wall Street estão esperneando por uma sociedade mais justa, que se encaixe na tese do “véu de ignorância” de Rawls.

Os 99% não são representados nem pelos democratas e nem, muito menos, pelos republicanos. Barack Obama e Mitt Romney jamais aceitariam ser colocados aleatoriamente na sociedade americana tal como é.

As chances de que eles terminassem num lugar bem diferente daquele que ocupam seriam enormes. Talvez eles tivessem que dormir em carros ou em barracas, depois de perder a casa na crise econômica, como acontece hoje com milhões de americanos.

Para usar o método de Rawls, eis aí a demonstração do que é uma sociedade injusta.

Quem é o dono do mundo?

Uma vez que ultrapassamos o marco dos estados nacionais como entidades unificadas sem divisões internas, podemos ver que há uma mudança do poder mundial, mas a direção dessa mudança é da força de trabalho para os donos do mundo: o capital transnacional, as instituições financeiras mundiais. A análise é do pensador norte-americano Noam Chomsky, que conversa nesta entrevista com David Barsamian, do ‘Alternative Radio’

 


David BarsamianO novo imperialismo estadunidense parece ser substancialmente diferente da variedade mais antiga, uma vez que os Estados Unidos são uma potência econômica em declínio e, portanto, estão vendo minguar seu poder e influência política.
Noam Chomsky – Eu penso que deveríamos assumir certa reserva ao falar sobre o declínio estadunidense. Foi na Segunda Guerra Mundial que os Estados Unidos realmente se converteram em uma potência mundial. O país já era a maior economia do mundo muito tempo antes da guerra, mas era uma potência regional de certa forma. Controlava o Hemisfério Ocidental e havia feito algumas incursões no Pacífico. Mas os britânicos eram a potência mundial.

A Segunda Guerra Mundial mudou isso. Os Estados Unidos se converteram na potência mundial dominante. O país tinha a metade da riqueza do mundo. As outras sociedades industriais estavam debilitadas ou destruídas, enquanto os EUA estavam em uma posição de incrível segurança. Controlavam o hemisfério, tanto do lado do Atlântico como do Pacífico, com uma enorme força militar.

Esse poder sofreu um declínio, sem dúvida. Europa e Japão se recuperaram e ocorreu um processo de descolonização. Por volta de 1970, os EUA acumulavam cerca de 25% da riqueza do mundo; aproximadamente como era esse quadro, digamos, nos anos 20. Seguia sendo a potência mundial avassaladora, mas não como havia sido em 1950. Desde 1970, essa condição está bastante estável, ainda que tenham ocorrido mudanças obviamente.

Na última década, pela primeira vez em 500 anos, desde as conquistas espanhola e portuguesa, a América Latina começou a enfrentar alguns de seus problemas. Iniciou um processo de integração. Os países estavam muito separados uns dos outros. Cada um tinha uma relação própria na direção do Ocidente, primeiro Europa e depois Estados Unidos. Essa integração é importante. Significa que não é tão fácil dominar os países um a um. As nações latino-americanas podem se unificar para se defender contra uma força exterior.

O outro acontecimento, que é mais importante e muito mais difícil, é que os países da América Latina estão começando individualmente a enfrentar seus enormes problemas internos. Com seus recursos, a América Latina deve ser um continente rico, particularmente a América do Sul.

A América Latina tem uma enorme quantidade de riqueza, mas está muito concentrada nas mãos de uma pequena elite, de perfil europeizado e branca em sua maioria, existindo ao lado de uma enorme pobreza e miséria. Há algumas tentativas de começar a fazer frente a esse quadro, o que é importante – outra forma de integração – e a América Latina está, de algum modo, se afastando do controle estadunidense.

DBFala-se muito da mudança de poder mundial: a Índia e a China vão se converter nas novas grandes potências, as potências mais ricas?
NC – De novo aqui, devemos guardar reserva. Por exemplo, muitos observadores comentam sobre a dívida estadunidense e o fato de que, grande parte dela, está nas mãos da China. Há alguns anos o Japão detinha a maior parte da dívida estadunidense, mas foi superado pela China. Além disso, todo o marco para a discussão sobre o declínio dos Estados Unidos é enganoso. Ele nos leva a falar sobre um mundo de estados concebidos como entidades unificadas e coerentes.

Na teoria das relações internacionais, há o que se chama de escola “realista”, que diz que vivemos em um mundo de estados anárquico e que os estados buscam seu “interesse nacional”. Isso é, em grande parte, uma mitologia. Há alguns interesses comuns como a sobrevivência. Mas, na maioria das vezes, as pessoas têm interesses muito diferentes no interior de uma nação. Os interesses do diretor executivo da General Eletric e do funcionário que limpa o chão de sua empresa não são os mesmos.

Parte do sistema doutrinário nos Estados Unidos é formado pela pretensão de que todos somos uma família feliz, que não há divisões de classes, e que todos estamos trabalhando juntos em harmonia. Mas isso é radicalmente falso.

No século XVIII, Adam Smith disse que as pessoas que dominam a sociedade fazem as políticas: os “mercadores e manufatureiros”. O poder hoje está nas mãos das instituições financeiras e das multinacionais. Estas instituições têm um interesse especial no desenvolvimento chinês. De modo que, digamos, o diretor executivo da Walmart, da Dell ou da Hewlett-Packard, sente-se perfeitamente contente de ter uma mão de obra muito barata na China trabalhando sob condições horríveis e com poucas restrições ambientais. Enquanto na China houver o que se chama de crescimento econômico tudo está bem.

Na verdade, há um pouco de mito neste tema do crescimento econômico do país. A China é, em grande medida, uma planta de montagem. É um exportador importante, ainda que o déficit comercial estadunidense com a China tenha aumentado, o déficit comercial com Japão, Taiwan e Coreia diminuiu. O motivo é o desenvolvimento de um sistema de produção regional.

Os países mais avançados da região – Japão, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan – enviam tecnologia avançada, partes e componentes para a China, que usa sua força de trabalho barata para montar produtos e enviá-los para fora do país. E as corporações estadunidenses fazem a mesma coisa. Enviam partes e componentes para a China, onde elas são montadas e exportadas. É isso o que se chama de “exportações chinesas”, mas são exportações regionais em muitos casos e, em outros, é realmente um caso no qual os Estados Unidos estão exportando para si mesmos.

Uma vez que ultrapassamos o marco dos estados nacionais como entidades unificadas sem divisões internas, podemos ver que há uma mudança do poder mundial, mas a direção dessa mudança é da força de trabalho mundial para os donos do mundo: o capital transnacional, as instituições financeiras mundiais.

(*) Noam Chomsky é professor emérito de linguística e filosofia no Instituto Tecnológico de Massachusetts, em Cambridge (EUA). Seu último livro é "Power Systems: Conversations on Global Democratic Uprisings and the New Challenges to U.S. Empire. Conversations with David Barsamian".

Fonte: Futuro MX, via Rebelión
Tradução: Katarina Peixoto

Papáveis em potencial: os concorrentes do próximo conclave

Quando esse artigo foi escrito, ainda não se sabia da renuncia do Papa. mas ele é bem esclarecedor!
O Broguero

Um dos pontos de discussão em Roma nos últimos meses tem sido a crescente fragilidade do Papa Bento XVI. Inevitavelmente, a especulação se voltou para o seu provável sucessor. Eis aqui um guia daqueles que são considerados papáveis.

A reportagem é de Robert Mickens, publicada na revista católica britânica The Tablet, 31-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Em poucos meses, o Papa Bento XVI terá superado oficialmente o Beato João Paulo II e se tornará o homem mais velho em mais de 100 anos a servir como Bispo de Roma. O papa polonês morreu apenas 16 dias antes do seu 85º aniversário, um marco que o Papa Bento XVI está prestes a chegar no dia 16 de abril. Apenas quatro outros papas, desde o fim do século XIII, chegaram aos 86 anos de idade, dos quais o mais recente foi o Papa Leão XIII, que morreu aos 93 anos em 1903.

Embora a saúde geral do Papa Bento XVI pareça estar boa, ele começou a mostrar sinais de fadiga e de crescente fraqueza. A história e a prudência sugeririam que os cardeais da Igreja deveriam começar a pensar seriamente sobre candidatos adequados para sucedê-lo. Votar no sucessor de Pedro é o principal e mais grave propósito para o qual eles recebem um barrete vermelho. Eles devem evitar ser pegos desprevenidos, como aparentemente foram no conclave passado, quando diversos cardeais confessaram publicamente que não conheciam muito bem os seus confrades.

O próximo papa provavelmente será o produto de um compromisso entre os eleitores, o que evidentemente não foi o caso do último conclave. As regras de votação haviam sido revisadas significativamente em 1996 pelo Papa João Paulo II, permitindo uma eleição por maioria simples depois de algumas semanas de impasse. Anteriormente, a votação continuaria até que um candidato recebesse 2/3 mais um voto. Aparentemente, Joseph Ratzinger alcançou uma maioria simples no início da votação e, de acordo com uma teoria, uma série de outros cardeais concordou em acrescentar o seu apoio à sua candidatura, em vez de arriscar um conclave prolongado, destacando a divisão que isso sinalizaria.

Isto possivelmente não irá acontecer no próximo conclave. Pouco depois da sua eleição, o Papa Bento XVI sabiamente mudou as regras de volta ao sistema tradicional. Assim, o seu sucessor provavelmente será alguém com um amplo apoio, em vez de alguém que vem principalmente de uma facção particular. De acordo com o número 1.024 do Código de Direito Canônico, qualquer homem batizado é elegível. Mas, desde 1378, o papa sempre foi eleito a partir do Colégio dos Cardeais.

Mesmo que o Papa Bento XVI crie um número qualquer de novos membros antes do próximo conclave, possivelmente o Colégio irá manter certas características. Primeiro, haverá um grupo significativo de homens com experiência de trabalho na Cúria Romana: ou seja, o homem que finalmente for eleito papa terá que ter o apoio desse bloco.

Em segundo lugar, aproximadamente a metade ou mais dos membros serão europeus, e uma porcentagem ainda maior terá estudado em Roma ou em algum outro lugar do Velho Continente. Assim, o candidato vitorioso, mesmo que não europeu, provavelmente terá passado por um grau de polinização europeia. E, como essa é uma eleição do Bispo de Roma, qualquer papável a sério deve ter um domínio decente da língua italiana.

Os prováveis candidatos

Cardeal Angelo Scola (nascido em 7 de novembro de 1941), arcebispo de Milão, é o atual favorito de acordo com muitos italianos. Ele é próximo de Bento XVI e tem um currículo impressionante, que inclui o cargo de reitor da Universidade Lateranense e de bispo em duas dioceses anteriores, incluindo o Patriarcado de Veneza. Ele é também um dos primeiros padres a ter sido ordenado, em 1970, exclusivamente para o serviço do Comunhão e Libertação (CL), embora seus apoiadores tentaram argumentar que a sua filiação ao movimento encerrou assim que ele se tornou bispo. Com acesso ao financiamento do CL, ele foi criador de programas universitários e culturais ambiciosos, e um restaurador de igrejas. Uma de suas maiores realizações foi a de estabelecer a Fundação Oasis, que reúne estudiosos muçulmanos e cristãos para debater sobre o futuro do mundo mediterrâneo. Mas afirma-se que ele tem adversários na Cúria Romana. E, aos 70 anos, as horas vão passando.

Cardeal Odilo Pedro Scherer (nascido em 21 de setembro de 1949), arcebispo de São Paulo, é o candidato latino-americano mais forte, mas tem um apelo que se estende para além das considerações geográficas. Ele não só lidera a maior diocese do maior país católico do mundo desde 2007, mas também tem excelentes credenciais romanas. Teuto-brasileiro, obteve uma licenciatura e um doutorado em teologia na Universidade Gregoriana e depois passou vários anos trabalhando na Congregação para os Bispos (1994-2001). Enquanto isso, trabalhou na Diocese de Toledo (Brasil) como reitor de seminário e pároco. Sendo bispo auxiliar desde 2001 e cardeal desde 2007, a Cúria Romana, os europeus e os latino-americanos poderiam encontrar nele um candidato de consenso.

Cardeal Peter Turkson (nascido em 11 de outubro de 1948), presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, é o favorito entre os africanos. Nascido em Gana de pai católico e mãe que se converteu do metodismo, ele é um dos poucos africanos de ter realizado estudos de doutoramento no Pontifício Instituto Bíblico em Roma. Completou seus estudos básicos de teologia em um seminário dirigido pelos franciscanos conventuais em Nova York e depois lecionou em um seminário em seu país natal, Gana. Foi nomeado arcebispo de Cape Coast em 1992 e cardeal em 2003. Desde que assumiu seu cargo vaticano em outubro de 2009, ele impressionou as pessoas pelos seu claro sentido pastoral, seu estilo pé-no-chão e seu gentil senso de humor.

Cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, SDB (nascido em 29 de dezembro, 1942), arcebispo de Tegucigalpa, foi descrito como um João Paulo II latino-americano por causa da sua personalidade carismática, suas habilidades linguísticas e seu trabalho na promoção do ensino social da Igreja. Hondurenho de nascimento, é atualmente presidente da Caritas Internationalis e foi "italianizado" no início de sua formação salesiana de Roma e Turim. Músico formado em conservatório, passou seus primeiros breves anos de sacerdócio na sala de aula antes de se tornar bispo na tenra idade de 35 anos. Foi criado cardeal em 2001. Manchou a sua reputação por apoiar, inicialmente, o golpe militar de 2009 em Honduras.

Cardeal Christoph Schönborn, OP (nascido em 22 de janeiro de 1945), arcebispo de Viena, é provavelmente o mais forte candidato europeu fora da Itália. Teólogo de tradição dominicana que estudou em Paris e na Alemanha, é urbano, poliglota e de linhagem nobre. Quando se tornou um jovem cardeal em 1998, foi considerado um dos mais brilhantes entre os conservadores do Colégio, mas isso foi quando existiam alguns notáveis moderados-progressistas que ainda estavam com idade de votar. Protestos de reformistas católicos na Áustria estão agora testando a resistência do veterano, e as avaliações sobre o seu desempenho ainda estão ocorrendo. Alguns acreditam que ele abriria novos caminhos se lhe fosse permitido. Mas a sua proximidade com o Papa Bento XVI e a improbabilidade de que os cardeais elejam dois papas de língua alemã consecutivamente vão contra ele.

Cardeal Leonardo Sandri (nascido em 18 de novembro de 1943) tem sido descrito como um candidato ítalo-argentino ideal, que restauraria a ordem que quase se desintegrou na Cúria Romana durante o pontificado atual. Atual prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, é um antigo diplomata papal com uma linhagem da Accademia Ecclesiastica. Como sostituto (vice-secretário de Estado) de 2000 a 2007, foi um dos homens mais poderosos do pontificado de João Paulo II. No entanto, ele não tem experiência pastoral e nunca foi bispo diocesano.

Cardeal Marc Ouellet, SSP (nascido em 8 de junho de 1944) lidera a Congregação para os Bispos desde junho de 2010. Franco-canadense, juntou-se à prestigiada sociedade de ensino sulpiciana logo depois de sua ordenação sacerdotal e passou a maior parte de sua vida como professor de seminário e reitor. Passou 10 anos na Colômbia e depois nove novamente no Canadá, antes de ir para Roma em 1997 para lecionar no Instituto João Paulo II para Matrimônio e Família. É ex-editor da Communio, a revista internacional fundada por Joseph Ratzinger e por Hans Urs von Balthasar, cuja teologia de ambos ele abraça. Depois de ter atuado brevemente como vice-presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, foi nomeado arcebispo do Quebec em 2002 e recebeu seu barrete vermelho três anos depois. Durante oito seus anos como líder espiritual de uma das sociedades mais secularizadas do mundo, o cardeal Ouellet muitas vezes causou polêmica ao falar sobre questões morais. Sua afabilidade e sinceridade ajudaram a suavizar as fissuras, mas não está claro se ele foi capaz de realizar muitas coisas em breve tempo por lá.

Cardeal Gianfranco Ravasi (nascido em 18 de outubro de 1942) tornou-se um sucesso instantâneo quando o Papa Bento XVI nomeou-o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura em 2007. Biblista de primeira linha que popularizou os estudos da Escritura através da televisão, da rádio e dos jornais populares italianos, ele liderou ambiciosamente esforços para restabelecer o lugar proeminente que a Igreja Católica e o Vaticano costumavam ocupar no mundo da alta cultura. Antes de assumir seu cargo em Roma, passou a maior parte de seu tempo como professor e diretor da altamente estimada Biblioteca Ambrosiana em sua Milão natal. Gentil e afável, considerado "moderado" eclesiologicamente, ele infelizmente não tem experiência global e multicultural. É um intelectual europeu clássico.

Entenda como será o processo de sucessão do papa

Uma vez anunciada a saída, pontífice não pode mais voltar atrás.

Processo sucessório vai começar no dia 28 de fevereiro.

Na lei canônica, há um dispositivo que prevê que um papa pode renunciar, mas precisa fazê-lo por sua livre vontade, e não é necessário que sua renúncia seja aceita por ninguém.

A renúncia de um papa está prevista no Código de Direito Canônico, no artigo 332.2, que estabelece que para ser válida é necessário que seja de livre e espontânea vontade e que não precisa ser aceita por ninguém. Segundo o código, uma vez tendo renunciado, o papa não pode mais voltar atrás.

A Sé Vacante, ou seja, o tempo que transcorre de quando um papa morre ou renuncia - como anunciou nesta segunda-feira Bento XVI - até que se eleja o sucessor, começará em 28 de fevereiro às 20 horas de Roma (17h de Brasília), segundo anunciou o próprio pontífice em sua carta de renúncia.

O último pontífice a renunciar por vontade própria foi Celestino V, em 1294, após apenas cinco meses de pontificado. Gregório XII abdicou a contragosto em 1415 para encerrar uma disputa com um candidato rival à Santa Sé. Outros registros de papas que renunciaram são de Ponciano, em 235; Silvério, em 537; João XVIII, em 1009; e Bento IX, em 1045.
Após a saída ou morte do papa, os assuntos da igreja fica sob a responsabilidade do Cardeal Decano, ou Camerlengo. É ele quem convoca o conclave, que significa “local para reuniões secretas”, reúne todos os 120 cardeais da Igreja Católica no Vaticano. Eles ficam isolados em celas particulares e se reúnem na Capela Sistina duas vezes por dia para votar, durante nove dias, nove dias, ou pelo tempo que for necessário.
O papa Bento XVI durante a bênção dominical no Vaticano (Foto: AP)
O papa Bento XVI no Vaticano (Foto: AP)
O voto é secreto. A votação é feita em papel. Para que um papa seja eleito o candidato deverá ter a maioria dos votos, ou seja, metade mais um. Depois de cada sessão, os papéis da votação são queimados. Se não houver uma definição, uma substância química é adicionada aos papéis para produzir uma fumaça escura, que sai pela chaminé do telhado do Palácio do Vaticano. Se houver uma definição, a fumaça é branca. O novo pontífice é anunciado para a multidão com a frase em latim “Habemus papam”.

Papa renuncia; diz não ter mais forças para o ministério




ROMA, Reuters) - O Papa Bento XVI disse nesta segunda-feira que irá renunciar como líder da Igreja Católica em 28 de fevereiro porque não tem mais as forças necessárias para realizar os deveres de seu ofício, tornando-se o primeiro pontífice desde a Idade Média a tomar decisão deste tipo.

O papa, de 85 anos, disse que havia percebido que sua força havia se deteriorado nos últimos meses "ao ponto que eu tenho que conhecer minha incapacidade de realizar adequadamente o ministério que foi confiado a mim."

"Por esta razão e consciente da seriedade deste ato, em completa liberdade, eu declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro", disse o papa, de acordo com um comunicado do Vaticano.

O porta-voz do Vaticano disse que o pontífice irá renunciar às 16h (horário de Brasília) do dia 28 de fevereiro, deixando o posto vazio até que um sucessor seja escolhido.
(Reportagem de Steve Scherer)

Grécia e o futuro da Europa!

E se Grécia, e talvez Europa, estivessem falidos não só economicamente como moralmente, culturalmente e politicamente?

No verão de 1919, Constantino Cavafi encontrou-se com E.M. Forster em Alexandria. Cavafi comparou os gregos com os ingleses. Os dois povos são semelhantes, sagazes, cheios de iniciativa, aventureiros. ‘Mas há uma lamentável diferença. Nós, gregos, estamos falidos. Reze, meu caro Forster, oh reze para nunca perder seu capital.”

Giorgio Agamben, em comentário sobre a misteriosa fala de Cavafi, escreve: “A única certeza é que desde então [1918], todos os povos europeus e talvez o mundo todo tenha falido. A falência grega foi declarada em 2010, embora de ‘maneira ordenada’ e somente de forma temporária. O default temporário é como uma morte temporária. Ela dura para sempre.”

Mas e se a Grécia, e talvez a Europa, estivessem falidos não só economicamente como moralmente, culturalmente e politicamente? Qual é o ganho se os gregos pagarem a dívida, ficarem com o euro e perderem suas almas? A falência política e moral assombra não só os gregos, mas também toda a Europa. A Grécia é o futuro da Europa. E como se sabe sobre o futuro, o melhor e o pior andam lado a lado. Deixe-me começar pelo pior.

Os efeitos acumulados de três séries de medidas de austeridade distintas são desconcertantes. O primeiro memorando impôs até 50% de cortes em salários e aposentadorias de servidores públicos e uma perda estimada de 150 mil postos de trabalho até 2015. O segundo alcançou o setor privado e cortou o salário mínimo em até 32%, aboliu os dissídios coletivos e várias outras proteções trabalhistas de longa data.

Essas medidas são acompanhadas de um aumento em impostos diretos e indiretos, tarifas de transporte público e pedágios, e da imposição de um imposto sobre a propriedade coletado pela conta de luz. Os bens e utilidades públicas restantes, incluindo portos, aeroportos e até ilhas serão privatizados por barganhas. A Acrópole será a próxima.

A economia encolheu -24% em cinco anos, o pior resultado em qualquer lugar do mundo em tempos de paz. Em 2012, o desemprego está em 25% e o desemprego entre jovens em 55%. É o assassinato de toda uma geração, ou um gera-cídio para cunhar um novo termo. A austeridade levou a uma crise humanitária em curso com sem-tetos, doenças mentais e suicídios em níveis sem precedentes. Hospitais não podem funcionar por falta de medicamentos, escolas não têm materiais ou combustível para os aquecedores, os sopões se proliferaram, dois milhões estão vivendo abaixo da linha da pobreza.

Como chegamos a esse ponto depois de tantas reuniões de cúpula e análises de especialistas? Não é preciso muita sabedoria para explicar esse fracasso abjeto. Cortes nos gastos públicos e aumentos de impostos em período de depressão profunda diminuem a demanda, aumentam o desemprego e cortam o crescimento. As receitas de impostos encolhem, gastos com desemprego e outros benefícios aumentam.

O déficit aumenta, os objetivos fiscais não são alcançados, levando a mais austeridade para tapar o buraco. É um círculo vicioso ditado pela idolatria tóxica ao princípios econômicos dominantes. Se os funcionários do FMI fossem calouros em economia, teriam reprovado. Lamentavelmente, seus ditos fazem milhões fracassarem em suas vidas.

Mas o fracasso e a responsabilidade das elites gregas são ainda maiores. Os políticos, banqueiros e barões da mídia que puseram o país de joelhos por 40 anos agora percebem que seu capitalismo clientelista e corrupto está chegando a um fim. Eles farão tudo ao seu alcance para postergar seu fim inevitável. A Grécia é um case de decadência moral e colapso político de um sistema de poder.

Existem provas consideráveis de que o governo grego “remediou” os dados macroeconômicos em 2001 para o país entrar no euro. Os empréstimos em espiral e a dívida crescente foram então usados pelas elites dominantes para lubrificar as engrenagens do clientelismo e da tutelagem. O governo de Papandreou fez crescer o díficit de 3% para 15,4%, desencadeando a intervenção europeia. Para piorar, cada pacote de medidas adotado aumentou a dívida.

A dívida grega era de 120% do PIB em 2009. Será de 190% no ano que vem, depois das dores de uma dúzia de anos chegará a 125% em 2021, ainda acima da posição de 2009. As medidas de austeridade são multiplicadoras da dívida, que continua aumentando e entrando em metástase como um tumo maligno. A sociedade grega está demoronando diante de nossos olhos e a única resposta é mais empréstimos para pagar empréstimos anteriores, que aumento o empréstimo total. É pegar dinheiro do Visa para pagar o Mastercard.

Chamei a combinação de neocolonialismo europeu com a obediência servil da elite grega de “desejo da dívida”: como um “duplo genitivo”, o “desejo da dívida” levanta duas perguntas. Quem desejou a dívida e o que a dívida deseja? A única explicação consistente é que as elites desejaram a dívida, primeiro por empréstimos e gastos enlouquecidos e depois por aumentos deliberados em seus cálculos. O que a dívida deseja? Como a Grécia é devedora, os gregos devem destruir o passado e adotar novos valores radicais em termos de economia, cultura e moral. A dívida má obrigará ao retorno ao caminho da virtude. Como o pharmakon de Platão, a dívida é o veneno e a cura, a maldição e a bênção, a razão da paixão e da ressurreição.

A austeridade procura uma reestruturação da vida no atacado em um capitalismo em crise crônica. Práticas trabalhistas estão cada vez mais próximas das chinesas. O ethos social do povo, os resquícios de amizade, solidariedade e hospitalidade que o período de modernização do capitalismo ainda deixaram em pé, está com os dias contados. Cinismo e niilismo tornaram-se a moralidade dominante. A austeridade testada na Grécia é exportada para Portugal, Irlanda, Espanha, Itália e Reino Unido. Um retorno ao capitalismo vitoriano posto em seu lugar por um Estado autoritário nos espera. A Grécia pode vir a ser o futuro da Europa.

Agora, para as boas notícias. A contracapa da edição grega de um livro que publiquei em dezembro passado diz: “A Europa usou a Grécia como cobaia para testar as condições de reestruturação do capitalismo tardio em crise. O que as elites europeias e gregas não esperavam é que a cobaia ocuparia o laboratório, expulsaria os cientistas cegos e começariam um novo experimento: sua própria transformação de um objeto político para um sujeito político. O significado e os limites da democracia estão sendo renegociados no lugar em que ela nasceu.”

Amigos me disseram que eu fui excessivamente otimista ou, pior ainda, que eu havia perdido a noção da realidade. O movimento de contestação estava calado, a usual melancolia da Esquerda havia retornado.

Onde baseei meu otimismo? A resistência contra a austeridade cresceu durante 2010 e 2011. Mais de 25 greves gerais de um dia, ocupações de ministérios, o não pagamento de impostos sobre propriedades, dos aumentos de tarifa de transporte e de pedágio e vários tipos de desobediência civil. Não aconteceu qualquer grande mudança na política de governo. Em maio de 2011, a resistência parecia ter perdido a força, a melancolia usual da esquerda voltara. Isso mudou no dia 25 de maio com uma ocupação espontânea da Praça Syntagma no centro de Atenas, e em outras 60 cidades por um grupo de pessoas autointituladas aganaktismenoi (indignadas) em uma homenagem aos indignados espanhóis. Vieram pessoas de todas as ideologias e de nenhuma, velhos e jovens, desempregados e classe média, gregos e estrangeiros.

A ocupação rejeitou a lógica da representação, da ideologia partidária, ou liderança política e se abriu para grande fatias da população que não eram politicamente ativas ou votavam pelos partidos estabelecidos. As ocupações duraram três meses. Como resultado, em partes, da ocupação, o governo Papandreou renunciou duas vezes, em junho e finalmente em novembro. Foi um lembrete de que os governos ocidentais podem cair quando abandonam os princípios básicos de democracia, decência e independência.

Eu discursei na Syntagma em junho passado; os felizardos que tiveram seus números sorteados estavam nervosos e ansiosos. Um homem em particular estava tremendo, com sintomas evidentes de medo de falar em público, logo antes de subir no palco. Em seguida ele deu uma bela palestra com frases e parágrafos construídos com perfeição, apresentando um completo e persuasivo plano para o futuro do movimento. “Como você conseguiu?”, perguntei a ele mais tarde, “Achei que você fosse desmaiar.” “Quando comecei a falar”, ele me disse, já mais relaxado, “eu estava dizendo as palavras mas alguma outra pessoa estava discursando. Um estranho dentro de mim me ditava o que dizer.” Essa transubstanciação, o estranho em mim, é o nome da des- e res- subjetivação, a remoção das pessoas da economia do desejo-consumo-frustração do capitalismo biopolítico e sua regeneração política e moral.

Na ocupação da Syntagma e em outras ocupações eu recordei dos assustadores e emocionantes dias de 1973. As ocupações na Escola de Direito e na Politécnica de Atenas deram início ao processo de decadência da ditadura militar. Os estudantes marcharam altivos pelas ruas, com pesados volumes acadêmicos nas mãos, emblemas de identidade e orgulho. Em 2011, em meio à catástrofe que atingiu a Grécia, as pessoas voltaram a sorrir para estranhos nas praças e ruas, com um brilho momentâneo no olhar tão diferente do vazio prevalecente na Grécia hoje.

Meu otimismo se confirmou com os resultados impressionantes da Syriza, o partida da Esquerda radical, nas eleições de 2012. Havia um link entre a resistência e o resultado das eleições? Afinal, os velhos partidos ainda estão no poder, mas são como mortos-vivos ou zumbis. Deixem-me explicar. A resistência deu cabo de das divisões pós-guerra civil entre uma Direita vitoriosa e uma Esquerda derrotada. Pessoas de campos ideológicos e trajetórias históricas opostas se encontravam no mesmo lugar. Um desempregado esquerdista sofre o mesmo tanto que um direitista; interesses comuns de classe tornaram-se mais importantes que desavenças antigas. Depois da Syntagma, o sistema de poder alcançou seu fim. Faltava apenas um empurrão final. Nos dias 6 de maio e 17 de junho, as multidões das praças se tornaram um povo e votaram massivamente na Esquerda. A democracia direta encontrou seu companheiro parlamentar.

Por que a Syriza, e não outro partido antiausteridade qualquer? Membros do partido se juntaram à resistência sem ambições hegemônicas. A Syriza não tentou liderar ou usar as praças para recrutar. Em segundo lugar, a Syriza adotou internamente a ideologia do pluralismo e da democracia direta bem antes da crise. O partido é uma coalizão de doze partidos e grupos, com raízes no eurocomunismo ecológico, no pós-Marxismo, na democracia radical e no pós-anarquismo. Tendências e facções são aceitas. É um “novo tipo” de partido que abandonou as características originais do partido Leninista e está mais próximo do ethos da multidão e da organização das ocupações. As praças adotaram a Syriza como sua escolha óbvia. Uma estratégia de duas mãos se desenvolveu: mobilização social e presença parlamentar, democracia direta e representativa, dentro e contra o Estado. O encontro entre as ocupações e a esquerda radical foi um acaso; foi preparado pela “astúcia da história”.

Para usar uma expressão que colocará um sorriso tanto no rosto do Marxista como no do cínico, o fim de um sistema de poder é uma necessidade histórica. Através da história, revoluções se sucederam quando um sistema de poder se tornou obsoleto e nocivo. É esse o caso da Grécia. A necessidade histórica não é o suficiente. São necessários três elementos. Um forte desejo popular, um agente político preparado para tomar o poder e, finalmente, um catalisador que combinem os outros elementos em um todo combustível. Todos os três elementos convergiram a Grécia, o desejo popular na resistência, a Syriza como o agente político e a austeridade como o catalisador que levará ao primeiro governo de esquerda radical na Europa. A esquerda está preparada, mas como pode ter sucesso?

A estratégia da esquerda deve mitigar os efeitos catastróficos da austeridade enquanto, ao mesmo tempo, refaz o tecido social. Um fim à corrupção e ao clientelismo, a coleta de impostos e a punição por não pagamento de impostos são ações essenciais. Mas tal governo não pode e não deve depender em um retorno gradual à normalidade. Ele vai encarar uma União Europeia hostil; o tempo político será comprimido. Medidas paliativas ou tentativas limitadas de reverter a austeridade não serão suficientes. A esquerda será obrigada a encaminhar uma ordem social democrática, algo que não foi conquistado antes e que não tem projeto ou experiência prévia. A experiência, a energia e a memória da resistência e das ocupações são as melhores esperanças de sucesso.

Quais são as lições das praças? Primeiro, a redescoberta dos princípios do que é público, colaborativo e igualitário. Lugar, tempo e intensidade foram pontos centrais. Lugar: a localização em uma praça do lado oposto ao Parlamento criou um novo espaço fluido de poder político. Tempo: o tempo linear de trabalho se tornou o tempo teleológico da práxis. Finalmente, a intensidade da proximidade corporal e emocional, criada por um desejo político comum, teve as características de um poder constituído.

A composição social do capitalismo pós-fordista significa que a era dos líderes, partidos centralizados e sindicatos, de sujeitos políticos sólidos e conscientes aguardando representação, está com os dias contados. Cooperação e networking, solidariedade e organização horizontal, compartilhamento de conhecimentos e técnicas são os princípios guiadores. As praças transferiram esses princípios do trabalho para a política, revertendo  hierarquia e a disciplina do gerenciamento autocrático capitalista. A esquerda deveria adotar e espalhar o espírito das ocupações através de acampamentos virtuais e encontros locais, assembleias nos bairros, subúrbios e cidades, redes de solidariedade e eventos culturais. Os princípios transitórios das ocupações deveriam se tornar uma ferramenta política permanente. O ethos social do trabalho horizontal deveria ser institucionalizado e disseminado, mantendo a cidadania das praças sempre ativa.

“Nós somos as praças, nós estamos em todos os lugares”, deveria ser o princípio que estendesse essas ideias para todas as áreas da vida econômica, social e cultural. Iniciativas de baixo, democracia direta, colaboração física e virtual, juntaria pessoas e técnicas para reviver o senso ausente de comunidade. Empreitadas economicamente lucrativas e socialmente úteis seriam baseadas nesses princípios.

Trabalhadores de indústrias falidas, por exemplo, poderiam assumir a direção do negócio e tocá-lo como uma cooperativa. Um banco especial, custeado por uma coleta solidária e impostos dos ricos, financiaria projetos de colaboração e networking. “Universidades das praças” disseminariam visões alternativas que enfrentem a objetividade dos especialistas. Métodos de democracia direta poderiam ser introduzidos no governo local e, eventualmente, central.

Debates públicos e votação de orçamentos municipais e de todos os problemas locais seriam um bom começo. Eventos artísticos e literários, públicos e gratuitos, marcariam uma cultura política alternativa. A política deveria ser repolitizada e o ethos coletivo deveria ser introduzido em todos os aspectos da vida pública. A Grécia precisa de um renascimento cultural e moral. Aprofundar a democracia e fazendo-a moldar todas as formas de atividade e de vida é a principal lição das praças.

A esquerda grega tem uma grande vantagem moral baseada, em partes, em seu passado limpo mas, especialmente, em seu comprometimento com valores universais. Toda proposta de lei devem ser pensados de acordo com os princípios de igualdade e justiça social. Somente uma combinação da política com uma intenção radical de mobilização social pode ter sucesso.

A tarefa da esquerda grega é desenvolver a “ideia de comunismo” para uma era de crise capitalista . É uma pedida alta para um país pequeno. Ele só pode ter sucesso se os movimentos europeus aprenderem com a experiência grega e seguirem estratégias similares. Neste caso, a resistência grega se tornará o futuro da Europa.

*Costas Douzinas iniciou seus estudos acadêmicos em Atenas durante a ditadura grega e se juntou à resistência estudantil. Deixou a Grécia em 1974 para estudar no Reino Unido. É doutor em Direito pela London School of Economics e diretor do Birkbeck Institute for Humanities, em Londres. Escreveu O Fim dos Direitos Humanos (Ed. Unisinos) e The Idea of Communism, em parceria com Slavoj Zizek. Seu próximo livro, Philosophy and Resistance in the Crisis, será publicado em 2013 pela Polity Press.